Inspiração

Chegar ao cume de uma alta montanha, ainda mais quando o topo está a mais de 8 mil metros de altitude, é realmente uma missão que exige muito preparo, cuidado e até mesmo uma dose de sorte. Além de estar apto física e tecnicamente, ainda é preciso torcer para o clima colaborar. Os brasileiros que estão no Manaslu sentiram isso na pele. Prestes a tentar a ascensão ao cume, eles se depararam com uma enorme nevasca que atrasou os planos e acrescentou uma dose extra de emoção e dificuldade à expedição.

Confira os últimos relatos enviados a nós por Bernardo Fonseca:

A tempestade de neve – Sábado (22/09)

Estamos totalmente estagnados no base camp. As barracas estão completamente soterradas pela neve que, como previsto, caiu cerca de 50cm do lado de fora da barraca, tornando impossível fazermos qualquer coisa.

Todos estão nervosos e tensos com a situação, mas montanha é isso. Os planos mudam o tempo todo.

Nós havíamos planejado iniciar o nosso ataque ao cume dia 22, mas pelo visto, já passou para dia 23. Em adicional, tínhamos previsto ir do acampamento 1 direto para o 3, mas pelo jeito, iremos do camp 1 para o camp 2 para aguardar até que a neve seja compactada.

Foto: Bernardo Fonseca/Arquivo Pessoal

Soube que dois espanhóis já foram embora. Outras expedições estão se reunindo para planejar e buscar as melhores saídas.

O lado positivo é que a nossa equipe é a única que está com equipamentos no acampamento 3, as outras ainda precisam fazer esse transporte.

Soubemos que ontem os sherpas conseguiram colocar as cordas fixas até o 8000m, mas também soubemos que o grupo ficou completamente perdido. Eles passaram pelo que chamamos de white out, em que não se consegue enxergar 5 metros à frente. Um tempo depois eles se acharam e estão descendo.

Estamos checando o forescat o tempo todo.

Obrigado a todos pela torcida. Pode não parecer, mas ficar parado cansa demais.

Foto: Bernardo Fonseca/Arquivo Pessoal

O início da missão “cume” – Domingo (23/09)

Não temos saída. Ou vamos agora ou perdemos a janela.

Os últimos dias foram bombardeados por uma nevasca intensa. Soubemos pelos sherpas que os acampamentos 1 e 2 estão com tendas completamente submersas pela neve. Consequentemente, com o peso da neve, elas colapsaram e quebraram.

Nós havíamos previsto sair do camp 1, pular o 2 e ir direto para o acampamento 3. Mas, devido às condições da neve que, não está compactada, precisamos parar no acampamento 2. Vamos seguir o básico: 1,2,3,4 e cume.

O clima está tenso aqui. O Maximo infelizmente mal consegue andar devido à sua costela quebrada na avalanche. Estou bem triste por isso, afinal eu vim por ele, e não estaremos juntos.

O Pedro e a Claudia estão bem. Tensos pelo clima, mas confiantes na subida. Aqui, nos 4.900 metros, todos estão fortes e bem aclimatados. A saturação está ótima, com coração bom também!

Foto: Bernardo Fonseca/Arquivo Pessoal

Eu, particularmente, estou bem tranquilo, apenas preocupado em não estar com Maximo ao lado para lembrar dos pequenos detalhes. Mas, 8.000 é isso mesmo, precisamos ser independentes. Os detalhes fazem a diferença entre a vida e a morte aqui.

Foto: Bernardo Fonseca/Arquivo Pessoal

A previsão de cume é para dia 26 ou 27, vai depender se iremos ao cume direto do camp 3 ou passaremos pelo acampamento 4! Sabemos que quanto mais tempo na altitude, pior é. Por isso, gostaríamos de atacar direto do 3, mas é um longo caminho. São 8 horas com pouca água, pouca comida e uma falta de ar que precisa ser gerenciada.

Conto com a energia positiva de todos que estão nos acompanhando. Espero voltar para contar mais detalhes de toda essa experiência.

Forte abraço a todos.

Foto: Bernardo Fonseca/Arquivo Pessoal

Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.