Inspiração

Conhecer o Everest é o sonho de muitos aventureiros. É impossível não se encantar com a grandiosidade da natureza e com a riqueza cultural que toda a cadeia de montanhas do Himalaia reserva. Não é à toa que a região é um destino muito buscado por exploradores do mundo inteiro. Engana-se quem pensa que uma aventura ao Everest é válida apenas se o objetivo for alcançar o cume. Os trekkings até o Acampamento Base também reservam experiências incríveis, muito esforço, suor, emoção e recompensas que nenhum dinheiro é capaz de comprar.

Os paulistas Emilio L’Abbate e Roberta Fassina são um casal de aventureiros comum, que divide a paixão por viagens e o desejo por adrenalina com a rotina de trabalho na cidade. Eles já conheceram mais de 35 países, visitaram as 7 maravilhas do mundo moderno, além de muitos outros destinos exóticos e icônicos. Recentemente os dois fizeram o trekking ao Acampamento Base do Everest e, mesmo com tanta bagagem, eles garantem que é impossível não se apaixonar e se emocionar com a imensidão que cerca a montanha mais famosa do mundo.

Depois de acompanharmos boa parte da viagem deles através do Instagram, nós resolvemos saber mais detalhes, entender como foi a escolha do destino, a preparação e o que eles sentiram ao visitar o Everest.

Antes da história, vale lembrar que o Base Camp do Everest está a pouco mais de 5 mil metros de altitude e recebe mais de 30 mil turistas todos os anos.

A Roberta e o Emilio contaram todos os detalhes desta experiência pra gente e ainda deram dicas 😉

Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina
Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina

The North Face: Vocês parecem estar em um projeto longo de viagem pelos mais diversos lugares do planeta. Pode nos falar um pouquinho sobre isso?

Roberta Fassina: Desde 2011, quando começamos a viajar juntos, decidimos conhecer lugares exóticos ou que possam deixar de existir em breve (naturalmente ou pela ação do homem). Começamos com as 7 maravilhas do mundo moderno (Pirâmides do Egito, Muralha da China, Petra, Coliseu, Chichen Itza, Machu Picchu, Taj Mahal e Cristo Redentor), adicionamos algumas maravilhas naturais (Cataratas do Iguaçu, Monte Everest, Grande Barreira de Corais, Aurora Boreal, etc) e outros ícones importantes como Stonehenge, Torre de Pisa, Basílica de Santa Sofia etc. Temos seguido, desde então, uma média de 4 países por ano. A ideia é conhecer o máximo de lugares possível e segurar a vontade de repetir (claro que temos vontade de ir todos anos para NY e Paris, mas…rs).

TNF: O que levou vocês a incluírem o Everest no roteiro?

Roberta: Gostamos muito de aventura e natureza. Sempre fui muito moleca e faço de tudo um pouco, snowboard, wakeboard, mergulho, bungy jump, skydive e por aí vai. Após assistirmos a alguns documentários, o Everest começou a nos intrigar, pois reúne um pouco de tudo. É um sonho de consumo dos aventureiros e tem uma relação muito forte com superação. Eu sempre busco fazer coisas que me desafiam ou que tenho medo. Começamos a pensar em quantas pessoas conhecidas já tinham feito esse roteiro, mas nenhuma veio à cabeça, mais um motivo para escolhê-lo.

Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina
Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina

TNF: Qual foi o planejamento e o preparo para este destino em específico?

Roberta: É meio louco falar, mas a ideia inicial era ir para a Antártida, mas as datas restritas e o preço salgado inviabilizaram a viagem. Optamos pelo trekking para o Base Camp pois não é uma viagem cara, ao contrário do que as pessoas pensam. Como a decisão foi em cima da hora (1 mês antes da viagem), não fizemos um preparo específico ou tão dedicado. Comecei a treinar um pouco mais forte escada na academia e fazer caminhadas com a esteira bem inclinada. Mas, nada além do que já estávamos acostumados no dia a dia de academia.

TNF: Como foi a sensação de estar em uma das montanhas mais famosas e importantes do mundo?

Roberta: Foi uma emoção sem tamanho! Normalmente me emociono muito quando estou em lugares ou situações das quais sei que sou privilegiada de estar vivenciando. Das poucas vezes que o Everest apareceu (lembre-se que estamos nas nuvens), eu me emocionei de verdade (chorei mesmo) pela energia do lugar e por ter saúde e condições de estar lá. Sou muito grata por todos os caminhos que percorri até hoje! Ah, não posso deixar de lembrar que o Everest não está sozinho lá. Ao seu lado ficam 8 das 10 maiores montanhas do mundo, todas se admirando.

Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina
Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina

TNF: Qual foi a parte mais legal do Everest?

Roberta: A experiência como um todo foi incrível, estar muito perto da natureza, sair da realidade que vivemos, conviver com pessoas de todas as partes do mundo, também apaixonados por natureza e aventura, dão à viagem uma energia única. Mas, nada se iguala ao sentimento de superação! Achávamos que seria impossível passar todos aqueles dias andando, ou melhor, subindo diversas horas todos os dias, até chegar ao destino final, o famoso Base Camp. Estávamos apreensivos, pois as informações na internet não são detalhadas, há diversos relatos de pessoas que não alcançam o acampamento por causa da altitude, e, para piorar, fomos informados que para subir é obrigatório ter um seguro especial que deve incluir resgate com helicóptero. Ou seja, sair do Brasil já foi um desafio e eu tinha muito medo de sentir alguma coisa e não conseguir o topo. Mas, a ótima notícia é que todos os mitos e incertezas foram desaparecendo: não tomamos remédios, não sentimos incômodo, nos alimentamos muito bem e nos sentimos seguros e dispostos durante todo o percurso.

TNF: Qual foi a maior dificuldade?

Roberta: Como dissemos, gostamos de aventura, e é claro que não fizemos o roteiro clássico Everest Base Camp (14 dias). Optamos pelo misterioso Three Passes, que é um roteiro de 3 semanas, onde além de visitar o campo base, teríamos que cruzar três montanhas em altíssima altitude (o chamado “pass”). Todos os roteiros têm início na pequena Lukla (cidade portal dos Himalaias, onde tudo começa), e passam por Namche Bazar (a maior cidade da região, repleta de hotéis, restaurantes, lojas etc). A partir daí, nosso roteiro divergiu do clássico, onde atravessamos a primeira montanha, a 5.600 m de altitude. A subida é super íngreme e com pedras soltas. Foram 10 horas de caminhada constante e o dia mais difícil da viagem, não apenas pela subida, mas por ser uma trilha muito perigosa (pouco mais de 5% dos turistas fazem este roteiro). Não bastasse a subida, tivemos uma descida com direito a mais pedras soltas, ventos fortes e chuva. O desafio não acabou ai, para chegarmos à cidade destino precisávamos atravessar o Galcial Khumbu (o Glacial mais alto do mundo) e esta foi a parte mais desafiadora. O Glacial é vivo e constantemente muda sua forma. Fomos o primeiro grupo do ano a fazer este roteiro, então, não tínhamos um caminho certo a ser seguido. Nosso guia precisou da ajuda de 2 sherpas que haviam seguido uma rota alternativa para acharem o caminho. Foi um momento muito tenso/difícil para mim, pois estávamos tão perto e ao mesmo tempo tão longe do nosso destino (paredes de gelo e pedras soltas com mais de 30 metros). Escutar o som da geleira derretendo e quebrando logo abaixo dos seus pés é uma sensação assustadora.

Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina
Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina

TNF: Quais dicas você daria a alguém que também quer realizar esta trip?

Roberta: Recomendamos a viagem a TODOS (crianças, adultos e os mais vividos também)! Não se preocupem com comida, água, hotéis, com o frio, com o calor. A trilha está repleta de opções e o roteiro clássico é feito para todos conseguirem chegar à próxima cidade-destino com tranquilidade. Paradas para banheiro, hidratação, descanso, chás, almoço, comprinhas etc são constantes. Cada grupo pode ir no seu ritmo, pois o destino do dia é sempre o mesmo. Demorar 5h, 6h ou 7h horas não muda nada.

Mas, vão aqui dicas práticas: Viaje leve! Carregue somente o necessário (câmera fotográfica, protetor, celular – sim, tem praticamente 3G o caminho todo e wi-fi em todos hotéis, água e comidinhas). A mala mais pesada estará com os sherpas, que chegarão ao destino horas antes de você J. O segredo é BEBER água. Isso mesmo. Beba muita água, o tempo todo (homens 5 litros, mulheres 4 litros – no mínimo). A altitude, por alguma razão, tira a sede e a não hidratação inicia a maioria dos problemas relacionados a altitude. Ou seja, bebeu MUITA água, o resto será só alegria.

Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina
Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina

TNF: Qual equipamento/roupa fez mais diferença nesta aventura e que não pode faltar de forma alguma na mochila de um explorador?

Roberta: Viajar leve é o segredo. Por isso, recomendamos roupas tecnológicas (elas são leves, ajudam a transpirar e esquentam bem quando precisa). Aqui a The North Face fez muita diferença, pois tínhamos as 4 estações do ano quase todos os dias (Thermoballs e DryVents são “must haves”, fiz o meu “enxoval” de viagem praticamente todo na North Face)

Levar um powerbank para o celular ajuda muito (os equipamentos eletrônicos podem ser recarregados nas recepções dos hotéis – com um custo aproximado de quase 5 USD). Câmeras fotográficas, protetor solar, barrinhas, porções de nuts são ultra recomendadas também.

Ah, não podemos esquecer de botas. Não economizar aqui também é diferencial. Botas para trilhas, confortáveis, à prova de água e que deixem seus pés respirarem são importantíssimas após vários dias de trilha. Pode comprar sem medo, pois duram por anos e o investimento será válido.

Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina
Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina

TNF: Teve algum momento que te marcou muito nesta viagem?

Roberta: Aqui, o caminho vale mais que o destino final. Cruzamos todas as horas com locais ao longo do caminho e a maneira que eles vivem me impactou grandemente. Tudo que existe lá em cima, foi carregado nas costas de alguém (portas, vigas, geladeira etc). Ficávamos emocionados todas as vezes que passávamos por algum carregador (sherpa) que carregava uma geladeira, um sofá, cadeiras e qualquer coisa nas costas, montanha acima. Após horas de caminhada, as nossas mochilas com 5kg ficavam mais e mais pesadas, mas cruzar com os sherpas nos davam energia e vontade de vencer também, pois não estávamos carregando nada perto do que eles fazem para viver.

Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina
Foto: Arquivo Pessoal/Roberta Fassina

TNF: Quais são os seus próximos projetos/destinos?

O nosso próximo destino é a Antártida, lugar onde pouquíssimas pessoas visitaram e com uma paisagem que talvez não exista mais (da forma como é hoje) em alguns anos devido ao aquecimento global.