Conquistar uma montanha de altitude pela primeira vez é um marco na vida de qualquer aventureiro. Com o Matheus Kager não foi diferente! Ele faz parte da nossa equipe de vendas e é apaixonado por trekking. Depois de se planejar e se preparar por muito tempo, ele resolveu que estava na hora de encarar um desafio mais alto. Então, incluiu uma expedição ao Huanay Potosì no meio do seu mochilão pela América do Sul.
A viagem teve muitos perrengues pelo caminho, ele esbarrou na pandemia, mas nada o fez desistir desse sonho. No final, todo o esforço valeu à pena!
Confira abaixo os detalhes dessa aventura:
“Estava eu, mochilando pela América Latina, quando de repente a pandemia se espalhou pelos quatro cantos do mundo e eu tive que improvisar. O plano era ir do Equador até a última cidade ao sul da América do Sul, o Ushuaia, na região da Patagônia Argentina.
Mas, o objetivo maior nessa viagem era realizar um sonho antigo de subir o Huayna Potosì, uma montanha de 6.088 metros de altitude na Cordilheira dos Andes e a ideia de voltar para casa antes disso, era frustrante.
Então, assim que surgiram os primeiros rumores de que os países iriam fechar suas fronteiras, apertei o passo para tentar chegar em La Paz o quanto antes, onde eu começaria minha jornada pelos Andes.
Sem tempo a perder, tomei um ônibus de madrugada na rodoviária de Cusco (Peru) sentido Puno, na fronteira com a Bolívia. Cheguei bem cedo na fronteira, descendo do ônibus me deparei com o… mar? Tinha água até o céu tocar o horizonte, mas não havia a menor possibilidade de ser o mar… eu estava a centenas de quilômetros da costa… era o famoso Lago Titicaca! Pensei ué ‘porque não aproveitar pra conhecer?’
Aluguei um kaiak e remei pelas ilhas do lago por umas 3 horas, foi divertido. Só faltou o protetor solar, rs.
No fim da tarde, fui até a rodoviária para comprar uma passagem até Lá Paz. Chegando lá, advinha só? O governo peruano decretaria o fechamento das fronteiras em 24 horas e todos os transportes interestaduais já estavam inoperantes. Desespero!
A única solução possível era encontrar um lugar para passar a noite. Afinal, não tinha mesmo como sair de qualquer jeito.
Encontrei um hostel baratinho, acordei bem cedo e, passando pela recepção, conheci um casal de japoneses que estavam fazendo check-out às pressas, eles haviam descoberto uma forma de chegar até La Paz. Fiz as malas correndo e fui junto!
Resumo da ópera: 7 meios de transporte diferentes e 12 horas depois, cheguei em La Paz! Vocês não imaginam o perrengue que foi.
Deixei o Peru nas últimas horas antes do lockdown. Cheguei em La Paz e não parecia que a pandemia sequer existia, os rumores eram de que haviam menos de meia dúzia de casos confirmados na Bolívia. Fui direto para o centro da cidade e não tive dificuldades em encontrar agências de turismo que oferecessem tours pelos Andes. Depois de uma breve pesquisa de preço nos arredores, fechei a escalada para o dia seguinte pela manhã.
Chegou o grande dia! Tudo pronto, eu havia passado os últimos 15 dias me aclimatando e escalando montanhas mais baixas entre 3.800 e 5.200m de altitude. Eu me sentia mais preparado do que nunca. No grupo da expedição éramos eu, um casal de taiwaneses e o guia.
Durante o primeiro dia fizemos práticas de progressão em glaciares e aprendemos técnicas que iriamos usar mais para frente em algum momento da escalada.
Acordamos bem cedo no segundo dia, seguimos rumo ao acampamento avançado. Lá encontramos com um segundo guia que nos acompanharia durante o ataque ao cume que aconteceria na madrugada do dia seguinte.
Mal dormi naquela noite. Dormir na altitude não costuma ser uma tarefa muito fácil. Com o ar rarefeito, você fica quase constantemente ofegante. E, você já tentou dormir ofegante? Além do mais, quanto mais alto fica, maior a ansiedade pelo cume.
Acordamos meia noite e começamos a nos preparar para a reta final. É até difícil dizer se o frio na barriga era maior do que o frio na montanha ou vice-versa.
Começamos a subir, a visibilidade era quase zero, exceto pelo foco da lanterna. Concentração total na respiração, administrando fluidos e carboidratos. O Huayna é conhecido por ser um gigante com um baixo nível técnico de escalada, por isso costuma ser um bom começo para os amantes do esporte e justamente por isso eu o escolhi.
Lembra das técnicas de progressão nos glaciares do primeiro dia? Chegou a hora de pôr em prática. A trilha acabava em um paredão de 50 metros de altura e 90 graus de inclinação. Passando esse trecho, percebi que não conseguia sentir meus pés há algum tempo. Então, paramos para colocar foot warmers dentro das botas. Isso ajuda bastante no aquecimento e circulação do sangue nas extremidades. Mas, tirar e pôr de volta as botas foi muito desgastante.
Seguimos em direção ao cume. Quanto mais alto ficava, mais os passos diminuíam, mais a respiração pesava, mais a temperatura caia e mais eu empurrava meus limites.
Cheguei a um ponto em que eu já não aguentava dar um passo sequer, andar sobre a neve muito fofa é muito desgastante. Sentia muita vontade de vomitar, cansaço extremo e uma dificuldade tremenda de respirar. Foi aí que o guia apontou para uma colina de neve logo ali no horizonte e me disse que lá era o cume. Faltavam só 200 metros.
De repente todo aquele cansaço pareceu se esvair, nada mais era tão importante, pois o cume estava logo ali. Na reta final, lágrimas escorriam, confesso.
E chegando no cume, fui presenteado com o nascer do sol mais incrível que já pude contemplar. Nunca me senti tão vitorioso em toda a minha vida.
Obrigado, universo. Até a próxima.” – Por Matheus Kager