Sentada à beirada do mirante do maior cânion do planeta por horas, observando as estruturas rochosas, áridas, o show de cores e a aula de geologia, é de se pensar que não exista nada mais incrível por ali do que aquela visão. Como pode, uma formação tão grande, tão imponente? Mas quem já leu um pouco sobre a história do Arizona, sabe que por trás do lendário rio Colorado, que corta o Grand Canyon, existe muito mais.
Vestígios de uma história que completa 800 anos do povo mais antigo do Arizona no extremo sudoeste do desfiladeiro, escondida num canto mágico: A tribo Havasupai ou ‘povo da água azul-verde’.
Não existem estradas para chegar até a tribo. Aliás, é preciso muita curiosidade (e teimosia de aventureiro) para obter informações de como chegar até lá. Isso porque o Grand Canyon foi proibido de levar turistas para a tribo, então a única informação que o centro de turismo nos dá é um telefone de um pequeno centro local de controle de entrada de turistas, mas que quase nunca atende.
“Tão perto e tão longe”, pensava. Resolvi pegar o carro e ir até o local mais perto da entrada do canyon para a tribo e dirigi por cerca de 3 horas até uma “cidade” chamada Peach Springs. Se você tem filhos, provavelmente vai se lembrar daquela cidadezinha fantasma e abandonada do filme da Disney ‘Carros’ – Esta é Peach Springs. Fantasma. Isto significa: sem combustível, sem restaurante e sem informações.
Continuando a minha busca, passei (por 3 vezes) uma estradinha imperceptível que me levou (após uma hora) em direção a um estacionamento e um trailer com algum movimento local. Ao perguntar pela tribo, o índio que ficava ali de “tocaia” para receber os curiosos me questionou: “Preparada para conhecer o outro lado do Grand Canyon?” E, muito mais do que preparada, toda essa falta de informação aumentou a minha expectativa deliberadamente, então lá fui eu.
São cerca de 16,5 quilômetros até a aldeia, um percurso que dura não mais do que cinco horas de trekking para dentro do Grand Canyon. O acesso até lá pode ser também de mula ou, se tiver sorte, pode pegar carona com um helicóptero que aparece de vez em quando para descer mantimentos para a tribo. Você pode separar 2 dias para visitar Havasupai, considerando aproveitar um dia inteiro nas cachoeiras e piscinas. E o que vale muito é a sensação e a experiência de caminhar no fundo do desfiladeiro entre os altos penhascos e chegar até a tribo a pé.
Confesso, que ao chegar lá, esperava ser recebida por uma cultura indígena viva (índios com cocar ou ocas..), mas, hoje os 600 moradores de lá já tem correios, escola, lojas, cafeteria, um posto de polícia e, para minha surpresa, no lugar de redes ou alojamentos, uma espécie de pensão que oferece quartos beeeem simples.
O interessante é que na vila as fotos locais não são permitidas, principalmente de pessoas. Aliás, eles são enfáticos e muito bravos quando não se respeita a regra. Os nativos me contaram que eles acreditam que, ao serem fotografados, eles perdem a alma.
Mas, o grande chamariz do tal “cantinho mágico” são as piscinas que formam um verdadeiro oásis, e as quedas d’agua com suas límpidas e únicas águas de cor azul-verde (a cor é inacreditável) – causada pelo magnésio abundante. São 5 cachoeiras principais e você consegue visitar todas elas, algumas com acesso difícil, outras bem tranquilas. Mas, o fato é que a cada cachoeira que você conhece, você pensa que não pode existir nenhuma outra mais incrível. O programa ideal é passar o dia curtindo as piscinas naturais e se refrescando em meio ao calor sufocante daqueles lados.
Para um espírito aventureiro, Havasupai é uma experiência única de conhecer um dos mais bonitos (e escondidos!) cenários da natureza.