Existem muitos debates sobre a relação entre sustentabilidade e os esportes de aventura. Chegar a locais inexplorados é o desejo de muitos aventureiros, no entanto, muitas vezes essa exploração tem um alto custo, principalmente em relação aos impactos ambientais que as expedições podem causar.
Há anos o Everest tem sido alvo dessas discussões. A grande quantidade de lixo na montanha mais alta do mundo é um problema difícil de solucionar e que exige medidas urgentes. No entanto, este desafio não está limitado apenas à parte alta da montanha. O famoso e cada vez mais popular trekking que leva ao Base Camp do Everest recebe todos os anos mais de 30 mil turistas do mundo inteiro. Esses aventureiros passam dias caminhando de Lukla até o Base Camp, gerando resíduos que nem sempre são retirados da montanha.
Diante desse problema e aliado a um sonho antigo, Mariana Britto decidiu ir até o Nepal, fazer o trekking do BC e mostrar de perto o que acontece no Everest e como é possível reverter o impacto ambiental para que a montanha continue a receber turistas sem perder a sua riqueza natural e cultural.
Após trabalhar e diversos projetos com atletas e personalidades do mundo da aventura, entre eles a Família Schurmann, Mariana resolveu tirar a aventura dos seus próprios sonhos do papel. Por isso, ela embarca em outubro desse ano com a missão de fazer o trekking do BC do Everest e ainda trazer na mochila um documentário que mostra os desafios e algumas possíveis soluções sustentáveis para a região e para as próprias aventuras de trilheiros pelo mundo.
Nós conversamos com ela para entender qual foi a inspiração e o que é possível esperar dessa experiência:
The North Face Brasil: Como surgiu a ideia de fazer a trilha ao acampamento base do Everest?
Mariana Britto: Em 2013 eu tive a oportunidade de participar na captação de recursos para o projeto Everest que foi realizado por uma aventureira brasileira. Eu me dediquei por 5 meses full time na expedição e isso me fez ter mais admiração e muita curiosidade sobre a montanha mais alta do mundo. Eu sou apaixonada por trilhas e prometi a mim mesma que, quando eu fizesse 30 anos, iria concluir a trilha do Base Camp. Pois bem…planejei, mas vou realizá-la com 31…(risos). Isso não importa. Para mim, não fazia sentido ir sozinha e esse sonho deveria ser compartilhado. Sorte a minha ter amigos “loucos” que compraram essa aventura e agora a viagem se tornou o sonho de todos.
Eu tive a sorte de contar com a Mídia Sustentável como patrocinadora e a viagem acabou se tornando um projeto. A Mídia Sustentável veio com o propósito maior ainda: vamos registrar em formato de série/documental os aspectos e impactos ambientais inerentes à trilha do Base Camp do Everest. Os amigos acompanharão de perto as gravações que, sem dúvidas, levarão muita alegria e muita força para concretizar o projeto.
The North Face Brasil: Qual é a sua experiência em trilhas longas?
Mariana Britto: Sempre fui apaixonada por esportes. Engraçado que a trilha apareceu tarde na minha vida. Me lembro que a primeira trilha longa que conclui foi na Serra do Cipó/ MG chamada Lapinha – tabuleiro, sem dúvidas, foi essa trilha que me despertou a vontade de conhecer outras no Brasil e no mundo. A partir daí sempre que viajo ou estou com a agenda tranquila eu faço uma trilha para me desafiar. A trilha que mais me marcou foi na ilha de Raiatea, na Polinésia Francesa. A trilha foi em busca a flor de 1 milhão de francos. O local é conhecido por abrigar uma rara flor chamada “Tiare Apetahi”, com cinco pétalas e única no mundo, que nasce no alto do monte Temehani. Segundo o povo de Raiatea, a lenda diz que uma mulher chamada Apetahi, após discutir com seu marido, foi até a montanha e cortou a própria mão. Anos depois, naquele mesmo lugar, nasceu a flor de cinco pétalas em formato de mão. O governo criou uma multa de 1 milhão de francos para quem tocar ou estragar a planta.
The North Face Brasil: O que você espera encontrar por lá (Everest)?
Mariana Britto: Espero encontrar uma cultura completamente diferente e paisagens maravilhosas ao longo da trilha.
The North Face Brasil: O que mais lhe instiga nessa viagem?
Mariana Britto: Sem dúvidas o desafio.
The North Face Brasil: Qual é o roteiro, quantos dias levará a viagem?
Mariana Britto: Serão 20 dias de viagem, com um roteiro de trekking que começa em Lukla e vai até o Acampamento Base do Everest, a 5.300 metros de altitude.
A trilha será guiada pelo profissional e renomado alpinista Carlos Santalena e todo o programa está sendo elaborado e realizado pela Grade6.
The North Face Brasil: Esse não será um trekking qualquer. Você tem a missão de registrar tudo e mostrar o problema do lixo no trekking que leva ao Everest. Como surgiu essa ideia?
Mariana Britto: Exato, a viagem se tornou um projeto com um propósito ainda maior. Convidei um amigo para o trekking e ele abraçou e apoiou a ideia na hora. O Caio Queiroz (CEO da Mídia Sustentável) atua há mais de 20 anos na área ambiental, desenvolvendo e implementando programas de gestão de resíduos. Ele acompanha a problemática ambiental que, infelizmente, caracteriza todas as regiões do planeta e não deixou de fora nem essa área inóspita do Everest. O problema no Everest ainda se torna mais difícil de ser resolvido pelas características geográficas da região, que torna inviável a coleta desses resíduos em alguns trechos da trilha. Por esse motivo, torna-se de extrema importância, realizarmos ações de conscientização, para evitar que os turistas esportivos da região, deixem mais lixo para trás, poluindo cada vez mais as trilhas do Everest.
The North Face Brasil: Você tem tido algum cuidado especial para minimizar o seu próprio impacto ambiental gerado por e durante essa viagem?
Mariana Britto: Na nossa expedição já adotaremos grande parte do programa ambiental que estamos desenhando para o Everest com base em consumo consciente e descarte adequado dos resíduos. Desde o momento de planejamento de nossos equipamentos, roupas e alimentos que devemos levar a essa viagem, estamos levando em consideração esses aspectos ambientais importantes, para que causemos o mínimo de impacto possível durante nossa jornada. A ideia é fazermos uma viagem reduzindo ao máximo o volume de lixo que vamos gerar e descartar o que for gerado de forma adequada durante o percurso. Essas atitudes contemplam uso racional da água e energia, que serão recursos escassos durante o percurso. Promovermos um estilo de vida bem equilibrado e mais racional.
The North Face Brasil: O material captado vai virar um filme. Qual será a principal mensagem desse documentário?
Mariana Britto: Sim. Vamos registrar toda aventura em formato de série documental para a TV e digital. A principal mensagem desse vídeo é a de que nosso planeta é um ambiente frágil e que precisa de um maior cuidado por parte de todos nós. Precisamos adotar atitudes mais responsáveis em nosso dia a dia, pensando em não deixar pegadas negativas onde passamos. Não importando o local onde estejamos. Tudo é meio ambiente, de uma cidade grande até um ambiente inóspito como o Everest… por isso, queremos despertar dessa consciência e atitude mais respeitosa que virá de dentro de cada um de nós. Esperamos conseguir isso com cada pessoa que for impactada pela nossa ação, para que dessa forma, possamos reduzir os impactos ambientais em todo o planeta e promover uma melhora em nossa qualidade de vida e das futuras gerações.
The North Face Brasil: Como está a sua preparação para esse trekking?
Mariana Britto: Mudei toda a minha rotina para conseguir me preparar com antecedência para a viagem que está programada para outubro. Exige muita disciplina nos treinos e alimentação. Me dedico aos finais de semana para concluir outras trilhas e ganhar mais experiência. Conto com nutricionista, fisioterapeuta e funcional especializado.
The North Face Brasil: Você está indo com um grupo de amigas e muitas delas nunca tiveram um contato mais intenso com os esportes de aventura. Como elas estão encarando esse desafio?
Mariana Britto: Não foi fácil convencê-las, rs! Depois que elas toparam a aventura estão super animadas e levando muito a sério toda a preparação. Nos divertimos muito nas trilhas e o grupo está muito unido. A viagem se tornou o objetivo de todas.
The North Face Brasil: Quais são os itens essenciais que você precisa ter na mala?
Mariana Britto: A trilha exige uma lista com os produtos obrigatórios entre eles: bota, jaqueta de aquecimento, anorak, fleece, saco de dormir e bastão de trekking. Estamos falando de um ambiente que vai estar -10ºC, por isso, precisamos levar as roupas de qualidade e que garantam o aquecimento. Todos os meus produtos serão da The North Face. A marca possui todos os produtos descritos na lista e na minha opinião com muita qualidade e conforto. Para concluir os 20 dias de viagem andando de 6 a 8 horas por dia na altitude e no frio é preciso estar leve, segura e aquecida.
Além disso já fui “brifada” que não haverá banho de “verdade”, rs. Não poderá faltar lenços umedecidos para o tal “banho de gato”. Veremos…
The North Face Brasil: Você poderia deixar uma mensagem a quem também quer alcançar um grande feito, mas ainda não teve coragem?
Mariana Britto: Acreditar e planejar. Sonhar é muito importante mas sair do papel exige muita dedicação e disciplina.