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acervo @gregoryfenile

O Cuscuzeiro é um morro testemunho de Arenito- tipo de rocha diferente, porém muito bonita – localizado em Analândia/SP. Esse lugar ocupa um espaço enorme em minha memória! Foi por essas paredes que realmente me apaixonei pela escalada. Quem me apresentou esse lugar incrível foi meu primeiro parceiro de escalada: Tico. Eram outros tempos, não tínhamos todos os equipamentos nem carro para ir até lá.

As primeiras vias dessa rocha foram conquistadas na década de 80. Eram rotas para escalar apenas em top rope (com corda de cima), com pinos colados no cume, que foram instalados pelo GAE (Grupo Alpino Espeleológico). Com a evolução da escalada, essas vias foram equipadas também para guiar. Nos anos 90, Maurício Clauzet, o conhecido Tonto, também esteve em Analândia e conquistou diversas vias especiais como a Paredão, 97 Bons Motivos e a clássica das clássicas, Visual. Já citei o Tonto em outro texto, que recomendo a leitura.

Outra presença que marcou a história do Cuscuzeiro na década de 90 foi o alemão Carsten. Ele abriu sete vias em 15 dias com pinos colados para guiar. Suas proteções ficaram mais espaçadas, o que deu uma apimentada para quem guiava as vias. Clássicas como a Manga com Leite e Fly ou Die, foram abertas por Carsten.

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De lá pra cá muitas outras vias foram abertas por escaladores locais e o Cuscuzeiro se firmou com um dos principais setores de escalada do interior paulista, com mais de 60 vias. Rodrigo Genja Chinaglia escreveu o “Guia Completo de Escalada do Cuscuzeiro”em 2014 com todos os croquis, fotos coloridas, graduações e muito mais!

Outro livro muito bacana seguindo a mesma temática, mas abrangendo outras grandes rochas, é o “50 Vias Clássicas do Brasil”, de Flavio e Cintia Daflon. Esse belíssimo exemplar elenca, como seu título diz, 50 Vias por 13 Estados do Brasil, assim os escaladores correm para completar seu ”álbum” no livro. Essa iniciativa somou muito para a escalada brasileira, valorizando a cena nacional.

A Visual está neste livro e desde então, tem recebido um grande volume de ascensões. Essa via é muito especial para mim também. Foi lá o primeiro 6º Grau (Graduação Física da Escalada Brasileira) que guiei na vida, em meados de 2007. Conversando com o Tonto recentemente nem ele sabia que a via tinha entrado para o 50 Vias. Foi legal dar essa notícia para ele, mesmo que sem querer.

 

CURIOSIDADES SOBRE AS VIAS CONQUITADAS NOS ANOS 90

  • Foi pensada para ser escalada em uma cordada só, tendo as paradas intermediárias apenas para rapelar;
  • Quando Tonto imaginou a via, rapelou do cume ao chão e fez a primeira ascensão de bota;
  • O bloco do crux (parte mais difícil da via), foi motivo de discussão. Muitos alegavam que ele cairia, mas permanece lá até hoje.

É possível escalar a Visual emendando as duas primeiras paradas e gerenciando bem o atrito com costuras longas. Isso vai totalizar duas enfiadas até o cume:

  1. A primeira enfiada é bem tranquila, até um trecho mais vertical. De lá, você segue por misto da aresta e face até alcançar a P1 que tem três proteções.
  2. A segunda enfiada é o melhor, segue por uma linha natural com grandes agarras até chegar no teto, o traçado original toca reto, mas normalmente se desvia a direita para alcançar o grande bloco e fazer o lance negativo bem aéreo! Se tiver alguém no cume para tirar uma foto sua fica tudo perfeito! Após esse lance você chega em uma parada dupla.
  3. A terceira enfiada segue por misto de face e canaleta, bem tranquila também. Cuidado com pedras soltas. No cume não existe parada dupla, apenas um pino cimentado no chão de onde deve-se assegurar o segundo.

E você? Já conhece o Cuscuzeiro?

 


Escrito por

Lucas Sato

Lucas Sato é instrutor e guia de escalada da Grade 6 Expedições. Desde 2006 ele se dedica de corpo e alma a esse esporte, tendo como uma de suas grandes paixões a conquista de novas vias, já são mais de 40 até agora. Como guia de montanha, Lucas já liderou expedições pela América e também na região do Himalaia.