Inspiração

Se você já leu o livrou ou assistiu ao filme “Livre” certamente já se imaginou viajando por aquelas paisagens incríveis por onde passa a Pacific Crest Trail, mais conhecida como PCT. A trilha, que começa no México e termina no Canadá, é extremamente desafiadora, diversa e o lugar ideal para quem quer se reencontrar. Foi assim com a autora Cheryl Strayed e o destino também foi um marco na vida da brasileira Rose Eidman.

Rose tinha uma rotina comum a muitas pessoas que moram em uma cidade grande e passam boa parte do tempo vivendo no “modo automático”. Ela é formada em direito, tem dois filhos, trabalhava em uma grande empresa e fumava dois maços de cigarros por dia. Até que decidiu mudar radicalmente. Nesta busca ela se reencontrou em um mundo totalmente diferente do qual estava acostumada, criou novos hábitos, novos gostos e, principalmente, novos desafios, entre eles: parar totalmente de fumar e completar sozinha os mais de 4 mil quilômetros da PCT.

Os detalhes desta experiência contagiante ela mesma conta, mas nós já adiantamos que tem tudo a ver com a nossa filosofia: “Never Stop Exploring”!

O começo da mudança…

“Sou a Rose Eidman. Tenho 53 anos, me formei em advocacia e trabalhei para uma grande empresa varejista por muitos anos.

Aos 33 e 36 anos minhas primeiras grandes aventuras começaram. Me tornei mãe de um casal que dominou meu tempo e dedicação por muitos anos. A tarefa de ajudar a formar filhos honestos, independentes e de bem com a vida não é fácil, viu!

Era uma fumante inveterada, 32 anos consumindo 2 maços por dia, mas numa conversa bem madura com meu filho percebi que era hora de “tentar” parar de fumar e parei. No dia 1 de maio de 2012, dia do meu aniversário, acendi meu último cigarro e sem adesivos ou qualquer outra ajuda nunca mais fumei.

Foi MUITO difícil, mas vencer essa luta me deu confiança pra fazer muito mais, e mostrar na prática pros meus filhos o que eu queria dizer com dedicação e força de vontade.”

Foto: Arquivo Pessoal/Rose Eidman
Foto: Arquivo Pessoal/Rose Eidman

O que fazer? Se reencontrar!

“Durante 1 ano fiquei perdida entre uma atividade esportiva e outra, mas nunca fui atleta. Em setembro de 2014 parti para o Caminho de Santiago. Fui conferir se o que li na adolescência escrito nos livros do Paulo Coelho era verdade, e não encontrei nada daquilo. As visões e outros relatos fantasiosos se materializaram em amigos muito jovens de diferentes lugares do mundo, que se tornaram muito próximos a mim.

Aprendi a vencer muitas adversidades lá dentro e, no final de cada dia, agradecia por ainda estar ali, com força pra ir até o próximo albergue. De uma vila em outra, 31 dias depois estava de frente para a Catedral. Feliz, emocionada e surpresa comigo mesma por ter conseguido andar os 850 km que compõem o Caminho Francês.

Na frente da Catedral também descobri que a minha “praia” era aquela. Andar dentro da natureza.

Os escritórios, reuniões e roupas típicas de uma executiva deram lugar à uma mochila, uma barraca e tudo mais que precisava pra me dedicar às trilhas.

No ano seguinte enquanto me preparava para as próximas aventuras reencontrei meus amigos de Santiago na Grécia e viajamos todos juntos acampando e fazendo aventuras que eu nem imaginava que existiam, como Canyoning, por exemplo. Não foi uma viagem tradicional, nada de champanhe nem hotéis 5 estrelas. Só ficamos em nossas barracas, que por sinal tinham 5 bilhões de estrelas!

Eles me ensinaram muito e quando vi que já sabia andar em trilhas, acampar e conseguia vencer muitos medos, parti para meu próximo sonho de consumo: a trilha PCT. Era uma das coisas que eu achava o máximo, porque era uma junção de beleza e desafios enormes, mas me sentia despreparada ainda.”

Como se preparar para encarar a PCT?

“Depois de quase 1 ano estudando a logística, pesquisando sobre equipamentos e sobre a trilha em si, resolvi que era hora de tentar.

Nesse meio tempo andei a John Muir Trail, 350 km nas Sierras da Califórnia, que também pertence em 90% da extensão à PCT, e fiz trilhas não turística de 210 km dentro do Grand Canyon com mais 3 hikers, por 10 dias.

Andar os 4.280 km dentro da PCT foi uma intensa mistura de prazer, momentos lindos, superação, medos, muito suor e determinação.

Nada nos prepara pra passar tanto tempo enfrentando frio, calor, desertos, montanhas, neve e travessias de rios muitas vezes perigosos, e nem pra se surpreender com uma cascavel ou um urso no caminho.

Eu estava sozinha na maior parte do tempo, mas fiz várias amizades e, sempre que possível, acampava com outros hikers.”

Onde cinema e realidade se encontram

“Quem assistiu ao filme Wild (Livre) viu um pouco do que eu passei por lá. E a logística é aquela mesmo. Mandei suprimentos pra mim mesma em 30 caixas que continham comida e outros itens necessários.  Para chegar até as caixas, tinha que sair da trilha e pegar uma carona até a vila mais próxima. No começo pegar carona me dava um pouco de medo. E não por ser mulher, porque isso nunca me limitou na vida. Sou de outra geração, onde me defendia sozinha, jogava bola com os moleques e não levava desaforo pra casa. Mas, carona não faz parte da nossa cultura.

Foto: Arquivo Pessoal/Rose Eidman
Foto: Arquivo Pessoal/Rose Eidman

Aos poucos percebi que era muito divertido e fácil! Conheci pessoas incríveis!  Militares, professoras, xerifes, fazendeiros e outros hikers, que sempre ajudam quem está na trilha.  Todos gostam de ouvir nossas histórias de vida e muitos nos acolhem em suas casas, oferecendo comida, cama e um banho quente.

De uma caixa até a outra, subindo e descendo montanhas, vencendo dores musculares e cansaço um dia cheguei ao terminal oficial da trilha. A emoção foi enorme, acho que nunca vou escrever ou falar desse dia sem que as lágrimas apareçam nos meus olhos.  Foi uma sensação estranha, de dever cumprido e uma instantânea saudade de tudo que vivi lá. Subi nos totens e coloquei a bandeira do Brasil entre as bandeiras dos EUA e Canada que já estão lá.  Precisei vencer muita coisa pra chegar naquele terminal, mas tudo isso só me deu alegrias e muita experiência.”

⭐️PCT ⭐️ CHEGUEI ⭐️ Foram mais de 6 milhões de passos, 178 dias de muitos desafios, superando medos e dificuldades, e dormindo no topo de montanhas lindas. O que parecia impossível pra muita gente aconteceu, e apesar de tudo consegui chegar ao final dos 4281 km. Hoje vou dormir com a sensação maravilhosa de ter conseguido vencer todos os obstáculos e ter chegado na fronteira dos EUA e Canada! Obrigada a todos pelo apoio e pela força que sempre me empurrou pra frente! I MADE IT ?? #pct2017#pct#pctig#hiking#lovehiking#trail#trails#trilhas#lovenature#longdistancetrails#amoanatureza#naturehealsthesoul#hiker#mochilando#camping#faith#faceyourfears#ospreypacks#microspikes#friends#WA#forca#fé#keepstrong#madeit#cheguei#canada#trekthepct#thetrek#pormaismheresnoesporte

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Parar? Jamais!

“Hoje sou uma pessoa diferente, tudo tem outra dimensão. Sei quanto sou pequena perto das enormes montanhas que subi, e ao mesmo tempo conheci uma gigante cheia de vontade que mora dentro de mim.

Ficar sozinha em nenhum momento me fez sentir solidão.  Foi uma oportunidade de estar comigo mesma e me conhecer melhor, da melhor forma possível. E carregar numa mochila tudo que eu preciso é o melhor sinônimo de liberdade que eu conheço!

Tenho muitos planos pela frente e a lista só cresce!

Israel National Trail, Arizona Trail, Annapurna Circuit e Acampamento Base do Everest no Nepal, outras trilhas importantes nos Estados Unidos, enfim, trilhas não faltam.

Até hoje usei recursos financeiros próprios para essas trilhas, mas sem um patrocínio acho que tudo vai ser mais complicado daqui pra frente. Só ouvi “nãos” até hoje, mas desistir não faz e nem vai fazer parte do meu vocabulário.

Vou continuar fazendo o que a trilha me ensinou. Dando um passo após o outro e indo sempre em frente!

Já montei uma palestra muito bacana sobre tudo que vivi e aprendi e espero poder espalhar esse conhecimento a executivos, atletas ou qualquer pessoa que se interesse por ouvir que mudar o que queremos em nossas vidas é possível e mais fácil e prazeroso do que imaginamos.”

Foto: Arquivo Pessoal/Rose Eidman
Foto: Arquivo Pessoal/Rose Eidman

O que ter na mochila?

A título de curiosidade aqui está a lista de tudo que eu levei na minha mochila!

Eram apenas 6 kg, sem computar água ou comida, pois isso varia dia a dia.

– 1 barraca

– 1 sleeping bag

– 1 isolante térmico

– 1 roupa de chuva

– 1 calça

– 1 casaco de pluma de ganso

– 2 pares de meias

– 1 escova de dentes

– 1 creme dental

– 1 repelente forte

– 1 cortador de unhas, alguns curativos e remédios de emergência

– 1 fogareiro

– 1 panela

– 1 isqueiro, combustível

– 1 celular

– 1 carregador

– 1 bateria extra

– 1 mini canivete

– 1 bússola e mapas

– bastões de trekking

– 1 par de microspikes, uma espécie de corrente que eu usava embaixo dos tênis para ter melhor estabilidade na neve

– 2 colheres (sempre leve duas colheres! Vc vai entender porque se uma quebrar ou se perder ?).