Inspiração

O Brasil não tem montanhas de altitude, mas, existem muitos brasileiros se aventurando em alta montanha por esse mundão. Nesta quinta-feira, o empresário carioca Bernardo Fonseca embarcou em um voo para o Nepal, para participar da primeira expedição brasileira em busca do cume da montanha Manaslu.

Localizada na cadeia do Himalaia, esse é um pico que está localizado a mais de 8.000 metros de altitude e é a oitava montanha mais alta do mundo. A missão é difícil, mas o grupo de brasileiros estão com uma equipe muito experiente, que inclui os guias Maximo Kausch e Pedro Hauck.

O Bernardo Fonseca decidiu compartilhar os detalhes dessa expedição com a gente em uma série de textos. No primeiro, ele conta como foi a preparação, quais equipamentos levou e o que está esperando nessa aventura.

Confira o relato dele na íntegra:

Minha história

Hoje, com 40 anos, sou pai do João Paulo de 9 anos e da Maria Eduarda de 8. Tenho um dia a dia bem comum. Sou um empresário, workaholic total! Adoro o meu trabalho e sou extremamente participativo. Hoje sou CEO da X3m sports business, uma agência de marketing esportivo que executa mais de 60 projetos por ano no Brasil.

Sempre tive uma cabeça muito forte, o que me fez encarar muitos desafios! Também sou muito ativo no esporte, já fiz de tudo. Corro bastante, fiz diversas ultramaratonas, salto de paraquedas, pedalo, jogo vôlei de praia, faço Crossfit, escalo e nos últimos tempos, posso dizer que subo montanhas altas!

O preparo para a alta montanha

Meus 40 anos de esporte extremo me cobraram um preço alto. Nos últimos 12 meses operei uma hérnia ignal. Ela me obrigou a ficar de molho por 3 meses. Logo na sequência, operei meu joelho esquerdo, ele estava destruído. Ligamento cruzado anterior, sinovite, menisco, tive o que fazer o famoso toilet articular. Por causa dessa operação, eu ainda estou no processo de recuperação, fazendo fisioterapia 2 vezes por semana, com meu amigo Rafael Jacob. Em adicional a essa manutenção toda, sempre encontro tempo para manter um volume de treinos razoáveis. Nada comparado aos treinos de ultraironmans, xterras ou qualquer outra prova de alta performance. Fui aprendendo que preparado físico ajuda, mas não é nem de longe o que define se você chegará ao cume da sua montanha.

Foto: Bernardo Fonseca/Arquivo Pessoal

Aprendi na prática que existem 3 pilares que parecem muito simples, mas quando colocados nas condições extremas das montanhas, se tornam bem complexos: beber, comer e dormir. Simples assim!

Aclimatação é tudo! Eu quase morri no Kilimanjaro, minha primeira montanha. De forma resumida, subi muito rápido, bebi pouco, o que me gerou falta de apetite, e a altura não me deixava dormir, ou seja, quase empacotei. Cheguei a ter alucinação, tonturas, estava já no estágio complicado do mal da montanha que leva a embolia pulmonar entre outras coisas que matam muita gente nas alturas.

Em função do trabalho, eu já estou enfrentando um outro desafio antes mesmo de chegar no Nepal. Minhas datas não batiam com o resto da expedição. Eu precisava buscar uma forma de encontrar o meu grupo, que já está no caminho há 10 dias, um pouco mais à frente. Eu sei que essa é a receita perfeita para dar errado: não aclimatar corretamente é o erro clássico. Para uma montanha acima de 8.000, isso é mais que vital! Não é brincadeira, morre muita gente por isso.

Em busca desta aclimatação, decidi fazer uma temporada de escalada no Peru um pouco antes. Nosso corpo costuma manter a aclimatação adquirida por umas duas semanas. Logicamente isso depende de cada um, mas estou na torcida para que o meu seja assim. Veremos!

Fiquei 25 dias escalando montanhas de 6.000m. Ishinca, Urus, Quitaraju e Huascaran, todas lindas! A Quitaraju em especial foi mega técnica, escalada em gelo bem vertical. Já a Huascaran, minha última montanha, tinha o objetivo de só dormir nas alturas para o meu corpo se acostumar à altitude.

Foto: Bernardo Fonseca/Arquivo Pessoal

Rumo a Manaslu

Voltei para o Brasil para produzir um evento, foram duas semanas mega intensas no trabalho e agora estou dentro do avião indo pra Dubai, depois na sequência voo para Katmandu, coração das expedições no Nepal.

Vai ser bem complexo. Chegando em Katmandu pegarei um helicóptero e encontrarei a minha turma em Sama, base do Manaslu. Eles já estão há 10 dias caminhando e se aclimatando. Eu estou tenso com isso, porque não tenho certeza de como será a reação do meu corpo ao encontrar com eles já acima de 5000m.

Terei pela frente cerca de 25 dias gelados, uma logística complexa, perigosas avalanches, mas visuais magníficos, que espero abastecerem ainda mais minha cabeça e meu corpo para ir em busca deste cume.

Estou doido para encontrar a turma. O Maximo Kausch é o líder da minha expedição. Ele é muito experiente e deixo minha vida nas mãos dele.

Foto: Bernardo Fonseca/Arquivo Pessoal

Os equipas

É sempre um grande desafio estar equipamento corretamente. Costumo dizer que não existe passar frio, mas sim estar mal vestido. O contrário também acontece. Afinal, roupa demais, faz você suar e desidratar.

Para uma montanha de 8.000m, os pequenos detalhes fazem a diferença que podem salvar sua vida. Quando vou separar minhas roupas e acessórios, agrupo por setor.

Pés: meias, botas, overboot, crampons, e por aí vai, depende da altitude que estarei.

Mãos: são cerca de 8 pares de luvas diferentes para usos específicos!

Roupas: sou bem básico. Nas pernas eu uso um baselayer que esquenta e absorve o suor, de preferência com a tecnologia FlashDry, e mais uma camada leve, pois não sinto muito frio. Para a parte superior aprendi que algodão não deve ser usado nunca. Mesmo que esteja por baixo de um casaco de plumas ou um corta ventos parrudo. Na parte superior, então, após o baselayer, eu uso um casaco que realmente me esquenta pra valer, gosto de um modelo que foi desenvolvido para quem trabalha com resgates, pilotos de helicóptero etc. se chama pro project, são plumas com 900 fill down. Após isso, até uns 7.000 metros, eu coloco por cima um cortar o vento. São 3 camadas que quando estou em movimento, gerencio perfeitamente ali na casa dos -20ºC. Quando a altitude aumenta, as coisas mudam um pouco. Então, eu tiro o pro shell e aí não tem jeito, tem que colocar o hymalain suit, uma espécie de macacão feito e pensado para salvar vidas em condições extremas. Não tem como fazer uma montanha de 8.000 sem um desses.

Cabeça: essa é uma área super importante, por isso levo uns 3 gorros diferentes.  Lembrando que por cima disso ainda vem capacete, lanterna, go pro etc.

Detalhe importante é que na mochila vão somente os itens de emergência. Não dá para carregar muita coisa. Uso os bolsos dos casacos para colocar a comida e na mochila vão somente itens reservas, como óculos, rastreador, gorro, luvas, remédios e hidratação extra.

Se você quiser acompanhar toda a minha expedição em tempo real, clique aqui.

 


Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.