Inspiração

Ela já subiu o Everest duas vezes, já passou por cima de um vulcão em atividade, caçou tornados e aurora boreal, mas acaba de embarcar para o maior desafio da sua vida. No último final de semana, Karina Oliani saiu do Brasil rumo ao Paquistão para escalar uma das montanhas mais difíceis do mundo: O K2.

Para quem não conhece, o K2 é a segunda montanha mais alta do mundo, com 8.614 metros de altitude. Mesmo perdendo para o Everest em termos de altura, o K2 é considerado muito mais difícil de ser escalado. Tanto é que a quantidade média de pessoas que chegam ao cume do Everest todos os anos é praticamente igual à quantidade de pessoas que chegaram ao topo do K2 em toda a história, aproximadamente 300 pessoas.

Até hoje, o único alpinista brasileiro a finalizar o K2 foi Waldemar Niclevicz, que também foi o primeiro brasileiro a completar os 7 cumes. Agora, Karina Oliani também quer ter o seu nome marcado na história ao lado dessa montanha tão respeitada.

Às vésperas de iniciar a expedição, Karina conversou com a gente e contou um pouco do que espera encontrar no K2 e como foi a preparação para essa aventura.

The North Face Brasil: Como surgiu a ideia de escalar o K2, que é conhecido por ser uma das montanhas mais perigosas do mundo?

Eu sempre fui fascinada pelo K2 por vários motivos. O formato do K2 me instiga desde a primeira vez que eu olhei pra ele. Aquela montanha tão íngreme com o formato de uma montanha tão imponente no meio da cordilheira sempre me instigou, sempre me provocou. Eu sempre quis escalar o K2. Além disso, tem a reputação do K2 ser extremamente complicado, a montanha mais difícil do mundo. E eu sempre fui atraída por grandes desafios na minha vida. Eu gosto do que é difícil, do que é complicado. O K2 começa com a letra do meu nome, ela é uma montanha que tem muitas histórias.

The North Face Brasil: Você já enfrentou muitos desafios e tem um histórico de recordes importantes no montanhismo. Você considera essa expedição a mais difícil que você já fez? Por quê?

Eu já enfrentei muitos desafios, não só no montanhismo, só que eu acho que essa vai ser, sem dúvida, a expedição mais difícil da minha vida. Eu esperei até agora, eu estou com 37 anos, e eu acho que agora eu consegui acumular, com 19 anos de montanhismo, a experiência que eu precisava para escalar essa, que é a montanha mais difícil do mundo.

The North Face Brasil: Como você está se preparando fisicamente para essa “missão”? E mentalmente?

Eu acho que o jeito que você melhor se prepara mentalmente para uma montanha é sabendo que você é uma pessoa experiente. É já tendo passado por muitas dificuldades, já tendo passado por muitas situações na montanha e já tendo escalado muito. E aí você sente que você está pronto. Eu senti que eu estou pronta, então eu estou indo. Eu queria ter ido no ano passado, eu estava treinando muito forte, mas aí eu peguei Doença de Lyme, fiquei muito doente e tive que adiar a minha expedição em um ano. Fisicamente, eu estou treinando como eu sempre treinei. Sempre fui uma pessoa muito ativa, sempre fiz um pouco de tudo e eu escalo muito. Eu acho que pra você ser um bom escalador, você tem que treinar escalada. É um treino bem específico. E claro, estar forte muscularmente, estar com os músculos bem alongados e fortalecidos.

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Foto: Qazi Ikram Ul Haq/Pexel – Creative Commons

The North Face Brasil: Como será o cronograma e a rotina da expedição?

Basicamente os primeiros 15 dias eu vou fazer um trekking e a aproximação entre Islamabad, que é a capital do Paquistão, e Concordia, onde fica o acampamento base do K2. Aí, eu chego no acampamento base, descanso e me aclimato, porque já é uma altitude bem razoável, e faço o meu puja, que é a cerimônia de pedir permissão para começar a escalar a montanha. Aí eu começo a fazer um ou dois ciclos de aclimatação e o terceiro ciclo já vai ser o ataque ao cume, que eu pretendo fazer a partir do dia 16 de julho.

The North Face Brasil: Qual é o ponto que você considera o maior desafio dessa expedição?

O que eu considero o maior desafio é, sem dúvida, o K2 ser uma montanha que está em uma cordilheira em que o tempo muda a qualquer minuto e sem qualquer aviso prévio. Então, lá as tempestades e os ventos são muito agressivos. A gente sabe disso. Eu li muito sobre o K2, eu estudei muito a montanha. Eu faço isso com qualquer desafio que eu tiver. E eu sei que é conhecido como uma montanha selvagem por conta disso. Então, a gente tem que estar muito ligado com isso e realmente respeitar os sinais da natureza.

The North Face Brasil: Qual deve ser a maior diferença entre escalar o K2 e o Everest?

A maior diferença entre escalar o K2 e o Everest vai ser a parte técnica. As duas são montanhas de altitude muito extrema, mas a gente sabe que o lado técnico de escalada do K2 é muito mais difícil. Mas, eu gosto de montanhas que eu preciso usar mais técnica e menos força, porque eu posso me beneficiar disso.

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Foto: KhRizwani/Creative Commons

The North Face Brasil: Quantas pessoas fazem parte de uma equipe para esse tipo de expedição?

Eu não curto escalar em grupos grandes. A escalada, por si só, é um esporte que você precisa ter um parceiro, não é recomendado você escalar sozinho, mas eu também gosto que o grupo seja o menor possível.  O meu grupo para essa expedição será de apenas 3 pessoas. Então, a gente vai ter um Sherpa escalando com a gente, que já fez cume de K2 e conhece muito bem a montanha. E aí eu convidei uma pessoa que eu acho que tem bastante capacidade técnica no montanhismo e que é um dos melhores montanhistas que o Brasil tem, o Maximo Kausch. Eu convidei o Pemba Sherpa, que é o meu parceiro oficial, mas ele não quis escalar o K2, porque achava muito arriscado. Ele tem filhos e não achou que vale a pena.

The North Face Brasil: Poucas mulheres já realizaram essa escalada. Isso é algo que te incomoda ou te motiva? Por quê?

Poucas mulheres conseguiram escalar o K2 e voltar com vida. Isso nem me assusta e nem me motiva. Essa coisa de gênero não funciona muito pra mim, eu acho que isso é mais de indivíduo. Tem homens extremamente fortes e técnicos e tem mulheres extremamente fortes e técnicas. Então, não vejo isso muito relacionado ao gênero. Mas, o fato de que pouquíssimos escaladores, comparado com outras montanhas, terem escalado o K2, e até hoje o K2 é a única montanha do mundo que nunca foi escalada no inverno, é algo que me motiva. Eu gosto de desafios complexos e grandes.

The North Face Brasil: Quais produtos The North Face serão essenciais no K2?

90% dos equipamentos que eu estou usando são The North Face. São equipamentos extremamente técnicos, leves, bons e que eu confio. Já usei em outras montanhas e todos eles são fundamentais na minha expedição, desde o meu saco de dormir, que é um Inferno -40C, até o meu macacão de cume, que é um Suit (Himalayan Suit) extremamente quente, muito bom, tem vários bolsos estratégicos para serem usados durante o dia de cume. A minha bota de trekking The North Face é super confortável e não machuca o pé. Eu posso andar mais de 10h por dia, que eu chego com o pé descansado, sem bolhas. As Duffels são extremamente práticas, aguentam neve, chuva. Então, os equipamentos The North Face, sem dúvida, são parte fundamental da minha expedição e eu recomendo para todo mundo que vai fazer uma montanha mais técnica e precisa de bons equipamentos.

The North Face Brasil: Como a galera vai poder acompanhar a sua evolução na montanha?

Dentro do meu site oficial karinaoliani.com.br vai ter uma página dedicada exclusivamente a essa expedição, chama: Expedição K2K. Lá as pessoas podem acompanhar exatamente a posição que eu estou na montanha, ao vivo, conforme eu for apertando o botão do meu Spot e for demarcando a minha posição por GPS.

The North Face Brasil: Qual mensagem você deixaria para as pessoas que acompanham os seus desafios, mas ainda têm medo de sair da zona de conforto?

A mensagem que eu quero deixar pra galera é uma frase conhecida, mas muito real: “Se você acha a aventura perigosa, experimente a rotina. Essa, sim, é mortal”.


Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.