Quando uma mulher se torna mãe, a vida se transforma. Além de ter a responsabilidade de cuidar integralmente de um outro ser, muitas mulheres acabam deixando alguns sonhos de lado para se dedicarem inteiramente à missão de ser mãe.
A história de Marcela Tenório (@maatenorio) mostra bem que não é preciso optar entre ser mãe ou aventureira. É possível, sim, continuar a viver e aproveitar a natureza e o melhor da vida mesmo com um bebê. Inclusive, as aventuras podem ficar ainda mais intensas e memoráveis!
Ser mãe não estava bem nos planos dela, mas esse novo papel não a fez deixar de lado os projetos e sonhos que tinha para a família. Pelo contrário. Depois da chegada da Gabi, Marcela e o marido, Fernando, continuaram a viver muitas aventuras, sempre com a companhia da pequena. O casal não deixou de lado o estilo de vida ativo e, juntos, potencializaram ainda mais os próprios sonhos, que, por sinal, envolvem muitas aventuras.
Nós batemos um papo com a Marcela para entender como ela conseguiu conciliar a missão de ser mãe, sem deixar de lado as viagens e aventuras.
Confira abaixo tudo o que ela contou pra gente:
The North Face Brasil: Como e quando você começou a se interessar por trilhas/viagens de aventura?
Até os meus 26 anos eu conhecia esse tipo de experiência muito superficialmente. Já tinha feito trilhas curtas até cachoeiras, mas não tinha ideia do que esse universo englobava.
A vontade de me aventurar mais sempre existiu e eu estava muito aberta para essas vivências e aí, de repente, o Fernando apareceu na minha vida.
The North Face Brasil: Como era a sua rotina antes da Gabi? Quais eram os seus principais hobbies e o seu maior sonho?
Eu estava estudando Veterinária e estagiando área. Decidi sair da faculdade no mesmo mês que descobri que estava grávida, tudo aconteceu de uma vez só: a vontade de descobrir o mundo e ter um mundo novo sendo descoberto dentro de mim.
Na época meu maior sonho era ir de carro até o Alasca com o Fe, e acho que continua o mesmo. Meu hobby sempre foi viajar e fotografar, mas antes fazia isso bem menos.
The North Face Brasil: Vocês já tinham uma vida bastante ativa mesmo antes da Gabi chegar, né? Antes de ser mãe, você tinha medo que um bebê pudesse te impedir de continuar a ter um estilo de vida tão intenso?
Somos um casal muito ativo, saíamos de SP todo final de semana. Lembro que no mês em que engravidamos, fizemos as trilhas de São Bento do Sapucaí, Serra Fina e Petar.
Passei 4 meses da minha gravidez morando no carro e viajando pela América do Sul, subimos até o Acre e descemos até Ushuaia, fazendo trilhas e explorando lugares que eu não podia imaginar que existiam.
Olha, como não passava pela minha cabeça ser Mãe, eu não tinha referências do que seria um bebê na minha vida, então não pensava em privação, as dúvidas eram mais básicas (risos).
Eu sabia que algo ficaria de lado e pensava que talvez as viagens seriam adiadas ou os destinos seriam diferentes. Nunca sonhei em fazer tudo que fazia com ela, mas foi um caminho natural para nós, não existiu um momento de tomar essa decisão, a vida seguiu e as viagens também.
The North Face Brasil: Você conhece outras mães que passaram por este processo antes de você e te inspiraram a escolher esse estilo de vida?
Troquei muita figurinha com algumas Mães e sou muito grata a elas. Mas nenhuma tem um estilo de vida tão ativo quanto o nosso. Eu ouvi muito que não poderia sair de casa antes do bebê ter 3 meses e coisas parecidas.
Quem diria que com 3 meses e meio ela já teria viajado tanto e subido o 3º pico mais alto do Brasil?
O que mais me motivou a ter independência nas tomadas de decisões em relação a Gabi, foi ter acompanhado tantas formas de “maternar” diferentes ao longo da gravidez.
Eu vi bebês e crianças morando em fazendas no Mato Grosso, isolados do mundo da cidade. Conheci mulheres no Peru carregando bebês nas costas com tecidos enquanto trabalhavam, famílias europeias morando em bicicletas na estrada com 3 filhos e famílias do mundo todo morando em motorhomes. Vi mães na Bolívia vivendo isoladas em desertos a quase 5.000m de altitude, com bebês queimados do sol, sempre felizes. Os exemplos foram inúmeros, poderia ficar horas citando tantas famílias experimentando o mundo de jeitos diferentes. Isso me empoderou e fez eu me sentir capaz de seguir meus instintos nos cuidados desse bebê que estava a caminho.
The North Face Brasil: Como é a logística para acampar com um bebê?
O conselho é o mesmo que dou para quem está começando a se aventurar em pernoites no mundo outdoor: Invista em bons equipamentos.
Com os equipamentos certos para cada ambiente e clima, você vai estar muito confortável e seguro na montanha/na trilha.
A logística de ir com um bebê muda um pouco por causa do peso, como continuam sendo 2 pessoas carregando o peso de 3, fica um pouco puxado.
E, nesse quesito, os equipamentos também podem ser aliados ou não. Os equipamentos certos para cada tipo de aventura são mais leves e compactos e cada grama faz diferença.
Outra dica, além de investir em equipamentos específicos, é: faça um checklist. Assim você sabe exatamente o que está levando, não carrega coisas a mais e também não se esquece de nada.
The North Face Brasil: Qual conselho você daria para quem tem vontade de fazer isso, mas não tem coragem?
Para quem tem vontade, mas falta coragem, planejamento é tudo.
Escolha uma data que o clima esteja perfeito, sem chances de chuva, vento muito forte ou qualquer mudança. Ás vezes isso significa adiar uma viagem. Já passamos por isso e pode ser frustrante, mas não dá para correr riscos.
Faça tudo com calma, não se cobre e confie nesse serzinho.
Pense que ele é muito mais forte do que você imagina.
Os bebês são da natureza, nós somos. É incrível poder proporcionar essa conexão. O que eles mais querem e precisam, é estar perto dos pais com amor. Essa experiência pode ser a chance de você vivenciar um momento único em família.
The North Face Brasil: Quanto tempo a Gabi tinha quando foi acampar pela primeira vez? Como foi a experiência?
Ela tinha 53 dias. Fomos fazer um pernoite de camping selvagem no topo da Pedra da Macela, em Cunha, com o nosso cachorro.
Era um pacotinho! Nessa fase os bebês só observam o mundo. Eles ainda não interagem muito, não se movimentam, não seguram coisas. E, por isso, foi mais especial ainda e muito libertador.
Lembro dela com aqueles olhos abertos devorando o mundo. Vendo o nascer do sol, vendo as árvores, encantada. Penso que nessa fase, em que eles só absorvem, foi ouro poder deixá-la absorver o mundo. Literalmente. Absorver a natureza, as cores, os cheiros.
The North Face Brasil: Qual foi a sua maior aventura com a Gabi?
Essa pergunta é a mais difícil!
A travessia Petrópolis x Teresópolis foi muito desafiadora, uma aventura e tanto. Fisicamente foi puxado, o terreno era difícil e o peso matador. Nós levamos cordas para os trechos de escalaminhada, fizemos rapel com a Gabi, ela tinha 6 meses. Mentalmente visitei lugares desconhecidos.
Mas, ao mesmo tempo, havia outras pessoas realizando a travessia, então eu não me sentia isolada do mundo, e isso nos dava segurança.
Acho que a nossa maior aventura foi a Travessia Villarica em Pucon, na Patagônia Chilena.
Essa é uma travessia de 4 dias por vulcões e desertos. Neve, frio, calor, vento, longas distâncias e poucas companhias.
The North Face Brasil: Qual foi o maior perrengue que vocês já passaram juntas?
Nosso maior perrengue em trilha foi na Colômbia, no Parque Nacional Tayrona.
Nós estávamos com uma barraca emprestada que não tinha ventilação, em um calor de 40º. A Gabi ficou com uma super febre a noite, e só poderíamos ir embora de lá de manhã. Tentamos voltar à cavalo, achando que seria mais rápido do que fazer a trilha, mas na verdade era muito mais devagar e resolvemos ir a pé mesmo.
Enfim, foi uma situação atípica e, pela primeira vez, fomos surpreendidos por uma enfermidade dela, o que junto com o fator de estarmos mal equipados, virou um super perrengue.
The North Face Brasil: Qual sonho você ainda quer realizar com ela?
Quero poder morar na estrada com ela por 1 ano. Tenho muita vontade de viver essa experiência com a Gabi para que ela conheça diferentes culturas e formas de viver e entenda que ela é livre para escolher o seu caminho, que a referência que ela tem na nossa família e amigos, não é mandatória e nem a única forma de passar por esse mundo.
The North Face Brasil: O que você diria a uma mãe que deixou as aventuras de lado porque tem medo de explorar o mundo com crianças?
Eu acredito que a reconexão da Mãe com a mulher que a habita é dura e às vezes precisa ser forçada. É muito difícil se reencontrar dentro de um novo corpo que gerou e muito difícil se encaixar nas aventuras que fazia antes nesse novo cenário.
Meu conselho é, de coração, que se forcem. Voltem às atividades, com ou sem os bebês e filhos. As recompensas com você mesma serão quase que imediatas!
E a recompensa de incluir os pequenos nas atividades ligadas a natureza, vem vindo aos poucos. Mas ela vem! Uma criança mais presente e atenta aos detalhes vai fazer parte da sua vida, além de muitas histórias de aventuras para contar e se orgulhar junto.