Quando uma mulher se torna mãe, a vida se transforma. Além de ter a responsabilidade de cuidar integralmente de um outro ser, muitas mulheres acabam deixando alguns sonhos de lado para se dedicarem inteiramente à missão de ser mãe.

A história de Marcela Tenório (@maatenorio) mostra bem que não é preciso optar entre ser mãe ou aventureira. É possível, sim, continuar a viver e aproveitar a natureza e o melhor da vida mesmo com um bebê. Inclusive, as aventuras podem ficar ainda mais intensas e memoráveis!

Ser mãe não estava bem nos planos dela, mas esse novo papel não a fez deixar de lado os projetos e sonhos que tinha para a família. Pelo contrário. Depois da chegada da Gabi, Marcela e o marido, Fernando, continuaram a viver muitas aventuras, sempre com a companhia da pequena. O casal não deixou de lado o estilo de vida ativo e, juntos, potencializaram ainda mais os próprios sonhos, que, por sinal, envolvem muitas aventuras.

Nós batemos um papo com a Marcela para entender como ela conseguiu conciliar a missão de ser mãe, sem deixar de lado as viagens e aventuras.

Foto: Marcela Tenório/Arquivo Pessoal

Confira abaixo tudo o que ela contou pra gente:

The North Face Brasil: Como e quando você começou a se interessar por trilhas/viagens de aventura?

Até os meus 26 anos eu conhecia esse tipo de experiência muito superficialmente. Já tinha feito trilhas curtas até cachoeiras, mas não tinha ideia do que esse universo englobava.

A vontade de me aventurar mais sempre existiu e eu estava muito aberta para essas vivências e aí, de repente, o Fernando apareceu na minha vida.

The North Face Brasil: Como era a sua rotina antes da Gabi? Quais eram os seus principais hobbies e o seu maior sonho?

Eu estava estudando Veterinária e estagiando área. Decidi sair da faculdade no mesmo mês que descobri que estava grávida, tudo aconteceu de uma vez só: a vontade de descobrir o mundo e ter um mundo novo sendo descoberto dentro de mim.

Na época meu maior sonho era ir de carro até o Alasca com o Fe, e acho que continua o mesmo. Meu hobby sempre foi viajar e fotografar, mas antes fazia isso bem menos.

The North Face Brasil: Vocês já tinham uma vida bastante ativa mesmo antes da Gabi chegar, né? Antes de ser mãe, você tinha medo que um bebê pudesse te impedir de continuar a ter um estilo de vida tão intenso?

Somos um casal muito ativo, saíamos de SP todo final de semana. Lembro que no mês em que engravidamos, fizemos as trilhas de São Bento do Sapucaí, Serra Fina e Petar.

Passei 4 meses da minha gravidez morando no carro e viajando pela América do Sul, subimos até o Acre e descemos até Ushuaia, fazendo trilhas e explorando lugares que eu não podia imaginar que existiam.

Olha, como não passava pela minha cabeça ser Mãe, eu não tinha referências do que seria um bebê na minha vida, então não pensava em privação, as dúvidas eram mais básicas (risos).

Eu sabia que algo ficaria de lado e pensava que talvez as viagens seriam adiadas ou os destinos seriam diferentes. Nunca sonhei em fazer tudo que fazia com ela, mas foi um caminho natural para nós, não existiu um momento de tomar essa decisão, a vida seguiu e as viagens também.

Foto: Marcela Tenório/Arquivo Pessoal

The North Face Brasil: Você conhece outras mães que passaram por este processo antes de você e te inspiraram a escolher esse estilo de vida?

Troquei muita figurinha com algumas Mães e sou muito grata a elas. Mas nenhuma tem um estilo de vida tão ativo quanto o nosso. Eu ouvi muito que não poderia sair de casa antes do bebê ter 3 meses e coisas parecidas.

Quem diria que com 3 meses e meio ela já teria viajado tanto e subido o 3º pico mais alto do Brasil?

O que mais me motivou a ter independência nas tomadas de decisões em relação a Gabi, foi ter acompanhado tantas formas de “maternar” diferentes ao longo da gravidez.

Eu vi bebês e crianças morando em fazendas no Mato Grosso, isolados do mundo da cidade. Conheci mulheres no Peru carregando bebês nas costas com tecidos enquanto trabalhavam, famílias europeias morando em bicicletas na estrada com 3 filhos e famílias do mundo todo morando em motorhomes. Vi mães na Bolívia vivendo isoladas em desertos a quase 5.000m de altitude, com bebês queimados do sol, sempre felizes. Os exemplos foram inúmeros, poderia ficar horas citando tantas famílias experimentando o mundo de jeitos diferentes. Isso me empoderou e fez eu me sentir capaz de seguir meus instintos nos cuidados desse bebê que estava a caminho.

The North Face Brasil: Como é a logística para acampar com um bebê?

O conselho é o mesmo que dou para quem está começando a se aventurar em pernoites no mundo outdoor: Invista em bons equipamentos.

Com os equipamentos certos para cada ambiente e clima, você vai estar muito confortável e seguro na montanha/na trilha.

A logística de ir com um bebê muda um pouco por causa do peso, como continuam sendo 2 pessoas carregando o peso de 3, fica um pouco puxado.

E, nesse quesito, os equipamentos também podem ser aliados ou não. Os equipamentos certos para cada tipo de aventura são mais leves e compactos e cada grama faz diferença.

Outra dica, além de investir em equipamentos específicos, é: faça um checklist. Assim você sabe exatamente o que está levando, não carrega coisas a mais e também não se esquece de nada.

Foto: Marcela Tenório/Arquivo Pessoal

The North Face Brasil: Qual conselho você daria para quem tem vontade de fazer isso, mas não tem coragem?

Para quem tem vontade, mas falta coragem, planejamento é tudo.

Escolha uma data que o clima esteja perfeito, sem chances de chuva, vento muito forte ou qualquer mudança. Ás vezes isso significa adiar uma viagem. Já passamos por isso e pode ser frustrante, mas não dá para correr riscos.

Faça tudo com calma, não se cobre e confie nesse serzinho.

Pense que ele é muito mais forte do que você imagina.

Os bebês são da natureza, nós somos. É incrível poder proporcionar essa conexão. O que eles mais querem e precisam, é estar perto dos pais com amor. Essa experiência pode ser a chance de você vivenciar um momento único em família.

Foto: Marcela Tenório/Arquivo Pessoal

The North Face Brasil: Quanto tempo a Gabi tinha quando foi acampar pela primeira vez? Como foi a experiência?

Ela tinha 53 dias. Fomos fazer um pernoite de camping selvagem no topo da Pedra da Macela, em Cunha, com o nosso cachorro.

Era um pacotinho! Nessa fase os bebês só observam o mundo. Eles ainda não interagem muito, não se movimentam, não seguram coisas. E, por isso, foi mais especial ainda e muito libertador.

Lembro dela com aqueles olhos abertos devorando o mundo. Vendo o nascer do sol, vendo as árvores, encantada. Penso que nessa fase, em que eles só absorvem, foi ouro poder deixá-la absorver o mundo. Literalmente. Absorver a natureza, as cores, os cheiros.

Foto: Marcela Tenório/Arquivo Pessoal

The North Face Brasil: Qual foi a sua maior aventura com a Gabi?

Essa pergunta é a mais difícil!

A travessia Petrópolis x Teresópolis foi muito desafiadora, uma aventura e tanto. Fisicamente foi puxado, o terreno era difícil e o peso matador. Nós levamos cordas para os trechos de escalaminhada, fizemos rapel com a Gabi, ela tinha 6 meses. Mentalmente visitei lugares desconhecidos.

Mas, ao mesmo tempo, havia outras pessoas realizando a travessia, então eu não me sentia isolada do mundo, e isso nos dava segurança.

Acho que a nossa maior aventura foi a Travessia Villarica em Pucon, na Patagônia Chilena.

Essa é uma travessia de 4 dias por vulcões e desertos. Neve, frio, calor, vento, longas distâncias e poucas companhias.

Foto: Marcela Tenório/Arquivo Pessoal

The North Face Brasil: Qual foi o maior perrengue que vocês já passaram juntas?

Nosso maior perrengue em trilha foi na Colômbia, no Parque Nacional Tayrona.

Nós estávamos com uma barraca emprestada que não tinha ventilação, em um calor de 40º. A Gabi ficou com uma super febre a noite, e só poderíamos ir embora de lá de manhã. Tentamos voltar à cavalo, achando que seria mais rápido do que fazer a trilha, mas na verdade era muito mais devagar e resolvemos ir a pé mesmo.

Enfim, foi uma situação atípica e, pela primeira vez, fomos surpreendidos por uma enfermidade dela, o que junto com o fator de estarmos mal equipados, virou um super perrengue.

The North Face Brasil: Qual sonho você ainda quer realizar com ela?

Quero poder morar na estrada com ela por 1 ano. Tenho muita vontade de viver essa experiência com a Gabi para que ela conheça diferentes culturas e formas de viver e entenda que ela é livre para escolher o seu caminho, que a referência que ela tem na nossa família e amigos, não é mandatória e nem a única forma de passar por esse mundo.

Foto: Marcela Tenório/Arquivo Pessoal

The North Face Brasil: O que você diria a uma mãe que deixou as aventuras de lado porque tem medo de explorar o mundo com crianças?

Eu acredito que a reconexão da Mãe com a mulher que a habita é dura e às vezes precisa ser forçada. É muito difícil se reencontrar dentro de um novo corpo que gerou e muito difícil se encaixar nas aventuras que fazia antes nesse novo cenário.

Meu conselho é, de coração, que se forcem. Voltem às atividades, com ou sem os bebês e filhos. As recompensas com você mesma serão quase que imediatas!

E a recompensa de incluir os pequenos nas atividades ligadas a natureza, vem vindo aos poucos. Mas ela vem! Uma criança mais presente e atenta aos detalhes vai fazer parte da sua vida, além de muitas histórias de aventuras para contar e se orgulhar junto.

Foto: Marcela Tenório/Arquivo Pessoal

O Parque Nacional de Yosemite é um dos mais famosos dos Estados Unidos. Criado em 1855, ele recebe, aproximadamente, 4 milhões de visitantes por ano, interessados nos mais diversos tipos de aventuras, desde viagens de carro até longas trilhas e muitas opções de escalada.

O Yosemite é muito importante na nossa própria história, tanto que o nosso logo foi inspirado no Half Dome, um dos pontos mais visitados do parque. Desde 1875, quando esta enorme cúpula de granito foi escalada pela primeira vez, o local se tornou um dos pontos de referência mundial na escalada em rocha. Mas, não são apenas os escaladores que são atraídos pelo Half Dome, sua beleza atrai turistas do mundo inteiro, mesmo que seja apenas por alguns minutos de contemplação.

Pôr-do-Sol em Yosemite. | Foto: Casey Horner/Unsplash – Creative Commons

Para tornar essa experiência mais acessível, a administração do parte criou uma plataforma, chamada halfdome.net, que aproveita as câmeras de monitoramento para dividir com o mundo inteiro dezenas de timelapases gravados em diferentes pontos do parque. O Half Dome faz parte de uma das paisagens, mas ele não é o único. Além disso, os timelapses são renovados diariamente, para que Yosemite possa ser visitado virtualmente em tempo real.

Confira algumas das maravilhas de Yosemite nos vídeos abaixo:

As Américas oferecem aventuras para todos os gostos e estilos. Desde os roteiros mais famosos, até países pouco conhecidos, não faltam opções para quem quer se jogar em viagens com experiências únicas. O fotógrafo Fayson Merege já compartilhou algumas histórias de suas viagens com a gente. Nós publicamos aqui o relato dele pelo Caminho de Santiago, saindo da Espanha, e também os detalhes da trilha de Salkantay. Dessa vez, ele dividiu um pouco da sua saga pelos vulcões da Guatemala. O depoimento na íntegra traz dicas e fotos que vão te fazer colocar esse pequeno país na sua lista de viagens.

Confira abaixo:

Antígua é o HUB de todos os viajantes e onde a maioria das viagens pela Guatemala têm início. A cidade colonial e colorida é considerada Patrimônio Nacional da Unesco. Antígua era a capital do país até que uma grande tempestade atingiu a Guatemala e fez com o que a cratera do Vulcão de Água, um dos mais próximos à cidade, transbordasse e causasse um enorme alagamento no ano de 1773.

O governo, então, decidiu transferir a capital para uma nova cidade, que passou a se chamar “Cidade da Guatemala”, um lugar mais seguro e protegido dos vulcões. A título de curiosidade, a América Central surgiu há milhares de anos por conta do movimento de placas tectônicas, por causa disso, milhares de vulcões surgiram ao seu redor. A Guatemala é a maior prova disso, nos país são 37 vulcões, sendo que 3 deles ainda permanecem ativos e em alerta: Vulcão Fuego, Vulcão Pacaya e Vulcão Santiaguito.

A Guatemala é mais desenvolvida do que os seus vizinhos Honduras e El Salvador – e mais barato de se visitar do que os famosos Panamá e Costa Rica. Para os amantes da natureza e aventureiros, com certeza é um país que não pode faltar no roteiro.

“Guatemala? Que país é esse?”-Essa pergunta foi a que mais respondi quando publiquei sobre minha vinda a esse país cheio de beleza, mistérios e cultura Maia.

A Guatemala hoje possui 3 atrativos principais: As águas cristalinas de Semuc Champey, o místico lago Atitlán e a atração principal: Trilha ao Vulcão Acatenango.

A trilha até o topo do Acatenango não é fácil e leva de 6 a 8 horas (dependendo do seu ritmo e condições físicas), sendo: aproximadamente 4 a 5 horas até o campo base e mais 1 a 2 horas até o cume. Esse percurso totaliza uma subida de 3976m acima do nível do mar. Várias agências locais oferecem serviços de guia, que variam entre 30 a 60 dólares. Uma opção para quem gosta de mais liberdade é fazer por conta própria. É um pouco mais trabalhoso sair de Antígua e chegar até ao povoado próximo do início da trilha, mas, se estiver em grupo, podem compartilhar um táxi, uma vez que andar nos “chicken bus” é apertado e com muita gente.

Entrada do Parque Nacional = 50 Qtz / R$33 | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

OBS: O parque é monitorado por guias e pela polícia local. TODOS precisam, além de fazer o pagamento, assinar o livro de registro (para caso de emergências e regaste). A polícia faz ronda e caso precise de algo durante à noite, os turistas podem solicitá-los.

Eu, particularmente, não gosto muito de fazer esse tipo de aventura com agências. Faço quando é necessário ou quando não encontro parceiros de aventuras (90% das vezes estou viajando sozinho). Gosto da sensação de liberdade, de aproveitar o momento e ‘sentir’ o lugar. Acabei encontrando, no mesmo hostel onde eu estava, outros viajantes que toparam se aventurar por conta própria. Pedimos algumas informações básicas, planejamos e fomos em um sábado.

O dia iniciara bonito. Do terraço do nosso hostel, era possível ver os 3 vulcões aos arredores de Antígua: Água, Acatenango e Fuego. Seguimos para nossa aventura às 9h da manhã e iniciamos nosso hikking por volta das 10h30. Nas primeiras horas, estava muito sol e calor. Bastou 2 horas subindo para o tempo mudar completamente. Chuva. Neblina. Frio. Estávamos em 6 pessoas e nos dividimos em duplas. Estávamos em um ritmo bom, ora avançando e ora esperando a todos. Atingimos o campo base por volta das 15h15 – já passadas 4 horas e 15 minutos de ascensão. Queríamos ter feito até a base mais próxima do Vulcão Fuego, porém, com o clima instável e sem visibilidade, nós decidimos não arriscar.

Além de carregarmos todo o nosso staff com barraca, saco de dormir, comida e água (MUITA ÁGUA), nós tivemos que ir atrás de lenha para nossa fogueira. Montamos acampamento e iniciamos a fogueira para nos aquecer da noite gélida que se iniciava. Fizemos nossa janta com macarrão (pré cozido), queijo e vinho. Em volta da fogueira, conversávamos sobre nossas aventuras de viagens, enquanto, apreensivos, ficávamos na expectativa de ver as erupções do Vulcão Fuego. Eu e Raymond permanecemos na espreita, enquanto os outros foram dormir por volta das 21h. A neblina trazia pequenas gotículas de água, deixando a sensação térmica ainda mais baixa.

Na missão de fazer centenas de fotos e montar um timelapse, permaneci acordado até 1h da manhã. Levantei em alguns períodos para novas tentativas de fotos enquanto a temperatura caia drasticamente durante à noite. O momento mágico da aventura é chegar aos 3976m, no topo do Acatenango para o nascer do sol acima das nuvens e ter uma vista ainda mais privilegiada do Vulcão Fuego.

Primeira boa janela, às 8h. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

A jornada começa às 4h e, como nós estávamos sem guia, esperamos os outros grupos para então seguí-los. Sem a ajuda de guias profissionais nesse trecho, fazer por conta própria é muito arriscado (se fizer por conta, você pode optar por subir em outro horário), pois somente quem conhece os ‘atalhos’, sabe por qual caminho seguir.

Devido ao frio e aos ventos muito fortes, permanecemos cerca de 20 minutos neste local e então voltamos ao campo base. Com um café tropeiro quentinho e sem açúcar, compartilhamos nossos últimos momentos juntos antes de voltarmos à Antígua.

Vulcão Pacaya. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

Vulcão Pacaya

Embora não tão conhecido pelos viajantes, o Vulcão Pacaya é uma aventura interessante a ser feita estando na Guatemala. Sendo um dos 3 vulcões ativos do país e podendo caminhar próximo à cratera e até mesmo na base do mesmo, a visita precisa ser guiada com guias credenciados, para garantir que o turista esteja em segurança (houve mortes de aventureiros solos).

Minha aventura por esse vulcão aconteceu em dois momentos diferentes. Uma visita durante o dia e outra durante a madrugada. Enquanto no Vulcão Fuego a lava e as explosões são mais frequentes, o Pacaya joga rochas vulcânicas em alguns momentos. A ascensão até a base leva aproximadamente 1h30 e, quanto mais perto, mais se ouve as explosões e o avistamento das rochas rolando vulcão abaixo. A trilha é de dificuldade média e há um mirante no qual se pode avistar o Vulcão de Água, Acatenango e o Vulcão Fuego.

A trilha que leva ao Pacaya é de dificuldade média. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

Pacaya teve sua última erupção há seis meses, sendo que em 2010 teve uma de suas maiores erupções, deixando mortos e desabrigados por um raio de 50 km. A maior parte da lava se transformou em rochas afiadas, negras e escorregadias. Neste caminho, parece que você está andando em outro planeta. Incrível mesmo é poder comer marshmallows aquecidos apenas pelo calor da lava solidificada bem ao lado da imponente cratera em plena atividade.

A aventura durante a madrugada para ver o nascer do sol desde a cratera é a mais emocionante e envolve um pouco mais de adrenalina. Junto ao guia em um tour privado (os tours não acontecem com frequência pois há poucos turistas interessados), iniciamos nossa ascensão às 3h. A caminhada exige cautela, principalmente na última parte, que caminhamos entre pedras e rochas que chegam à até 3 metros de altura. Ao caminhar na cratera é possível sentir o mormaço da lava e um pouco do cheiro de enxofre. Enquanto esperávamos o sol nascer, fizemos nosso café esquentando água diretamente no chão, usando os pontos mais quentes. Infelizmente não conseguimos ver uma quantia considerável de lava, porém, em total escuridão, vimos pequenos focos.

Noite no Vulcão Pacaya. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

Onde esquentamos a água, o guia disse ter por volta dos 100ºC enquanto nos pontos de lava a temperatura chegava a 200ºC. A água ferveu em menos de 2 minutos, tempo em que colocávamos nosso marshmallows no ‘fogo’. Durante a subida, pouco se nota o cenário em que estamos caminhando. O único ponto de foco e luz é a nossa lanterna na cabeça. São necessários passos curtos e com muito cuidado para não pisar em alguma pedra ‘falsa’ ou desbaliza.

Apenas se tem noção do local quando começa o descenso e podemos ver todo o trajeto feito.

Foto feita às 6h em longa exposição de 30”. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

É difícil descrever a sensação de estar literalmente na cratera de um vulcão ativo e poder ‘senti-lo’. A emoção foi completamente diferente do Acatenango e com certeza uma das mais ‘loucas’ aventuras que já fiz em toda minha vida.

Lago Atitlán e a Trilogia de Vulcões

Outro lugar a ser visitado no país é o Lago Atitlán. Rodeado por três vulcões (San Pedro 3020m, Toliman 3158m e Atitlán 3535), o imenso lago, provavelmente, oferece as melhores vistas da Guatemala. Ao todo são 12 vilarejos diferentes que podem ser visitados. Os mais conhecidos são Panahajel, San Pedro de La Laguna e Santa Cruz. Todos eles são conectados por frequentes lanchas e barcos que oferecem propostas diferentes. Os barcos públicos têm preço tabelado por cada vilarejo.

Lago Atitlán. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

O lago está a 1562m acima do nível do mar e oferece diversas opções de aventura: caiaque, stand up, paragliding, mergulho e diferentes hikkings entre os vulcões e arredores. Para realizar qualquer aventura que envolva visitas aos vulcões, também é preciso fazer o registro nos livros e ir acompanhado de guias, além de pagar as taxas municipais. Durante minha minha jornada pela região, me aventurei ao vulcão San Pedro e Atitlán. O Hikking ao Vulcão San Pedro, o grau de dificuldade é médio, embora a trilha exija bastante dos joelhos. A ascensão ao Atitlán possui grau de dificuldade difícil e em algumas partes, achei mais dificultoso que o próprio Acatenango.

Vista do topo da “Trilha Indian Nose”, de onde é possível avistar o Lago de Atitlán e os 3 vulcões. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

Guatemala é um país barato de se viajar e não exigirá muito do seu budget. É um país incrível e que com certeza irá te surpreender. Coloque na mochila seus equipamentos e roupas de camping, trilha e aventure-se, principalmente, pelos vulcões guatemaltecos. Certifique-se de contratar sempre guias/agências credenciados e que lhe ofereçam segurança. Não coloque sua vida em risco. 

Lembre-se de fazer aclimatação e deixar o seu corpo apto à altitude para subir os vulcões. Todos estão acima de 2500m de altitude e exigem um esforço médio/difícil de sua capacidade de oxigenação. Hidrate-se muito com água ou isotônicos.

No mais, aventure-se e desfrute de sua viagem pela Guatemala!

Topo do Acatenango com vista para o sol nascendo atrás do Vulcão de Água. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

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Para quem gosta de aventura, está sempre em movimento e contando os dias para a próxima viagem, ficar em casa pode ser um desafio. Mas, como em tudo (ou quase tudo) sempre existe um lado bom, este período de quarentena também tem proporcionado aprendizados e descobertas. Não ter que se deslocar até o trabalho, por exemplo, permite que sobre muito mais tempo para outras atividades.

O Brasil tem três cidades que figuram entre as piores do mundo quando o assunto é trânsito. Os moradores de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte passam, em média, de duas a três horas por dia se deslocando para realizar as atividades diárias. Quando isso é colocado em um quadro maior, essa população chega a perder 200 horas anuais apenas dentro de um carro ou no transporte público. Todo esse tempo poderia ser usado de diversas outras formas, mais prazerosas e até mais produtivas.

Durante a rotina normal, ou seja, fora do período de quarentena, esse tempo usado para locomoção não é nem considerado como tempo útil, afinal, existem poucas opções de atividades que podem ser realizadas com segurança enquanto você está no trânsito. Portanto, talvez nós já estejamos acostumados a contar com um dia mais curto e estamos sempre desejando ter mais tempo.

Com a quarentena, boa parte das pessoas passou a ter mais tempo, seja para dormir um pouco mais, assistir a algum filme, ler um livro, retomar um hobby, desenhar, planejar ou, simplesmente, ficar sem fazer nada! Essas horas valiosas que normalmente são perdidas no trânsito, se transformaram em mais vida. Afinal, é muito mais agradável poder passar 3 horas do dia fazendo algo que gosta, do que preso dentro de um carro ou no transporte coletivo.

Mas, e quando isso tudo acabar e a vida voltar ao normal? Aí as pessoas já vão saber que tempo é algo que não se compra, mas que vale muito. Assim, quem sabe novos hábitos não sejam aplicados, as rotinas mudem, os horários também. Existe uma vida inteira esperando para ser vivida e ela passa rápido demais para nós acompanharmos parados no trânsito.

Nós separamos alguns fatos interessantes sobre o nosso planeta e dicas práticas do que você pode fazer para contribuir com a preservação dos recursos naturais. O maior intuito dessas informações é contribuir para que fique mais fácil refletirmos sobre o impacto dos seres humanos no planeta Terra.

A posição da Terra no Universo

O planeta Terra tem entre 5,6 e 4,5 bilhões de anos. Durante milhares de anos, estudiosos acreditavam que a Terra era o centro do Universo e que ela era plana. Apenas em 1514, Copérnico criou a teoria de que a Terra girava em torno do sol. Com essa informação foi possível concluir que o Sol tem um sistema próprio, formado outros planetas e e astros. A Terra está localizada em uma galáxia chamada de Via Láctea, mas os cientistas estimam que haja mais de 100 bilhões de outras galáxias espalhadas pelo Universo. Mesmo diante dessa imensidão, até o momento a Terra é o único planeta conhecido por nós em que existe vida nas mais diversas formas.

Alerta mais do que vermelho na biodiversidade

Mais de 1 milhão de espécies de plantas e animais estão ameaçados de extinção. Desde o século 16, os cientistas acreditam que, pelo menos, 680 espécies de vertebrados tenham sido totalmente extintos. No habitat terrestre, em um período de 120 anos, 20% das espécies já foram exterminadas. As principais causas disso são em decorrência do fator humano, que ocasionam: perda dos habitat naturais, poluição, aquecimento global, mudanças climáticas, proporciona a chegada de espécies invasoras, entre outras coisas.

O que você pode fazer: Além de apoiar organizações que trabalham em prol da proteção dos animais ameaçados, você também pode repensar os seus próprios hábitos de consumo. Boa parte do desmatamento que provoca extinção de plantas e animais é proveniente da atividade agrícola e agropecuária. Portanto, evitar o consumto excessivo de carne, valorizar o pequeno produtor local e adquirir hábitos diários que reduzam a sua emissão pessoal de gás carbônico podem ter grandes efeitos, uma opção é trocar o carro pela bicicleta ou pelo transporte coletivo algumas vezes na semana.

–> Para pensar: Sair da zona de conforto pode fazer bem para você e para o mundo!

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Cada gota de água conta muito

A Terra também poderia ser chamada de Planeta Água, afinal, 70% da superfície terrestre é coberta por água. No entanto, apenas 2,5% de toda essa água é doce, ou seja, poderia ser consumida pelos seres humanos. Para tornar a situação ainda mais desafiadora, a maior parte dessa água doce (69%) está concentrada em geleiras, outros 30% estão em reservas naturais subterrâneas de difícil acesso, conhecidas como aquíferos, e apenas o 1% restante está espalhado em rios, lagos e outros corpos d’água superficiais.

O que você pode fazer: O mais óbvio é economizar no dia-a-dia, evitando desperdícios durante o banho e nas atividades domésticas. No entanto, existe um conceito chamado de “água virtual”, que consiste na quantidade de água usada para produzir tudo o que nós consumimos, desde a comida até os eletrônicos usados em nossas casas. Para que tudo seja produzido e transportado até você existe uma quantidade enorme de água utilizada. Para se ter ideia, uma taça de vinho custa, aproximadamente, 110 litros de água. Um cafezinho inofensivo, precisa de 130 litros de água para que chegue até você.

–> Para pensar: Antes de consumir, pense se você realmente precisa daquilo!

Clique aqui para calcular a sua pegada hídrica.

A Terra já está em seu limite

Aquecimento global, mudanças climáticas, desastres naturais essas são apenas algumas consequências e sinais que o planeta nos dá de que ele está em seu limite. Boa parte da culpa para tudo isso cai sobre os próprios seres humanos. Atualmente, a Terra possui uma população global de, aproximadamente, 7,8 bilhões de pessoas. O mais impressionante neste número é que foram necessários, em média, 200 mil anos para que a população global chegasse ao primeiro bilhão. Apenas 200 anos depois disso, o planeta já somava 7 bilhões de pessoas. De acordo com as estimativas da ONU, é possível que em 2050 a população global chegue a 10.9 bilhões.

Esse crescimento, no entanto, não acompanha a capacidade da Terra em se regenerar e disponibilizar recursos para abastecer a população global. Por conta disso, o instituto britânico New Economics Foundation criou uma calculadora que avalia quanto de recursos naturais a humanidade precisa para se abastecer, dentro dos padrões atuais de consumo, e em quanto tempo a Terra produz isso. De acordo com as pesquisas, anualmente nós consumimos o equivalente a 1,5 Terra. Em 2020, por exemplo, é estimado que em 29 de julho nós já tenhamos consumido o que a Terra produz para 1 ano. Após essa data, nós entramos em uma sobrecarga terrestre.

O que fazer: Além de repensar os hábitos de consumo, é preciso passar essas informações adiante. Conscientizar as pessoas que estão ao seu redor vai ajudar a torná-las mais sensíveis ao planeta. Se a população global continuar a manter os mesmos níveis de consumo e de crescimento, em breve, a Terra não suportará fornecer o essencial para a sobrevivênvia humana e de todas as outras espécies naturais.

–>Para pensar: Não guarde o conhecimento para você, passe adiante!

O conceito dos 7 cumes foi criado pelo norte-americano Richard Bass, em 1985. O escalador escolheu os sete pontos mais altos em cada um dos continentes, escalou essas montanhas e depois escreveu um livro. A experiência tem inspirado atletas profissionais e amadores do mundo inteiro a também realizarem o “Projeto 7 Cumes”.

A lista original feita por Richard Bass inclui as seguintes montanhas: Monte Everest (8.844 metros – Ásia), Aconcágua (6.962 metros – América do Sul), Denali (6.194 metros – América do Norte), Kilimanjaro (5.895 – África), Elbrus (5.642 metros – Europa), Vinson (4.892 – Antártida) e Kosciuszko (2.228 – Austrália). Em seu livro, o norte-americano conta quais foram as dificuldades, emoções e conquistas de cada uma dessas montanhas. Os relatos foram suficientes para instigar pessoas de todos os lugares do mundo a realizarem o mesmo feito.

Entre os brasileiros, o primeiro a completar os 7 cumes foi o paranaense Waldemar Niclevicz em 1997. Foram 9 anos e sete meses envolvido com este projeto. Mas, a empreitada do brasileiro foi um pouco diferente da de Richard Bass. Existe uma discussão sobre o monte mais alto da Oceania. Enquanto o norte-americano considera o Kosciuszko, localizado na Austrália, como a montanha mais alta da Oceania, outros especialistas sugerem que o mais correto seria que a Pirâmide Carstensz (4.884 metros – Nova Guiné) fosse a montanha representando o continente. Bass escalou o monte australiano e Waldemar Niclevicz optou pela Nova Guiné.

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O Everest é a montanha mais alta do mundo, são 8.844 metro de altitude. Foto: Karina Oliani

Em 2016, quase 20 anos depois do Brasil marcar o nome no Projeto 7 Cumes, Thais Pegoraro também deixou o seu nome escrito na história ao finalizar todos os sete cumes em apenas 1 ano e 9 dias. Outros seis brasileiros integram a lista dos que já alcançaram este feito, são eles: Eduardo Keppke, Carlos Santalena, Ana Elisa Boscarioli, Rosier Alexandre, Rodrigo Raineri e Gilberto Thoen.

 

Os momentos de crise são perfeitos para pensarmos e repensarmos atitudes, planos e objetivos. A crise global ocasionada pelo Corona Vírus tem levantado uma série de questionamentos sobre economia, hábitos de consumo, saúde, meio ambiente, entre muitos outros assuntos. A realidade é que, mesmo nos momentos mais desafiadores, ainda existem pontos positivos e lições a serem aprendidas. Um desses pontos que ficaram visíveis com a pandemia é como os seres humanos têm afetado a natureza. Em poucos meses, com diversos países em quarentena, os cientistas constataram reduções significativas nos níveis de poluição do ar e da água, mesmo nos países que costumam ter os piores índices, como a China e a Índia. Se em tão pouco tempo, já foi possível ter mudanças tão grandes, imagine o que poderia ser feito com um esforço global de longo prazo? Esse é um dos ensinamentos que a pandemia nos deixa.

O isolamento social aplicado em cidades de todos os continentes, reduziu a quantidade de pessoas nas ruas e acabou ocasionando o fechamento temporário de fábricas e empresas. Como consequência, a quantidade de tráfego nas ruas também diminuiu drasticamente, assim como as emissões de gases poluentes provenientes, tanto de veículos automotivos, como das atividades industriais. Apesar de ter muitos pontos negativos em termos de economia, isso permitiu que cidades como Barcelona, por exemplo, tivesse uma redução de 80% nos níveis de poluição. Nova York, que é uma megalópole que nunca pára, também teve melhora de 50% nos níveis de poluentes na atmosfera. O Centro Global de Pesquisa em Energia e Qualidade do Ar, inclusive, recebeu informes de que a população na Índia estava conseguindo ver a cadeia de montanhas do Himalaia pela primeira vez, graças à redução na poluição atmosférica.

A Itália, que foi considerada um dos epicentros da doença e já tem aplicado o isolamento social há praticamente dois meses, também teve uma demonstração efetiva de como a natureza pode se “recuperar” facilmente se os seres humanos deixarem de poluir. As famosas águas dos canais de Veneza tiveram os melhores índices de qualidade já registrados nos tempos modernos.

Para trazer para o Brasil, um dos maiores exemplos aconteceu na cidade de São Paulo. Apenas na primeira semana de quarentena, a cidade já apresentou níveis de poluição do ar 50% menores do que os registrados normalmente. Apesar de ser um momento de crise global, a natureza está tendo um tempo para “respirar” e essa pausa que a humanidade está dando tem permitido à natureza se recuperar, mesmo que parcialmente.

É claro que esta não é uma situação definitiva, portanto, não é algo que podemos aplicar para sempre para protegermos os recursos naturais. Mas, é um bom momento para refletir em soluções mais ecológicas, buscar opções para reduzir o impacto ambiental pessoal, adquirir novos hábitos e, quem sabe, depois que tudo passar, a humanidade e a natureza possam juntas se curar.

Fazer uma montanha de altitude não é tão simples quanto possa parecer. Mesmo que o caminho até o cume não seja extremamente técnico, apenas o fato de estar na altitude já vai exigir muito do corpo. Isso, sem contar o fato de que cada organismo reage à altitude de formas diferentes. Então, por mais bem treinado que você esteja, este é o tipo de experiência que você só saberá como vai ser no momento em que for realizar.

O Victor Thut decidiu encarar a sua primeira montanha acima dos 6 mil metros de altitude sozinho. A escolha audaciosa lhe custou caro, mas ao mesmo tempo proporcionou uma vivência única, aprendizados e sentimentos se superação que você só vive quando está no limite.

Confira abaixo como foi para ele subir tptalmente sozinho o Nevado San Francisco, na região dos Andes:

“Em dezembro de 2019 eu fiz a minha primeira tentativa de cume >6000m em solitário. Eu subestimei a montanha e paguei o preço. O desafio de estar sozinho e isolado na altitude foi maior do que o planejado. Quando digo sozinho, é isso mesmo. Sozinho. A única coisa viva além de mim que vi nessa escalada foi um pequeno besouro que cruzou meu caminho durante a descida.

Foto: Victor Thut/ @victorthut

Minha estratégia aclimatação era justa. Eu estava fisicamente bem. Ao iniciar a escalada minha cabeça fraquejou. Meu amigo, não importa sua aclimatação, não importa seu vigor físico, não importam seus equipamentos… Se sua mente não está sólida na montanha. Já era!

Ainda no escuro iniciei minha caminhada assustado. Guiado pelo GPS e pela luz da headlamp, eu progredia lentamente. Por incontáveis vezes eu me questionei sobre o que estava fazendo. Por que estou fazendo isso? Por que sozinho? Qual a importância disso? Inúmeras vezes pensei em desistir. Muitas mesmo. Até agora não sei por não o fiz. Eu progredia de forma muito lenta a ainda quase não havia ganhado altitude.

Durante a íngrime subida que leva ao ‘fake summit’, ponto que antecede a fase final da escalada até o cume verdadeiro, algo aconteceu… Sem explicação encaixei uma boa respiração e cadenciei passada não tão lentas e constantes. Quando percebi que finalmente progredia de forma mais eficiente, minha mente começou a ser ocupada por pensamentos bons, memórias agradáveis, amigos, família, equipe… Bingo! Minha cabeça estava mais forte! Era isso que me faltava até então.

Racionalmente analisei o horário e minha velocidade de progressão e decidi que não voltaria. Havia tempo para ir ao cume e voltar em segurança. Descansei um pouco, me hidratei e, impulsionado pela emoção, me conduzi ao cume. Pois é, sem dúvida, nesse dia não foi a razão que me levou tão longe. Foi algo que não sei bem explicar.

Foto: Victor Thut/ @victorthut

Já muito próximo, as lágrimas começaram descontroladamente a escorrer. Elas instantaneamente drenaram toda dor, medo e cansaço. Eu estava magicamente bem e muito feliz! Então, experimentei uma sensação inédita pra mim. Vivi sentimentos que infelizmente não conseguirei traduzir nesse relato…” – Victor Thut

Foto: Victor Thut/ @victorthut
  • Tudo começou numa praia

A The North Face é referência em produtos para alta montanha, ski, escalada e muitos outros esportes que envolvem altitude. Mas, curiosamente, o início dessa história toda foi em uma praia, na Baía de São Francisco, Califórnia. Um casal apaixonado por montanhismo resolveu criar uma loja de equipamentos outdoor a apenas 45 metros do nível do mar.

Foto: Tim Foster / Unsplash – Creative Commons
  • Sustentabilidade

Como bons amantes da natureza, a sustentabilidade está em nosso DNA. Mesmo sendo uma das maiores marcas esportivas do mundo, nós estamos sempre em busca de soluções responsáveis para que os nossos produtos sejam feitos com o menos impacto ambiental possível, agregando valor às comunidades e oferecendo roupas, calçados, acessórios e equipamentos feitos para durar por muuuito tempo.

Mais informações: –> Saiba como os nossos produtos são feitos

  • O mesmo produto há mais de 40 anos

A Duffel é um clássico e isso todo mundo sabe. Mas, você sabia que a história dessa mala incrível começou em 1978? Ao longo de mais de quatro décadas a Duffel ganhou um ou outro acessório e ficou ainda mais resistente, mas a sua essência é a mesma desde o início. Assim como a nossa própria essência!

Um Duffel clássica e cheia de história.
  • A tal da “Face Norte”

No hemisfério norte, a face norte das montanhas é sempre considerado o lado mais difícil de ser escalado. Isso acontece porque é o lado que recebe menor incidência do sol, portanto, também do calor. Em consequência disso, costuma ser a área com mais neve, mais escorregadia e por isso mais íngreme. Mas, como é o desafio que nos move, nada melhor do que escalar as montanhas pelo lado mais difícil.

  • O Half Dome

Se você ainda não sabe, o desenho que nós usamos em nossa logo marca foi inspirado o Half Dome, uma enorme cúpula de granito localizada no Parque Nacionald e Yosemite, na Califórnia. Por muitos anos essa enorme pedra foi considerada impossível de ser escalada. Hoje ela é um dos destinos mais desejados por escaladores do mundo inteiro. Alex Honnold, nosso atleta, inclusive já escalou o Half Dome sem utilizar nenhum equipamento de segurança.

half dome
O Half Dome já foi considerada uma pedra impossível de ser escalada.

O ano de 2019 foi mais um desafio na vida da médica e montanhista Karina Oliani. Não que isso seja um problema, afinal, são justamente os desafios que a movem e isso a gente já sabe há muito tempo. Mas, foi em 2019 que ela resolveu encarar uma das montanhas mais perigosas do mundo, o K2. Durante a temporada de escalada, alpinistas do mundo inteiro se deslocam até a região do Himalaia para escalar as montanhas mais altas do mundo. Karina Oliani estava nesse grupo. O planejamento estava perfeito, tudo caminhava bem, até que, ao chegarem próximo à área de ataque ao cume, uma avalanche acabou obrigando todos os montanhistas a retornarem ao acampamento base.

Dos mais de 100 expedicionários que estavam no K2, sobraram apenas 20, decididos a esperar por uma boa janela de tempo, para tentarem uma terceira e última chance de ascensão ao cume. Karina novamente estava entre eles. A temporada estava acabando e as chances de cume diminuíam a cada dia. Mas, eles estavam decididos e a natureza mandou um sinal, interpretado como uma benção de que daria tudo certo.

A própria Karina Oliani nos contou os detalhes dessa Memória de Montanha :

“Eu estava fazendo uma caminhada pelo glacial pra sair do acampamento base e chegar ao acampamento base avançado do K2. Estava tudo começando a derreter, porque já era final de julho, já estava esquentando muito e a camada de gelo, já bem mais fina, acabou quebrando na hora em que eu pisei. Eu afundei a perna na água do lago que estava congelado, molhei toda a minha bota. Por causa disso, eu parei no meio do glacial para poder tirar a bota e toda a água que estava dentro dela.

Foto: Karina Oliani/Arquivo Pessoal

Nessa hora que eu parei, eu vi pela primeira vez na vida um arco-íris reto, lindo! Eu nunca tinha visto um arco-íris sem ser em forma de ‘arco’. E eu sempre amei arco-íris, sempre fui fascinada, desde criança. É uma coisa que eu olho, saio gritando de alegria, correndo atrás…

Aí, quando eu vi esse arco-íris reto, foi o sinal que eu precisava. Porque já tinha ocorrido aquela avalanche que varreu as duas cordas fixas, mais de cem pessoas já tinham desistido do K2 e apenas 20 pessoas, mais ou menos, ficaram para fazer a segunda tentativa de cume. Então, eu vi aquele arco-íris reto como um sinal pra eu entender assim: ‘tá, pode ir que vai dar tudo certo’!”

Foto: Karina Oliani/Arquivo Pessoal

Às vezes as coisas estão à nossa frente, mas nós não a enxergamos muito bem, ou até enxergamos, mas não vivemos. Essa era a realidade do Gabriel Tarso. Hoje, ele atua como fotógrafo e cinegrafista, especializado em montanhismo, mas teve um tempo em que a visão das montanhas era apenas o plano de fundo da sua vida.

Ele morava muito próximo à Serra Mantiqueira, na cidade de Cruzeiro, perto da divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Quando criança, a paisagem da Serra era a sua primeira visão ao abrir a janela do quarto. Mas, a experiência ficava ali. Até o dia em que ele subiu o Itaguaré. Aí tudo mudou.

Essa Memória de Montanha foi um divisor de águas na vida do Gabriel Tarso. Confira o que ele sentiu e como foi transformado por essa experiência na Mantiqueira:

“Falar de memórias da montanha é um assunto que se mistura com a minha essência mesmo, com a pessoa que eu me tornei desde que a montanha entrou na minha vida. Eu cresci em uma região muito privilegiada, cercada de montanhas, mas foi na minha juventude que eu tive o primeiro contato físico com a montanha. Antes disso eu tinha uma admiração muito grande. Eu cresci em Cruzeiro, uma cidade em São Paulo, perto da divisa com MG, vendo a Serra da Mantiqueira da janela do meu quarto.

A partir da minha primeira ascensão, que foi no Itaguaré, quando eu era bem mais novo, eu precisei re-significar todos os valores que até então eu tinha pra mim. Porque essa experiência foi tão intensa, tão forte, que eu me senti muito pequeno diante de toda aquela grandeza.

Enquanto registrava a corredora Fernanda Maciel no Aconcagua. | Foto: Gustavo Cherro / @gcherro

O Itaguaré tem a visão da cidade de Cruzeiro, que é onde eu vivia, e eu conseguia ver a cidade inteira lá de cima. Esse momento foi de mudança de valor, teve um significado na minha vida muito grande. A partir daí eu não tive muita alternativa a não ser continuar e sempre buscar mais. Hoje eu vivo disso, tenho a minha profissão totalmente ligada a esse espaço. Todo o tempo que eu tenho, eu volto pra Mantiqueira. Tenho sempre essa disposição de voltar ao que me fez mudar, que me fez uma nova pessoa.

Gabriel Tarso escalando a Pedra Baiana. | Foto: Edson Vandeira / @edsonvandeira

Eu tive a oportunidade de viver essa mesma sensação em outros lugares. Eu viajei o mundo inteiro através, principalmente, dessa exposição ao montanhismo. Eu conheci montanhas no Alasca, Antártica, Argentina, Chile, Europa, África, Ásia e muitas no Brasil também. Mas, quando eu falo de memória de montanha, eu penso nos momentos que eu precisei olhar para a minha própria vida. Ter uma condição em que você pode não estar presente mais no instante. São aqueles momentos em que você fala: Puts, se eu pisar errado aqui, pode ser que dê muito errado (risos), pode ser que não tenha volta. Esses momentos, principalmente, me proporcionam reflexões sobre a minha vida. São nessas horas que você relembra tudo o que passou, quais são as condições para você estar ali, as chances de voltar pra casa. Então, estar em perigo, estar em um ambiente hostil, provoca reflexões muito profundas, funcionam como uma meditação intensa e eu gosto muito, porque eu sou muito intenso nas minhas decisões, na minha forma de viver, então, estar na montanha me faz muito bem.” – Gabriel Tarso

Gabriel Tarso em mais um dos 7 Cumes. Registro feio no monte Elbrus, Rússia. | Foto: Arquio Pessoal

Você já deve ter ouvido dizer que, na verdade, não é o homem que decide escalar uma montanha e, sim, a montanha que permite que o homem a escale. Por mais que os planos sejam feitos e todas as etapas de planejamento estejam dentro dos conformes, nem sempre é possível realizar um projeto, principalmente quando estamos falando de conquistar uma das montanhas mais altas do mundo.

O guia de montanha Carlos Santalena já esteve nos maiores picos do mundo e viveu diversas experiências. Se tem alguém que sabe que é preciso respeitar a natureza e também o ensino dos mais sábios e da comunidade local, é ele. Em 2015, uma temporada depois de o Everest sofrer com uma enorme avalanche, ele e o parceiro de escalada Eduardo Sartor, ambos guias da Grade 6 Expedições, planejavam fazer cume no Lhotse. No entanto, por uma força maior, eles acabaram tendo que adiar os planos, mas saíram salvos e imunes de um dos maiores terremotos que já atingiram o Nepal. Tudo isso por conta de um conselho de um Lama que eles encontraram no caminho.

O Carlos nos contou todos os detalhes dessa história. Confira:

“Em 2015 a gente tava no Nepal com alguns grupos de trekking e, como não tínhamos expedições ao cume do Everest, eu e o Eduardo Sartor íamos aproveitar para realizar um sonho pessoal, que era escalar o Lhotse. Íamos só nós dois, então, nós contratamos o serviço de acampamento base e teríamos uma expedição mais autônoma, aproveitando a viagem de trekking que nós estaríamos guiando. Estava tudo organizado no acampamento base. Nós despachamos o nosso equipamento técnico pra lá, que é o mesmo campo base do Everest, guiamos os dois grupos, nos encontramos em um ponto de intersecção das rotas de trekking e seguiríamos, eu e o Du, novamente até o campo base, aproveitando os 45/50 dias restantes para fazermos a escalada ao Lhotse.

Carlos Santale no trekking que leva ao acampamento base do Everest. Foto: Arquivo Pessoal

Tanto com os grupos de trekking, como de expedição, a gente sempre passa pelo Lama Gueshe, que era o Lama mais antigo da região do Khumbu. Ele morava em Pangboshe, a 3.850 metros de altitude. Ele recebia os trekkers e alpinistas, sempre com muito carisma. Todos na região reverenciavam muito ele. O Lama sempre fazia todos entrarem na salinha dele, recitava alguns mantras e depois entregava um pequeno folheto escrito o mantra que ele ensinava. Essa era uma experiência super profunda no meio do Himalaia. A gente fazia questão de sempre passar por lá.

Em 2015, assim como nas expedições anteriores, nós passamos pelo Lama com os grupos de trekking. Depois, quando fomos fazer a subida definitiva, em direção ao Lhotse, nós passamos por lá novamente no Lama Gueshe. A gente comprava as bandeirinhas de oração e levava lá para ele abençoar. Durante a benção, ele canta uns mantras e abençoa as bandeirinhas, para que nós possamos levar para amarrá-las durante o puja, que é a cerimônia feita antes de qualquer escalada na região. Depois desse ritual, o Lama tinha o hábito de entregar um cartão aos expedicionários, em que ele escrevia o nome do alpinista atrás e pedia para que, quando retornasse do Everest, a pessoa deixasse na casa dele uma foto no cume. Então, reza a lenda local que todos os expedicionários que passaram pelo Lama e ganharam esse cartão voltaram vivos.

Recebendo abenção do Lama. Foto: Carlos Santalena/Arquivo Pessoal

Nós passamos por lá e no dia seguinte seguiríamos para o Memorial dos Mortos, a caminho de Lobuche, que está a mais de 4 mil metros, indo para o campo base. O Lama começou a coçar cabeça, abençoou as bandeirinhas e falou: ‘passem amanhã no memorial dos mortos e deixem lá todas as bandeirinhas’. Nós achamos estranho e  perguntamos se não teríamos que guardar nenhuma para ser usada no Puja. Ele disse que não, que deveríamos deixar todas as bandeiras no Memorial dos Mortos e que fizéssemos esse ritual lá. Nós achamos interessante e seguimos essa orientação maior, afinal, era vinda de um Lama. Se ele estava dizendo, nós deveríamos seguir.

Dali nós saímos, no dia seguinte passamos no Memorial, já a caminho do campo base. Eu e o Eduardo paramos lá e levamos um tempo. Eram muitas bandeirinhas para amarrar, fizemos as orações e isso acabou atrasando a nossa chegada a Lobuche. Quando chegamos lá, nós tomamos a decisão de ficar ali, ao invés de ir direto para o campo base. Já estava tarde e ali dava pra descansar no lodge, comer alguma coisa e no dia seguinte pela manhã iríamos para o campo base. Assim que nós decidimos isso, nós sentamos para tomar um chá no lodge e aconteceu o terremoto. A gente sentiu no chão, as mesas começaram a se desequilibrar. O dono do lodge saiu correndo da cozinha dizendo que era um terremoto. Porque, até então, eu achava que podia ser uma avalanche de pedra ou um vento muito forte. A gente saiu super assustado e quando o tremor se acalmou a gente pôde ver algumas paredes caindo no próprio lodge. Esse foi um dos maiores terremotos da história. Matou mais de 9 mil pessoas e, no acampamento base, que era onde nós deveríamos estar, 21 pessoas faleceram por causa de uma avalanche, decorrente do terremoto. As nossas barracas e os nossos equipamentos que já estavam lá também foram pegos por essa avalanche de pedra, o que nos faz entender que, se nós estivéssemos lá no campo base, nós também não teríamos sobrevivido.

Destruição no acampamento base do Everest após terremoto. | Foto: Carlos Santalena/Arquivo Pessoal

Tudo isso para dizer que existem alguns sinais que a gente acaba percebendo posteriormente, e que, nesse caso, veio através do Lama Gueshe, que hoje inclusive já é falecido. Essa é uma memória interessante que nos fez escapar. Talvez sem a instrução dele, nós não estivéssemos mais aqui. No dia seguinte ao terremoto, nós passamos a noite tensos, e quando acordamos pela manhã, nós decidimos ver como estava a situação no acampamento base. Foi ali que a gente percebeu que as barracas haviam sido apedrejadas. Por sorte, nenhum dos integrantes da nosso equipe tinha sido atingido, mas, muitas outras pessoas foram atingidas.

Dali surgiu uma outra oportunidade. Vendo os amigos locais, que nós já convivemos há muito tempo, precisando de ajuda e pedindo ajuda, não tinha como nós, simplesmente voltarmos para o Brasil. Então, foi ali que nós (eu, o Eduardo e o time da Grade6 no Brasil) começamos uma série de projetos sociais. Nós reconstruímos duas casas no vilarejo e continuamos sustentando até hoje um orfanato em Kathmandu. Nós também conseguimos fazer algumas intervenções em relação a água e saneamento em outro vilarejo. Daquele terremoto, que foi uma tragédia, acabou surgindo essa resposta à população local, um retorno por tudo o que tínhamos vivenciado e obviamente foi muito atípico. Depois do terremoto, todos os turistas foram embora e sobrou na trilha eu e o Eduardo sozinhos. Nós ficamos mais uns 20 dias por lá e pudemos contribuir bastante com as doações que vieram do Brasil, fazendo isso lá pessoalmente. Foi um grande prazer e se tornou um dos grandes propósitos, não só meu, pessoal, mas da Grade6 como um todo.”

Carlos e Eduardo Sartor com a comunidade local. Foto: Carlos Santalena/Arquivo Pessoal