Inspiração

O Caminho de Santiago da Compostela é um dos destinos mais famosos no mundo para quem está em busca de uma viagem de peregrinação. Além de ter diferentes opções de rotas, cada um dos viajantes que se aventura por esse caminho vive uma experiência única e intensa. É impossível seguir o Caminho e não passar por reflexões, superação e colecionar uma série de aprendizados.

O fotógrafo e viajante Fayson Merege acabou recentemente o seu Caminho e contou todos os detalhes dessa experiência com a gente. Confira abaixo o depoimento completo:

VIA DE LA PLATA + SANABRÉS

O caminho Via de La Plata + Sanabrés é o segundo mais conhecido a ser feito por peregrinos que desejavam chegar em Santiago de Compostela. Existem 3 opções para começa-lo: Granada, Córboda e Sevilla.

Eu escolhi começar em Sevilha, percorrendo 1007km até Santiago de Compostela. Precisamente, a partir do período medieval, a Via da Prata deixava de ser apenas uma rota comercial para também se tornar o Caminho a ser seguido pelos cristãos do sul da península em sua peregrinação a Santiago.

A rota comercial teve 3 importantes povos:

· Tártaros: Há evidências de que as primeiras aldeias que habitavam a península (incluindo os tártaros) já usavam essa rota para o comércio com as áreas do norte.

· Romanos: Os romanos se aproveitaram para realizar a conquista peninsular e mais tarde foi configurada como uma das principais estradas do império, permitindo a comunicação do sul da antiga Hispânia com a costa da Cantábria.

· Mozárabes: Ao longo dos anos, a rota, além de continuar a desempenhar um importante papel comercial, também foi usada pelos Mozárabes (cristãos que vivem no território de Al-Andalus) como uma rota de peregrinação às áreas do norte onde havia começado a reconquista.

Diferente do caminho ‘tradicional’ francês e mais conhecido, que se inicia em Saint Jean Pied de Port, na França, o Via da Prata tem 207km a mais e um grau de dificuldade consideravelmente maior, seja pelas longas etapas do começo e/ou pelas dificuldades de encontrar lugares para descansar ou, até mesmo, encontrar algum bar/mercado aberto nos horários em que os peregrinos passam pelas pequenas vilas ao longo do caminho.

O Via da Prata é dividido em 34 etapas e cruza 4 Estados da Espanha: Andalusia, Extremadura, Castilla y León e Galícia.

1. Sevilla – Guilhena = 22km

2. Guillhena – Castilblancos = 19km

3. Castilblancos – Almadén de La Plata = 29,5km

4. Almadén – El Real de La Jara = 16,5km

5. El Real – Monastério = 20,7km

6. Monastério – Fuente de Cantos = 22km

7. Fuente – Zafra = 26,5km

8. Zafra – Villafranca de los Barros 20,7km

9. Villafranca – Torremegia = 27,6km

10. Torremegia – Mérida = 16,5km

11. Mérida – Alcuéscar = 38,4km

12. Alcuéscar – Cáceres = 39,5km

13. Cáceres – Cañaveral = 45km

14. Cañaveral – Galisteo = 28,5km

15. Galisteo – Aldeanueva del Camino = 50km

16. Aldeanueva – Fueterroble = 42,6km

17. Fueterroble – San Pedro de Rozados = 29,6km

18. San Pedro – Salamanca = 25km

19. Salmanca – El cubo del vino = 35km

20. El Cubo – Zamora = 33km

21. Zamora – Granja de Mareruela = 40km

22. Granja – Tábara = 28km

23. Tábara – Santa Marta = 23km

24. Santa Marta – Moumbey = 36km

25. Moumbey – Puebla de Sanabria = 33km

26. Puebla – Padornelo = 23km (Não há Albergue e deve-se seguir até Lubián + 10km)

27. Lubián – La Gudiña = 32km

28. La Gudiña – Laza = 35km

29. Laza – Villar de Barrio = 22km

30. Villar – Ourense = 35km

31. Orense – Cea = 23km

32. Cea – Estación de Lalín = 33km (Não há Alberge e deve-se seguir até Laxa + 7km)

33. Laxa – Puente Ulla = 28km

34. Puente Ulla – Santiago = 21km

EQUIPAMENTOS & ACESSÓRIOS

Essa é a principal dúvida quando se inicia o planejamento para uma longa jornada. O que levar? O que realmente é necessário? Qual calçado devo levar?

Primeiro, precisa atentar-se em qual época e estação você fará sua aventura por qualquer caminho de peregrinação até Santiago e pesquisar sobre as dificuldades e tipo de terreno. Aqui vou explanar sobre minha experiência pelo Via de La Plata e o que levei comigo.

Por ser verão e com temperaturas altíssimas, tinha apenas 2 camisetas Dry Fit (que são de fácil lavagem e secagem). Duas calças/shorts. Uma anorak The North Face. Apesar de ser verão, a região da Galícia por ser montanha, tem temperaturas ‘frias’ pela manhã e pela noite. Também levei uma barraca, um kit com colchão de ar, rede para dormir (que usei para me cobrir algumas vezes) e uma garrafa térmica.

Usei um tênis para trilhas, com cravos bem salientes na sola, sendo ótimo para qualquer terreno a se enfrentar. Ele foi extremamente útil na Galícia, quando peguei alguns terrenos escorregadios com pedras e cascalhos.

E também tinha um pequeno kit de primeiros socorros e itens de higiene pessoal.

É importante frisar que o tipo de calçado e meias, são fundamentais para evitar o máximo bolhas e calos.

Ps¹: Se você optar por fazer qualquer caminho de Santiago no verão, recomendo usar tênis que permitem a respirabilidade dos pés e evite o suor excessivo. Opte por tênis leves e confortáveis.

Ps²: Não julgo necessário o uso de botas fechadas para fazer o caminho durante o verão. A escolha de um bom tênis é suficiente.

Ps³: Muitos peregrinos optam por levar sandálias e revezam no uso durante a jornada.

ANDALUSIA & EXTREMADURA

O Caminho de Santiago da Compostela é um dos destinos mais famosos no mundo para quem está em busca de uma viagem de peregrinação. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

O verão espanhol é absurdamente quente. Houve dias em que cheguei a caminhar com temperaturas entre 40 – 43 graus. Retas infinitas e monótonas, sem sombra alguma para se esconder do forte sol. É preciso iniciar a jornada antes das 6h da manhça para evitar o máximo de calor durante o dia, pois, passado das 9h, as temperaturas já ultrapassam os 30ºC.

São etapas duras que ninguém (ou poucos) peregrinos encaram durante o verão. Nas dez primeiras etapas, encontrei apenas 1 espanhol e 1 italiano fazendo a mesma peregrinação. Chegamos a ficar em 2 albergues juntos em cidades diferentes. Em Torremegia, no meu décimo dia de caminhada, encontrei um ‘velho’ alemão. Ficamos amigos e caminhamos juntos por 2 dias. Até ‘roubamos’ uvas em uma vinha de campo aberto em estradas rurais.

Eu olhei para ele e perguntei: ‘Será que essas uvas são boas?’

‘Vamos experimentar para saber’ – Disse ele

E sentamos em meio a terra para degustar as uvas enquanto ríamos de toda a situação.

Por ser muito quente nessa época do ano, os horários de comércio são diferentes. Esse é um fator muito importante a se considerar nesse caminho não tradicional no verão. Geralmente ficam aberto até no máximo 12h30 e só voltam a abrir por volta das 17h. Houve dias em que cheguei a caminhar 8h sem ver absolutamente ninguém. Era eu e minha companhia nas estradas rurais, pequenos bosques e plantações. O corpo é totalmente adaptável a qualquer situação que o colocamos a prova. Embora o calor demasiado e refeições de baixas calorias, manter o corpo equilibrado é o mais importante, fazendo hidratação com água e isotônico. Nas primeiras etapas, houve dias em que a média diária de água consumida era de 4 litros.

No meu caso, o mais difícil era equilibrar tudo o que levava e ter espaço suficiente para armazenar comida e água. Durante minha preparação para fazê-lo, me veio a ideia de gravar um documentário e escrever um livro, visto que há poucas informações em português sobre essa rota. Eu carregava comigo meu drone, uma gopro 5 e 7, a gopro fusion, minha câmera com duas lentes, tripé, barraca, colchão de achar, notebook e vários acessórios. As informações que consegui era que havia poucas opções de albergues para dormir, então, me preveni levando a barraca. Isso também me ajudaria a ter mais liberdade e fazer o caminho conforme meu tempo, deixando o feeling do dia a dia me guiar.

Vivi experiências enriquecedoras no caminho justamente pelo fato de estar livre de datas e ‘obrigações’ com calendário. Eu acordava, andava, parava e voltava a caminhar sem horário específico, apesar ter criado uma certa rotina. Cada dia era uma decisão diferente de como fazer cada etapa, principalmente se eu encontrava paisagens que renderiam fotos e vídeos com ângulos diferentes, mostrando uma outra perspectiva do caminho.

CASTILLA Y LEÓN

Como fotógrafo, procuro criar imagens para mostrar a beleza dos lugares e despertar o desejo de aventura em cada pessoa que as vê. Na foto abaixo, me arrisquei um pouco com o drone. Havia um pouco de vento, que permitia voar com certo cuidado. O ‘problema’ foi que ao estar com ele a 85 metros, o vento ficou mais forte e por alguns segundos foi difícil controlá-lo. Logo baixei para não correr risco, contudo, consegui 3 fotos e um pequeno vídeo que ilustram bem essa parte do caminho com a beleza da região de Zamora.

Imagem aérea da região de Zamora. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

No dia anterior, em Granja de Moreruela, a hospitaleira do albergue disse: ‘Não vá pela montanha ao lado do rio. Está perigoso e recomendamos ir pela rodovia’. Quando estava guardando o drone, o hospitaleiro de Tábara passara de carro na ponte. Parou e perguntou se eu era peregrino. Respondi que era e estava fazendo o caminho. E então ele disse: ‘Faça o caminho por aí (indicando as flechas ao lado do rio). É perigoso ir pela rodovia e um pecado não admirar a beleza desse rio com a montanha’. Senti confiança em suas palavras e fui. De fato, a trilha estava um pouco fechada pelo mato que já crescera e escondendo as sinalizações. Por outro lado, não tinha como se perder, havia apenas um único caminho e bastava segui-lo sem se desviar. O último acesso foi difícil. Uma subida íngreme até o topo da montanha para então ter a vista panorâmica de todo o cânion.

Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

Sem pressa alguma, me atramei por ali. Meu único arrependimento, foi não ter comida e água suficiente para acampar e passar a noite ali. Como não sabia quais surpresas o caminho iria mostrar, estava preparado para finalizar a etapa em Tábara. O que me restou foi curtir e desfrutar do momento enquanto pude. E assim é o caminho, viver cada momento com intensidade. E algo importante que ele nos ensina é sempre agradecer. Infelizmente nós temos o hábito de reclamar de tudo. E dia após dia, caminhando por terras espanholas, fui aprendendo a ser grato por cada mínimo acontecimento que a jornada iria me ensinando.

Voltei a caminhar após cerca de 50 minutos. Era preciso seguir, já passava das 14h e o mormaço estava fadigando. Doze quilômetros e 3h45 depois, eu chegara em Tábara. O hospitaleiro ao me ver chegando, recebeu-me com um sorriso no rosto e disse: ‘Eu tinha ou não razão?’

Na região de Castilla Y León já é possível ter mais contato com natureza, temperaturas mais amenas e ir sentindo os ares da Galícia. A partir da etapa 21ª, a dificuldade passa a ser por algumas trilhas em pedras e pequenas montanhas com subidas íngremes.

GALÍCIA

Anestesiado pela adrenalina de chegar na Galícia tomou conta logo quando acordei. Chegar nessa região era o momento ápice da minha peregrinação. Um sonho a ser realizado podendo caminhar e desbravá-la contornando montanhas. Às 8h45 eu chegava na fronteira entra os estados Castilla y Leon / Galícia (embora a Galícia seja um país não reconhecido). Eu sabia que esses últimos 7 dias para chegar até Santiago trariam as paisagens mais bonitas e as dificuldades aumentariam, de acordo com as subidas íngremes e prolongadas das mesmas. Além disso, as descidas tão acentuadas, iriam ferrar com o meu joelho. Liberdade misturada com aventura. Desafios emocionais deixados a cada etapa. Superação dia após dia. Não foi fácil. Aprendi tanto sobre hospitalidade, que não me sobra tempo para reclamar das dores no corpo. Aprendi tanto sobre solidariedade, que não me sobra tempo para murmurar. Aprendi tanto sobre motivação com outros ‘velhos’, que me fizeram olhar para minha juventude e pensar: Tenho muito a aprender. Sou apenas um ‘jovem peregrino’.

Foto: Fayson Merege

Peregrinando se aprende a conviver consigo mesmo. A superar dificuldades, as dores, o cansaço e o esgotamento mental. Se aprende arte e história, do passado e do presente. Conhecer outros peregrinos com histórias fantásticas, incríveis e surpreendentes. Você se abstém de alguns prazeres em busca de algo maior. Não existe “melhor ou pior época” para peregrinar. Cada qual apresenta suas dificuldades. Independentemente de qualquer circunstância adversa que possa acontecer, o caminho vai fazer aquela mágica para que sua experiência seja exatamente do jeito que você precisa.

Cada pessoa tem sua carga emocional. Seus problemas. Medos. Angústias. Frustrações. Desejos e sonhos. E eles estarão contigo em todo o momento durante a jornada. E mesmo que à sua volta só estejam a sua mochila, seus bastões, seu suor e suas dores (nos ombros e nos joelhos). Mesmo que seus gritos ou canções sejam ouvidos apenas por árvores, pedras ou pelo vento. Só você saberá o valor da conquista de cada etapa.

LEMBRE-SE: Cada pessoa vai te ensinar algo e aprender algo contigo.

O caminho é ao mesmo tempo Solitário & Solidário

Caminhar alguns quilômetros vai te ensinar muito mais do que os livros. Mudanças de cenários e paisagens te contam novas formas de enxergar a vida. Todos nós peregrinamos por algo e o valor não está no êxito do ‘mérito pessoal’, embora seja um grande feito a tão sonhada chegada à Santiago de Compostela. O verdadeiro valor estará em compartilhar lições que aprendemos durante todo o tempo de jornada! Era isso que o Apóstolo Tiago fazia ao jogar sua VIERA no mar:‘É uma forma de disponibilizar o conhecimento adquirido na peregrinação.’

O Caminho de Santiago nos oferece a oportunidade e as ferramentas necessárias para que consigamos cumprir um caminho ainda mais sagrado: o caminho para dentro de nós mesmos. É uma jornada que nos ajuda a encontrar respostas para nossas dúvidas, entendimento na condução de nossa vida e controle de nossos sentimentos, obsessões e pensamentos. Enfim, o Caminho te leva rumo ao seu propósito pleno.

Além de muitos peregrinos que encontramos na jornada, há sempre um local que nos para, puxa um ‘bocadinho de conversa’ e nos conta coisas de suas vidas locais. Foi assim com o ‘seu Pablo’. Na Etapa entre La Gudiña – Laza, encontrei-me com ele por um caminho entre pequenas vilas. Eu estava com a GoPro na mão fazendo alguns vídeos e paramos para conversar. Ele logo perguntou: ‘O que é isso pequeno com essa luz vermelha’ – Expliquei para ele que era uma câmera pequena e eu estava gravando um documentário. Ficamos conversando por uns 20 minutos. Ele perguntou várias coisas sobre o Brasil e até sobre a situação da Amazônia. E no fim, disse: ‘Político é tudo igual. Aqui na Espanha eles só nos roubam’.

Houve diversas situações como essa ao decorrer da peregrinação. Geralmente o encontro era com pessoas mais ‘idosas’ que sempre tinham um sorriso no rosto e diziam ‘Buen Camino’. Hora ou outra, algum puxava assunto e começa o questionário de perguntas. Algo que me chama muito a atenção, é observar a vida cotidiana e, aos poucos, fui pegando o hábito de tomar uma xícara de café nas cafeterias de cada vila (também para pegar o carimbo dos lugares). Houve pessoas que até pagaram coisas para mim, tamanha era a hospitalidade.

Algo que mais me marcou, foi uma família em Villar de Barros que ofereceu comida. Bem, um dos trechos do caminho estava bem mal sinalizado e eu acabei me perdendo. Andei por voltar de 8km a mais até encontrar as flechas amarelas novamente. Cheguei a essa vila extremamente cansado e esgotado. Sem água e comida, torcia para finalizar a etapa logo (12km mais) e encontrar uma fonte com água. Me sentei em frente a uma casa, que aparentemente não havia ninguém. Minutos depois saiu uma senhora (aparentava ter uns 70 anos) e me perguntou se eu precisava de algo. Eu respondi que apenas precisava de água.

Ela entrou em casa e me trouxe além da água gelada, uma cerveja, pão, queijo, salame e frutas. E ainda insistiu perguntando se eu precisava de algo a mais. Quando terminei de comer e arrumava minha mochila, ela ainda me trouxe uma aquarius limão para eu levar. Tudo parece ter uma sincronia. As paisagens variam entre bosques, pequenos afluentes de rios, estradas rurais pelo topo de montanhas e ruínas históricas. Sem contar as diversas vilas que se mantêm vivas ao decorrer dos anos com sua tradição aos peregrinos que por ali passam.

Foram 34 lições, agrupadas em cinco revelações: o Divino está presente, o corpo é frágil, relacionamentos são difíceis, maturidade requer aceitação e tristeza é como sujeira.

Esteja ciente de que você para realizar essa jornada, é preciso ‘perder para ganhar’. Haverá muitos momentos em que os conflitos internos te farão pensar e (re)pensar sobre tudo em sua vida.

Finalizo esse artigo, dizendo 3 coisas importantes:

Superação:

O Caminho de Santiago não é um passeio de final de semana.

Exige tempo, planejamento, cuidados e uma execução bem feita para que o objetivo de chegar à Catedral de Santiago de Compostela seja conquistado.

Bolhas, dores, cansaço e situações indesejáveis como frio, sol quente e chuvas são inevitáveis nessa jornada e isso deixa o Caminho mais desafiador.

Ao final, ter superado todos os desafios nos torna mais forte para os desafios do dia a dia.

Descobrir o sentido da palavra Essencial

Um dos maiores aprendizados do Caminho é que ele nos ensina a viver uma vida com o que é essencial.

Durante a peregrinação, percebemos isso quando incluímos na mochila coisas desnecessárias ou esquecemos de outras que são importantes no nosso dia a dia.

Assim como no Caminho, nossas escolhas afetam diretamente o que colocamos para dentro da nossa vida e isso faz a nossa caminhada ser mais desgastante, pesada e, às vezes, insuportável.

No caminho, assim como na vida, devemos levar o essencial, seja na mochila ou no coração.

Lembre-se que sorriso, carinho e leveza não pesam!

A sintonia entre as pessoas no Caminho de Santiago é incrível. A conexão entre os peregrinos é quase imediata e acontece com um simples e sorridente pronunciamento de um ‘Buen Camino’.

É possível sentir a leveza de cada um que cumpre sua jornada, como se fossemos presenteados por um momento de vida perfeita. Sendo leve e aberto ao outro, o caminho se mostra democrático, eliminando todas as diferenças sociais, étnicas e culturais.

Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

Eu poderia ter feito o caminho em mais ou menos dias. Poderia ter feito mais quilômetros entre etapas. Poderia ter dormido somente na barraca ou nos albergues. Poderia ter caminhado mais rápido e descansado menos. Poderia…

Contudo, julgo ter feito no tempo exatamente necessário ao qual o caminho me propôs. Fui de peito aberto deixando cada dia fluir em sua essência.

*CONTINUAÇÃO DO CAMINHO JACOBEO*

Muitos peregrinos decidem continuar a peregrinação por mais dois pontos importantes da história do caminho. Saindo de Santiago e ir até o ‘FIM DO MUNDO’.

Os peregrinos acreditavam que chegando até Muxía, teriam seus pecados perdoados, pois foi lá que o Apóstolo Tiago teve seu ‘encontro’ com a Virxe María.

Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

De Muxía a Fisterra, o caminho pela costa é conhecido como ‘Costa da Morte’. São 53km contornando as enseadas e precipícios, tendo sempre ao lado o oceano. Em muitas partes, o caminho é extremamente difícil.

Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

Segundo a história, chegar a Fisterra era chegar ao ‘Fim do mundo’. Pois, ali acreditavam ser o último pedaço de terra existente e onde o mar tinha seu início. Para o Apóstolo, todos deveriam jogar a sua COMPOSTELA (a concha) ao mar para compartilhar toda a experiência da peregrinação.

Assim sendo, ao morrerem, teriam suas almas levadas diretamente ao céu.

Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

Ao todo, o meu caminho teve 1150km, sendo: Sevilla – Santiago 1007km + Santiago – Muxía 90km + Muxía – Fisterra 53km.”


Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.