Curiosidades

Todos os anos, centenas de montanhistas de todas as partes do mundo se deslocam para o Himalaia em busca do sonho de conquistar o Everest. No entanto, menos de 5% desses alpinistas consegue realizar o feito sem a ajuda de oxigênio suplementar. Superar a zona da morte, o ar rarefeito e o frio sem o auxílio externo foi considerado algo impossível por dezenas de anos. Apenas em 1978, quando  Reinhold Messner e Peter Habeler, conseguiram chegar ao cume sem oxigênio suplementar é que o cenário ganhou outras perspectivas. Mesmo assim, mais de 40 anos depois, essa continua sendo uma missão extremamente difícil. No entanto, um estudo publicado recentemente na revista científica iScience sugere que conquistar a montanha mais alta do mundo pode ficar um pouco mais fácil caso as temperaturas globais aumentem.

A explicação para isso é simples: conforme as moléculas de ar esquentam, elas ganham mais energia e se movimentam de forma mais rápida, criando mais pressão, densidade e aproximando as moléculas de oxigênio. A conclusão é de que quanto mais quente, maior é a pressão atmosférica e, consequentemente, existe mais oxigênio para respirar, mesmo no ponto mais alto da Terra.

Essa descoberta foi feita a partir da coleta de dados e comparações feita pela equipe de cientistas que participaram de uma expedição especial da National Geographic em 2019. Os pesquisadores analisaram as condições climáticas e barométricas em diversas ascensões realizadas sem a utilização de oxigênio complementar e, com base nessas informações, e nas previsões futuras em relação ao aquecimento global, conseguiram estabelecer um possível cenário em que escalar a montanha mais alta do mundo apenas com o oxigênio do próprio corpo pode ser um pouco mais fácil e acessível, inclusive, em dias de inverno, algo quase impossível atualmente.

De acordo com as estimativas dos cientistas, caso a elevação da temperatura global fique dentro do estipulado no Acordo de Paris, de 2ºC, respirar na subida ao cume do Everest durante o inverno seria como ter que escalar 118 metros a menos, em termos de esforço. Um dos pesquisadores envolvidos no estudo, Tom Matthews, da Loughborough University, no Reino Unido, compara a experiência à uma escalada durante a temporada comum de ascensão ao Everest.

Pode parecer irrelevante, mas diante do esforço necessário para se locomover e manter as funções físicas em perfeito funcionamento em altitudes extremas, esse resultado pode representar mudanças significativas no estilo de escalada dos montanhistas que encaram o Everest. Afinal, muitos alpinistas consideram que o esforço necessário para encarar a zona da morte sem o uso de oxigênio suplementar seja dez vezes maior do que com o oxigênio extra.

Foto: Carlos Santalena – Grade 6/Arquivo Pessoal

Se por um lado o aumento das temperaturas globais pode deixar a questão da oxigenação um pouco mais fácil, ela também traz uma série de outros riscos que tornam a experiência inteira mais complicada, principalmente em relação ao derretimento das geleiras, aos riscos de avalanches, o maior nível de dificuldade para ultrapassar a geleira do Khumbu, entre outras coisas.

Quer saber todos os detalhes deste estudo? Acesse o artigo completo aqui.