Inspiração

O esporte tem um poder enorme para transformar sociedades, unir pessoas e quebrar as mais diversas barreiras. É justamente isso que o We Rock, um projeto esportivo inclusivo está fazendo em Florianópolis (SC). A iniciativa, organizada pela escaladora e psicóloga, Ruthie Gomes, tem permitido que pessoas com deficiência possam praticar a escalada e sentir realmente na pele todos os benefícios e emoções que este esporte proporciona.

A inspiração para o projeto veio de suas próprias experiências pessoais e da necessidade em poder aproveitar a escalada também com os amigos com necessidades especiais. “O We Rock surgiu no início desse ano, e seu surgimento tem muito a ver com as minhas experiências de vida. A primeira delas por ser Psicóloga, escaladora, e trabalhar na área de Direitos Humanos e políticas públicas para pessoas com deficiência. Estas experiências me permitem ter um olhar mais sensível sobre as barreiras sociais que impedem a participação destas pessoas em nossa sociedade e me fazem ter o compromisso ético de oferecer possibilidades de superá-las. A segunda delas é por ter diversos amigos com deficiência que me pedem com frequência para escalar e eu nunca pude levá-los por não ter capacitação e os equipamentos necessários para isso”, explicou Ruthie.

Foto: Divulgação
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O projeto começou em Floripa em um modelo inspirado numa ação já existente nos EUA, o Paradox que, inclusive, tem apoio da The North Face local. Aqui no Brasil, a iniciativa conta com o apoio da academia de escalada By Wall, que disponibiliza o ginásio para os treinos e eventos, e também pela Marumby Montanhismo. Apesar de ter começado localmente, a expectativa é de que ele seja replicado em todo o país.

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Através de iniciativas como o We Rock, a escalada pode se tornar acessível a todas as pessoas. No primeiro evento do projeto, a maior parte dos participantes eram deficientes visuais, que pela primeira vez puderam sentir a emoção de subir uma parede de escalada indoor. Mas, eles não vão ficar apenas no ginásio, não. Em outubro, com apoio da ACEM – Associação Catarinense de Escalada e Montanhismo, vai rolar um We Rock na Pedreira do Abraão, em Floripa. Segundo Ruthie, com a implantação do projeto e apoio da ACEM, todos os eventos de escalada realizados na região estão começando a ser acessíveis a todos e isso pode ajudar a transformar muitas vidas. “Acredito que a escalada pode ser uma atividade transformadora na vida dos  que  têm a oportunidade de praticá-la. Ela oferece planejamento contínuo, criatividade, foco, resolução de problemas, gerenciamento de risco, e comunicação, desenvolvendo percepções e aprendizados: todos aspectos que podem ser facilmente deslocados para a vida cotidiana. A escalada também envolve beleza natural, instinto, fluidez, foco e descoberta. Escaladores com ou sem deficiência, de forma similar, vem aprendendo a ter realizações inesperadas sobre a vida, ambições, medos, prioridades e muito mais.”

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De Florianópolis para o mundo

A ideia é que o We Rock não fique limitado à Santa Catarina. “O projeto objetiva levar esta sensibilidade e acessibilidade a todos os ginásios de escaladas indoor do Brasil que tenham uma estrutura mínima de acessibilidade, como uma parede vertical com top rope. Assim como uma pessoa sem deficiência que deseja escalar pela primeira vez pode ir a qualquer ginásio e será recebida e instruída por uma equipe, uma pessoa com deficiência tem o mesmo desejo e direito”, esclarece a idealizadora do projeto.

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Ruthie ainda explicou que, para que isso aconteça, o We Rock pretende levar um curso técnico específico para pessoas com deficiência e também equipamento adaptados aos principais ginásios de escalada do Brasil, para que o esporte seja realmente acessível a todos. “O projeto é aberto para todos os tipos de deficiência. Mais do que isso, eu diria, é aberto para diversidade humana. Os espaços precisam estar preparados para lidar com todos os seres humanos, sem distinção. O mundo está cheio de pessoas incríveis que ainda não sabem das suas incríveis capacidades. Oferecer possibilidades é transformar vidas.”

Quando perguntamos quais são os sonhos de Ruthie para o projeto, ela foi direta: “O projeto precisa de apoio de escaladores que queiram transformar sua escalada local. Precisamos que estas pessoas incentivem e deem continuidade ao projeto nas localidades que forem implantadas. Eu desejo que através do We Rock o universo da escalada possa olhar para as pessoas com deficiência como seres humanos, como vidas que merecem ser vividas e também oferecer possibilidades para essas pessoas, para que elas acreditem que tudo é possível!”