Inspiração

O Brasil pode até não ter neve, mas isso não significa que os brasileiros não sejam apaixonados pelos esportes de inverno. A história da carioca Juliana Davies (@davies.ju) é a demonstração perfeita disso. Ela descobriu a neve quando ainda era criança e, logo no primeiro contato, se apaixonou. A vida deu muitas voltas, ela praticou outros esportes, se tornou mãe, empresária e agora, vários anos depois de sua primeira descida na pista de ski, se prepara para encarar as montanhas gigantes e selvagens do Alasca. A experiência vai se transformar em uma série de TV, que demonstrará as maravilhas do destino, a cultura e, principalmente, o poder que as mulheres também têm quando o assunto são os esportes radicais.

Veja no depoimento abaixo os detalhes dessa trajetória e saiba o que essa aventura incrível reserva:

“Sempre fui louca por esportes. E praticante, desde cedo. Acho que queria ser atleta, e até acho que tinha o talento, mas certamente não tive disciplina nem determinação o suficiente. A maternidade me ajudou e muito. Depois de ser mãe, você entende que na vida é necessário ter disciplina, perseverança, equilíbrio e, sem dúvida, paciência… muuuita paciência. Eu tenho 2 filhos, meninos, um de 6 e um de 3 anos. Cancerianos, os dois, me ensinam todos os dias que eu não sei nada, e que, tudo que eu acho que eu sei não se aplica assim, como eu queria ou achava que deveria ser. Aprendi com eles que eu posso e quero ser mais, que exemplo é tudo e que o tempo é valioso demais e temos que aproveitar cada momento e conquista.

Tenho 35 anos, sou designer, empresária, sócia da TUUT Creative, amante dos esportes e apaixonada pela vida. Em 2017 vivi uma crise precoce da meia idade, ou adolescência tardia, não sei ao certo, mas certamente foi um ano difícil. O mais difícil, mas não diria ruim. Afinal é com a dificuldade que aprendemos e, com elas, crescemos. E, sim, como eu aprendi. Amadureci. Mudei. Na dificuldade e dúvida do que eu queria fazer resolvi ficar sozinha e na solidão busquei me conectar comigo. Me dei de presente uma viagem. Não sabia o que fazer nem para onde ir, mas sabia que eu queria viajar comigo. Na busca do lugar fui para meu sonho de criança, de adolescente, de adulta. Fui ao Alasca.

Foto: Juliana Davies/Arquivo Pessoal

Desde pequena amo esquiar. A primeira vez que vi neve foi amor à primeira vista! Terminei a escolinha de ski aos 10 anos e uma professora sugeriu que eu fosse para o Ski Club, aula das crianças locais. E foi lá que eu aprendi a competir. Comecei com Slalom Gigante, fui para Super G e Downhill. Ganhei, por anos, passes, roupas e esquis como os locais. Esquiava na parte da manhã e treinava à tarde. À noite via filmes de esqui na TV para entender como os profissionais faziam suas curvas. Aos 15 fui treinar com a Seleção Brasileira de Ski na Argentina e Chile. Cogitei tentar o índice para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2002, em Salt Lake City, mas para isso, teria que sair da escola e morar metade do ano no inverno da América do Sul e na outra metade no inverno da América do Norte ou Europa. Para, provavelmente, no melhor dos cenários, completar a prova olímpica.

Não rolou…

Foto: Juliana Davies/Arquivo Pessoal

O esqui continuou na minha vida como um hobby e eu entrei para a faculdade (de comunicação visual), comecei a trabalhar e esquiar não é um esporte fácil nem barato… Principalmente para um brasileiro. Entendeu, né? Minhas idas a neve começaram a ficar cada vez mais escassas. Mas, sempre que consigo ir, é a mesma alegria. Sou a pessoa mais feliz do mundo com um par de esquis no pé! Não tem dia feio. A maior tempestade é o melhor dia. É o dia que não tem ninguém na pista. Não paro para almoçar, é perda de tempo. Abro a pista e sou a última a sair dela. Já fui a várias estações diferentes. Amo todas com a mesma intensidade. Com o tempo fui me aventurando para descobrir o off-piste (fora de pista). É quase outro esporte. São as ondas gigantes para o surfista da cidade. Um dia clássico de powder não tem igual. Um dia clássico, pós nevasca, com céu azul…. nem se fala.

E por que o Alasca? Bom, ele é o Evereste dos escaladores de montanha. Nazaré dos Big Wavers. É onde todos os profissionais de Extreme Ski estão durante 2 meses do ano. E é para lá que eu fui. E eu fui sozinha.

Minha família me achou louca. Meus amigos também. ‘Mas, não é perigoso?” “Por que você vai pra tão longe? Não tem um lugar mais fácil, não? Mais perto?” “E, seus filhos, você vai deixá-los?” Bom… meus filhos, eles ficaram chateados porque não foram comigo. Ah, como eu amo meus meninos!

O Alasca é tudo que eu imaginava e via no feed do meu Instagram, só que mais.  É o lugar mais grandioso que já visitei. Grandioso, aliás, vem do nome. Alasca vem da palavra Russa “Aleyska”, que significa “Great Land” ou terra grandiosa. Sua história gira em torno da corrida ao ouro. Sua economia, hoje, vive da indústria do petróleo & gás, pesca e turismo. Seu território, que já foi da União Soviética (comprado pelos Estados Unidos em 1867), fica quase na Sibéria. O Estreito de Bering a separa da Rússia. Lá se come salmão de verdade. Salmão Selvagem ou Wild Salmon. E que lugar Selvagem! O maior estado dos 50 estados americanos, terra dos ursos, das montanhas gigantes (dos 20 maiores cumes da América do Norte, 17 estão no Alasca), da imensidão branca, das geleiras (estima-se ter mais de 100 mil geleiras, que tomam conta de mais de 5% do seu território), dos pescadores, aventureiros e terra das auroras boreais (que eu infelizmente não tive a sorte de ver, ainda). O Alasca é um encanto, e esse encanto me conquistou.

Foto: Juliana Davies/Arquivo Pessoal

 

Foi lá que eu entendi porque é considerado o maior de todos. Sua imensidão e verticalidade são imbatíveis. Viajei por horas em um avião cruzando cordilheiras. Mais horas e horas em um carro. E me parece infinita a quantidade de montanhas e área esquiável. Suas montanhas parecem ser maiores e, vistas do nível do mar, ficam ainda mais altas. Nunca desci linhas tão verticais, tão radicais, tão íngremes. “Botar pra baixo” requer equilíbrio, confiança e paz. E paz eu encontrei lá.

Me despedi jurando que voltaria. E meses depois recebi um convite do Canal OFF para fazer a primeira produção brasileira de Extreme Ski da nossa história.

Não tenho uma explicação racional do porque eu fui ou vou voltar ao Alasca. E na verdade, também não faço ideia aonde esse projeto vai me levar. Mas, como dizia David Bowie ‘I don’t know where I’m going from here, but I promise it won’t be boring’.” ,

Foto: Juliana Davies/Arquivo Pessoal

A Juliana Davies está de malas prontas para embarcar para o Alasca nos próximos dias e a série Ski Extreme AK será lançada no Canal OFF no segundo semestre de 2019.


Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.