Inspiração

O caminho de Santiago de Compostela tem atraído cada vez mais pessoas que buscam um momento diferente na vida! Alguns vão para o caminho atrás de aventura, muitos pela religião, outros pela história e diversas pessoas para um encontro íntimo e profundo consigo mesmas, momento para autoconhecimento!

Não sei bem o porquê, mas sei que estou aqui, caminhando rumo a Finisterra (o fim da terra). Há muitos e muitos anos os peregrinos diziam “estou indo para o oeste“, os celtas percorriam quilômetros para chegar onde acreditavam ser o fim do Mundo! E agora, após milhares de pessoas cruzarem essa estrada, chegou minha vez de deixar a minha pegada pelo Caminho.

Existem diversas formas de fazer o caminho: a pé, de bicicleta e a cavalo são as mais realizadas, sendo a pé o mais comum. E existem diversas rotas que levam a Santiago de Compostela. O Caminho Francês é o mais tradicional. Eu e meu parceiro Vagner Levy escolhemos o Caminho Aragonês, que cruza os Pirineus da França a Espanha, por 165km, até encontrar o Caminho Francês, no município espanhol de Puente la Reina, por onde seguiremos. Mas vamos para além de Santiago de Compostela, vamos para o fim da terra, Finisterra!!!

Entramos no Caminho por Somport (uma linda cidade na França, que divide os Pirineus com a Espanha). Em Somport podíamos ver a neve muito de perto, mas mesmo assim fazia uma dia lindo de sol e céu azul (um motorista do ônibus que faz diariamente esse percurso comentou que nunca viu um dia tão lindo!). Ficamos animados ao percorrer a região dos Pirineus. Meus pensamentos eram tomados por uma motivação interna “é necessário manter o entusiasmo do primeiro até o último dia“, enquanto Vagner, já experiente no caminho pensava o quão intenso será o sofrimento inicial que nos fortalecerá para o caminho!

Pois bem, não fui muito longe com meu pensamento positivo. Em pouco menos de 10 km para chegar a Jaca, cidade onde dormiríamos, meu corpo já estava arrebatado pela dor, minha mente tomada pelo sofrimento e minhas pernas negando-se a dar qualquer passo que fosse! Foi quando me dei conta que eu sou uma Yoginí (praticante e adepta a filosofia Hindu – Yoga). Lembrei-me que muitas vezes chego a esse estado executando ásanas (posições do Yoga que usamos para educar o corpo) e quando o corpo já não responde mais aos desejos mentais, usamos exercícios para ativar o campo energético e colocamos em prática Tapas (conceito ético do Yoga que diz que o Yogi deve exercer o esforço sobre si mesmo/ auto superação). Foi então que comecei a executar dois exercícios: o Ujjaí Pranayama (exercício respiratório do yoga) e Uddhyana Bandha (estímulo muscular que ativa o plexo solar). Devo ter feito isso durante cinco minutos e quando percebi já estava no sprint final, chegando no albergue.

Percorremos 32 km descendo um pouco mais de 1000metros de altimetria e tudo que eu queria era deitar e dormir por uma semana! Impossível, óbvio, tinha mais de 900 km a serem percorridos com data de retorno marcada! Acordamos em nosso 2º dia de caminhada e lá fomos nós, diretamente para os correios despachar o máximo de bagagem possível. Conseguimos eliminar quase 6 kg para a nossa felicidade e aprendemos a lição que deixamos como dica principal: leve somente o necessário,  somente o necessário!

Já estava totalmente desanimada e arrependida pela ideia de fazer o caminho de Santiago (porque a minha mãe me deixou fazer isso? Rs) O dia estava lindo, mas minhas pernas extremamente cansadas, mal conseguia ficar em pé… Sabia que precisava de um descanso com urgência!  Após duas horas de caminhada, resolvi parar e fazer o que um Yogin sabe fazer de melhor para descansar as pernas: ficar de ponta cabeça (usamos a invertida no Yoga para aumentar a oxigenação nos órgãos principais e estimular o despertamento da nossa energia vital, a Kundaliní).

Após a invertida estava pronta para continuar o caminho! Mesmo assim não foi fácil. Passei o dia em um diálogo interno: estava vivenciando Tapas (o esforço sobre si) ou infringindo o ahimsa (a não violência)? A verdade é que é difícil saber decidir entre os dois quando estamos em atividades extremas. Mas meu lema é: se consigo sorrir, logo não há ahimsa! O dia foi surpreendente. Conhecemos o Vale dos Totens e chegamos a Arres, um vilarejo com um albergue para peregrinos que parecia uma casa mágica. Já pela noite me sentia curada, como se a energia do lugar tivesse limpando toda minha dor e sofrimento!

yoga2

Acordamos felizes e animados para continuar o caminho e fomos em frente até Huesca, uma cidade desabitada devido a uma mudança de represa que estão fazendo por aqui. Chegando lá não tivemos muita opção, pois não havia um lugar para dormir muito menos comer. Pegamos um táxi (pois também nessa região não passa ônibus) e fomos para Sanguesa, onde jantei pela primeira vez comida e não apenas batatas, coisas que acontecem com um vegetariano na terra do Jamón!!!

Despeço-me por aqui, agradecendo a sua disposição em dividir comigo essa etapa da viagem! Um forte abraço e Ultreya*!

*Assim como buen camino, uma das muitas expressões usadas pelos peregrinos quando se cumprimentam pelo Caminho. Quer dizer avante, seguir em frente com coragem e entusiasmo.

A #SuaAventura é uma série que convida aventureiros a compartilharem, com a gente, suas últimas expedições. Quer contar a sua aventura pra gente? Então mande um email para social@thenorthface.com.br 😉