Inspiração

Fazer uma montanha de altitude não é tão simples quanto possa parecer. Mesmo que o caminho até o cume não seja extremamente técnico, apenas o fato de estar na altitude já vai exigir muito do corpo. Isso, sem contar o fato de que cada organismo reage à altitude de formas diferentes. Então, por mais bem treinado que você esteja, este é o tipo de experiência que você só saberá como vai ser no momento em que for realizar.

O Victor Thut decidiu encarar a sua primeira montanha acima dos 6 mil metros de altitude sozinho. A escolha audaciosa lhe custou caro, mas ao mesmo tempo proporcionou uma vivência única, aprendizados e sentimentos se superação que você só vive quando está no limite.

Confira abaixo como foi para ele subir tptalmente sozinho o Nevado San Francisco, na região dos Andes:

“Em dezembro de 2019 eu fiz a minha primeira tentativa de cume >6000m em solitário. Eu subestimei a montanha e paguei o preço. O desafio de estar sozinho e isolado na altitude foi maior do que o planejado. Quando digo sozinho, é isso mesmo. Sozinho. A única coisa viva além de mim que vi nessa escalada foi um pequeno besouro que cruzou meu caminho durante a descida.

Foto: Victor Thut/ @victorthut

Minha estratégia aclimatação era justa. Eu estava fisicamente bem. Ao iniciar a escalada minha cabeça fraquejou. Meu amigo, não importa sua aclimatação, não importa seu vigor físico, não importam seus equipamentos… Se sua mente não está sólida na montanha. Já era!

Ainda no escuro iniciei minha caminhada assustado. Guiado pelo GPS e pela luz da headlamp, eu progredia lentamente. Por incontáveis vezes eu me questionei sobre o que estava fazendo. Por que estou fazendo isso? Por que sozinho? Qual a importância disso? Inúmeras vezes pensei em desistir. Muitas mesmo. Até agora não sei por não o fiz. Eu progredia de forma muito lenta a ainda quase não havia ganhado altitude.

Durante a íngrime subida que leva ao ‘fake summit’, ponto que antecede a fase final da escalada até o cume verdadeiro, algo aconteceu… Sem explicação encaixei uma boa respiração e cadenciei passada não tão lentas e constantes. Quando percebi que finalmente progredia de forma mais eficiente, minha mente começou a ser ocupada por pensamentos bons, memórias agradáveis, amigos, família, equipe… Bingo! Minha cabeça estava mais forte! Era isso que me faltava até então.

Racionalmente analisei o horário e minha velocidade de progressão e decidi que não voltaria. Havia tempo para ir ao cume e voltar em segurança. Descansei um pouco, me hidratei e, impulsionado pela emoção, me conduzi ao cume. Pois é, sem dúvida, nesse dia não foi a razão que me levou tão longe. Foi algo que não sei bem explicar.

Foto: Victor Thut/ @victorthut

Já muito próximo, as lágrimas começaram descontroladamente a escorrer. Elas instantaneamente drenaram toda dor, medo e cansaço. Eu estava magicamente bem e muito feliz! Então, experimentei uma sensação inédita pra mim. Vivi sentimentos que infelizmente não conseguirei traduzir nesse relato…” – Victor Thut

Foto: Victor Thut/ @victorthut

Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.