A escalada vai estrear como esporte olímpico em 2020 e o formato de disputa definido pelo Comitê Internacional acabou gerando mudanças no esporte e nos treinamentos de muitos atletas, principalmente para os brasileiros. Isso porque na Olimpíada, a escalada será disputada de forma combinada, ou seja, os atletas vão precisar escalar nas três modalidades: Boulder, Dificuldade e Velocidade e apenas o mais completo de todos vai ganhar.

No Brasil, Boulder e Dificuldade já são modalidades bastante difundidas, no entanto, Velocidade é algo totalmente novo, tanto que nenhum ginásio do país conta com uma parede oficial de escalada em velocidade. No último final de semana a Associação Brasileira de Escalada Esportiva (ABEE) realizou, pela segunda vez, o Campeonato Nacional de Escalada em Velocidade. A competição contou com os principais atletas do país e foi realizada em uma parede semi-oficial instalada na Casa de Pedra, em SP. O evento mostrou que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para disputar entre os grandes na modalidade.

Felipe Ho foi o mais rápido na modalidade Speed no Campeonato Brasileiro de Escalada. – Foto: Carol Coelho/ABEE

Felipe Ho é um dos destaques nacionais na escalada de velocidade. No campeonato recente ele cravou o tempo de 7.93 segundos e foi, de longe, o mais rápido na via. Nós conversamos com ele para entender os desafios do esporte e como ele tem driblado a falta de estrutura do Brasil para evoluir na modalidade e lutar por uma vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Confira a entrevista na íntegra:

The North Face Brasil: Como foi o seu início e a sua adaptação à escalada de velocidade?

Felipe Ho: O meu começo na modalidade de velocidade teve um super incentivo. Eu estava em Arco, com o Cesinha e com a Tati e eu ia competir em três meses no campeonato mundial juvenil de 2017. Aí a Tati, esposa do Cesar, falou assim pra mim: “se você fizer sub-15, você ganha um gelatto de graça!”. Aí na minha primeira tentativa na via de speed eu fiz em 24 segundos e depois de 2 ou 3 meses, trabalhando a via e tals, nos treinos na Europa, eu fui de 24 segundos para 9,5 no Campeonato Mundial Juvenil. Foi bem legal a evolução nesses três meses, até porque foi a primeira vez que eu comecei a trabalhar com seriedade a via. Até então, eu nem conhecia. Nunca tinha tocado na via, só conhecia por vídeo. Depois, a cada ano era uma surpresa, porque eu competia fora em speed, voltava para o Brasil, ficava seis meses sem treinar, sem encostar na agarra, só vendo vídeo e estudando, e voltava pra lá. Meu tempo na primeira ou segunda entrada ia pra casa dos 12 e às vezes já abaixava para 9 baixo. Então, a minha adaptação foi até que rápida.

Eu gostei muito da modalidade. Eu tinha muito preconceito, porque não tem nada a ver com escalada tradicional. Você não pensa muito para escalar, você só reproduz a mesma sequência. Então, eu tinha esse certo preconceito e descobri que é uma coisa que eu me divirto muito quanto treino. Porque é divertido. O treino flui muito, porque você está constantemente caçando ali “milissegundos” e, quando você consegue, é só alegria. Eu me descobri na modalidade e estou satisfeito.

The North Face Brasil: Qual é a principal diferença técnica (além é óbvio da velocidade) entre essa e as outras modalidades de escalada?

Felipe Ho: A principal diferença técnica do speed é que você não pensa para fazer a escalada. Eu costumo explicar da seguinte maneira: quando você aprende a amarrar o tênis, você sempre amarra o tênis da mesma maneira para o resto da sua vida. A primeira vez que você amarra o tênis demora 5 segundos. A milésima vez que você amarra o tênis da mesma maneira vai ser em menos de 1 segundo, sei lá. Porque quanto mais vezes você amarra o tênis, mais rápido você amarrará o tênis. Então, é a mesma coisa com Speed. Quanto mais vezes você escalar a via, mais rápido você escalará. É uma coisa neuromotora, você não pensa para fazer, o seu cérebro só executa ali. É muito bizarro o quão rápido esse estímulo acontece. Porque quando você está fazendo a via e, por exemplo, você acidentalmente erra uma mão, você nem se lembra o porquê você caiu, o que você fez de errado. Porque é tão rápido, que você não tem essa noção. Nas outras modalidades você tem absoluta consciência do que está errado e o que fez você cair. Você tem esse tempo para pensar e analisar tudo. Speed não tem margem para pensamento.

O Brasil ainda não possui nenhuma via de velocidade nos padrões oficiais. – Foto: Carol Coelho/ABEE

The North Face Brasil: Aqui no Brasil essa modalidade é totalmente nova. Em SP, por exemplo, nós ainda não temos uma parede oficial. Existe alguma no Brasil?

Felipe Ho: A parede de velocidade é oficial desde que ela siga as normas e padrões impostos pela federação internacional do esporte. Na América do Sul inteira não existe nenhuma parede oficial. Então, no Brasil, no Chile, no Equador, em qualquer um desses países que são potências da América Latina existem paredes semi-oficiais, que as agarras são copiadas a partir de moldes. Então, a gente, ao invés de importar todo o set de agarrar homologados pelo IFSC, que custa uma fortuna, a gente consegue copiar essas agarras com o molde, fabricar em uma linha de produção e fazer com que isso barateie os custos e viabilize, por exemplo, um campeonato de speed. Além do fato de ser uma modalidade desconhecida e não praticada no Brasil, ela é uma modalidade muito cara de se colocar em um ginásio comercial.

The North Face Brasil: Como é uma parede oficial de escalada e por que é tão diferente treinar em uma “improvisada”?

Felipe Ho: A parede oficial segue essas regras que eu comentei. Então, ela tem 14 metros, 5 graus de inclinação, tem uma rotação específica nas agarras, tem textura na parede. Por exemplo, sendo um pouco mais específico, tem muitas vezes na parede de speed que você desloca o seu centro de gravidade para a esquerda, depois volta para a direita, depois vai para o centro e essa mudança do centro de gravidade muitas vezes te custa milésimos de segundo e quando você soma isso dá quase um segundo. Existem alguns métodos de sequência padronizadas em que você tenta priorizar o seu centro de gravidade para o centro da via, aí você não desloca ele tanto e não perde esses milissegundos, porém, você tem que confiar muito na textura da parede para usar esses métodos mais ousados. O problema é que em paredes semi-oficiais normalmente você não tem textura, então, não tem como treinar isso. E se, vamos supor, você está lá fora e quer treinar esse método para que você abaixe o seu tempo, é muito arriscado. Porque se você vai para uma competição nacional em que não tem textura na parede, você pode perder a competição por um detalhe besta. Então, a gente se encontra em um impasse. A gente quer melhorar o tempo, mas, ao mesmo tempo, a gente tem que ter o pé no chão. Se eu melhorar o meu tempo lá fora, numa parede oficial, que é o que realmente interessa para todo mundo, eu posso comprometer um campeonato nacional, que não tem textura na parede. Porque eu vou usar um método que não funciona.

A Escalada de Velocidade ainda é muito nova no Brasil. – Foto: Carol Coelho/ABEE

The North Face Brasil: O que você tem feito para compensar essa falta de estrutura no Brasil, considerando que nos jogos olímpicos o que vai contar é o resultado do combinado entre as 3 modalidades e os atletas precisam ser extremamente completos?

Felipe Ho: O que eu tenho feito é ir para fora do país, competir e treinar em ginásios internacionais em que eu encontro as paredes oficiais. Tudo isso me aproxima mais do que eu vou encontrar numa seletiva olímpica. Por exemplo, o ginásio em Innsbruck, onde eu estou treinando, é o melhor ginásio para treinar as três modalidades, é o mais completo. Ter as três modalidades durante o seu cotidiano de treino faz com que a gente se acostume com os três tipos de estímulo. Nos primeiros dois meses em que você incrementa isso na sua rotina de treino, é um espanto para o seu corpo. É uma fase de adaptação brutal até que você consiga mostrar algum resultado de evolução nas três modalidades. Porque o seu corpo está constantemente sendo “mutilado” durante os meses de adaptação. Passados esses dois meses você começa a ter um pouco mais de autoridade em relação a esses três estímulos. Na seletiva olímpica a gente vai competir nas três e o nosso corpo tem que estar blindado. Não pode ser nada novo.

The North Face Brasil: No último final de semana rolou o Campeonato Brasileiro de Escalada e a modalidade Velocidade entrou na competição pela segunda vez. Como você sentiu essa disputa?

Felipe Ho: Eu me senti muito confiante, até porque eu estou muito distante de todo mundo que compete no Brasil nessa disciplina porque eu tenho a vantagem de que eu treino essa modalidade fora. Então, é natural que os meus resultados, meu tempo e tudo o mais sejam muito superiores ao de quem treina aqui. A gente está falando aí de uma diferença de quase dois segundos e meio de diferença. Mas, eu não tive muita sensação em relação ao speed. Eu não gosto de competir muito nisso ainda, eu estou aprendendo e espero que nas próximas seja cada vez melhor.

No Campeonato Nacional, Felipe Ho bateu o tempo de 7.93 segundos. – Foto: Carol Coelho/ABEE

Moeses Fiamoncini é um brasileiro que sonha alto. Desde criança ele tinha o desejo de explorar o mundo, subir montanhas e viver aventuras na natureza. Por muito tempo, esse sonho ficou adormecido, até que em 2018 ele teve coragem para conquistar a sua primeira montanha acima de 8.000 metros de altitude. Depois de passar 10 anos viajando o mundo, escalando e vivendo as mais diferentes experiências, ele resolveu se aventurar no Manaslu, a oitava maior montanha do mundo.

Conquistar o cume de uma alta montanha foi a realização de um sonho de criança, mas também foi o despertar para um projeto ainda maior: escalar as 14 montanhas acima de 8.000 metros de altitude no Himalaia, que conta com picos como Everest, Lhotse e K2, que estão entre os mais difíceis do mundo. No último mês, Moeses deu início à concretização deste sonho, quando embarcou para o Everest, em uma expedição que visava duas montanhas num mesmo ataque: Everest e Lhotse. A missão foi concluída com sucesso, mesmo que o paranaense não tenha conseguido alcançar os dois cumes.

Ele voltou recentemente dessa expedição, já se prepara para a próxima e tirou um tempo para nos contar como foi escalar o Everest e quais serão os seus desafios ainda nesta temporada. Confira abaixo a entrevista na íntegra:

The North Face Brasil: Moeses, você acabou de voltar de uma das escaladas mais importantes da sua vida: chegar ao cume do Everest. O que você sentiu ao conquistar o topo do mundo?

Moeses Fiamoncini: O que eu senti realmente foi muito frio. Porque quando estávamos chegando no Hillary Steps, o tempo ainda estava muito bonito, com céu azul e via-se todas as montanhas lá embaixo. Mas, uma hora depois, quando chegamos ao cume, o tempo fechou, nublou tudo. Mal se via a mais de 15 ou 20 metros. Então, o que eu realmente senti foi muito frio e, com certeza, um sentimento de muita realização. Porque, afinal de contas, eu consegui realizar um dos maiores sonhos que eu tinha. Então, foi um sentimento realmente de profunda realização e gratidão, acima de tudo.

Moeses_fiamoncini_everest2
Moeses e Juan Pablo Muhr no cume do Everest. – Foto: Moeses Fiamoncini/Arquivo Pessoal

The North Face Brasil: Na sua expedição você não apenas estava visualizada o cume do Everest, mas incluía também a escalada ao vizinho Lhotse. Por que vocês decidiram fazer as duas montanhas de uma só vez?

Moeses Fiamoncini: As duas montanhas usam o mesmo Campo Base, então, acaba facilitando muito a questão de logística. O que nós fizemos: nós pagamos todo o Base Camp Service para escalar o Everest e pagamos à parte apenas a permissão para o Lhotse. Acaba saindo muito mais em conta. É um pouco mais difícil, com certeza, fazer duas 8.000+ em mais ou menos uma semana. Mas, a questão é que é muito mais fácil e econômico tentar as duas montanhas ao mesmo tempo, visto que eu, Sergi Mingote e o Juan Pablo Muhr todos temos o projeto de fazer as 14 montanhas 8.000+, então, era uma grande oportunidade fazer duas usando apenas uma expedição.

The North Face Brasil: Você acabou tendo que desistir do cume do Lhotse mesmo já estando bem perto, devido às condições do clima. Você pretende voltar lá para fazer essa rota novamente?

Moeses Fiamoncini: Sim, com certeza. Provavelmente no ano que vem, dando continuidade ao projeto Himalaia’s 8.000.

The North Face Brasil: Normalmente os alpinistas que vão para o Everest contam com o apoio de uma agência por trás, sherpas que ajudam a carregar os suprimentos etc. Vocês decidiram fazer a expedição de forma autônoma? Por que?

Moeses Fiamoncini: Isto é uma questão do estilo que nós estávamos tentando escalar. Nós estávamos tentando escalar de uma forma mais alpina, onde não utilizamos sherpas e nem oxigênio. Esse é o estilo do Juan Pablo Murh e do Sergi Mingote também, ele sempre escala as montanhas sem oxigênio e sem sherpas. Então, eu acabei me integrando a essa equipe e fizemos a tentativa do Lhotse sem oxigênio e sem sherpa. O Sergi Mingote acabou desistindo do Everest (ele só fez o cume do Lhotse) por questões de saúde, acabou pegando uma infecção na garganta e teve que desistir. O Juan Pablo Murh fez o cume do Lhotse e depois acabou fazendo o cume do Everest comigo sem oxigênio.

The North Face Brasil: Este foi apenas o primeiro desafio de um projeto pessoal muito maior. Você pretende fazer todos as montanhas 8.000+ nos próximos meses. Como surgiu essa ideia? Em quanto tempo você pretende fazer todas elas?

Moeses Fiamoncini: Esse processo vem desde quando eu comecei a fazer montanha. Sempre acabei fazendo montanhas de 4, 5 e 6 mil metros e a tendência é sempre querer fazer coisas mais altas e mais difíceis. O ano passado eu consegui realizar um grande sonho de escalar o Manaslu, foi a minha primeira 8 mil e lá deu para sentir que realmente eu ia acabar fazendo mais “8 mil”. Já há muitos anos eu sonho com o Cho Oyu (8.201m), sempre foi a montanha que eu pensei em fazer. Montanhas como o Nanga Parbat (8.125m), que você vê no filme “7 anos no Tibet”. Então, sempre tive esse desejo de escalar montanhas de 8 mil, como o K2 também e agora estou aqui, dentro do meu sonho. Daqui a alguns dias estou indo para o campo base do K2 e vou tentar escalar lá. É mais um grande sonho sendo concretizado.

Isso [tempo para escalar todas as 14 montanhas] vai depender muito de patrocínio. Porque as expedições realmente são muito caras e eu acabei escalando só duas por enquanto. Estou indo para a terceira, mas ainda faltam 11 expedições. Isso é uma grande quantidade de verba que eu preciso para concretizar esse grande desafio. Mas, eu tenho muita fé de que vou conseguir patrocínio e espero terminar todas até mais ou menos maio de 2021.

Moeses_fiamoncini_everest
Moeses a 8.300 metros de altitude, com o Everest ao fundo. – Foto: Moeses Fiamoncini/Arquivo Pessoal

The North Face Brasil: Os seus companheiros de Everest seguirão com você em todas as montanhas?

Moeses Fiamoncini: Os meus companheiros do Everest, Sergi Mingote e o Juan Pablo Murh, neste momento estão indo para o Paquistão. Mas, eles vão tentar o G1 e o G2. E eu estou indo para o K2. Então, dessa vez eu não estarei com eles.

The North Face Brasil: Ainda falando de Everest, quais foram as maiores dificuldades que você encontrou por lá?

Moeses Fiamoncini: A maior dificuldade que eu encontrei ao escalar o Everest com certeza foi o perigo do Khumbu Ice Fall, porque ali nós estamos muito vulneráveis. Você nuca sabe quando que uma torre de gelo vai cair na sua cabeça. Então, é uma parte bem perigosa do trajeto. Outra dificuldade também foi tirar a barraca de um campo e colocar no seguinte. Devido ao frio, as mãos congelam e essa transferência de barraca não é muito fácil. Outra dificuldade que eu enfrentei também foi a descida do cume, porque nós descemos em condições extremas, no meio de uma nevasca muito forte, que cobriu todas as cordas fixas e realmente dificultou muito a nossa descida. Levamos quase 7h para descer do cume do Everest até o campo 4.

Moeses_fiamoncini_everest4
Khumbu Ice Fall, um dos pontos mais difíceis e perigosos em toda a montanha. – Foto: Moeses Fiamoncini/Arquivo Pessoal

The North Face Brasil: Antes do Everest a sua única experiência em uma montanha de mais de 6.000 metros de altitude havia sido no Manaslu. Você acha que isso fez diferença na sua performance?

Moeses Fiamoncini: Sim, fez muita diferença eu já ter experiência em uma montanha de 8 mil como o Manaslu, que eu fiz no ano passado. Eu acho que isso deveria ser obrigatório, todos que fazem o Everest terem uma montanha de 8 mil antes, até mesmo para se auto conhecer na altitude. Porque a maior parte dos problemas que eu vi no Everest, quanto a congelamentos e morte foram com pessoas que não tinham muita experiência na montanha.

The North Face Brasil: Qual foi a sua maior surpresa na montanha?

Moeses Fiamoncini: A minha maior surpresa na montanha foi a minha performance sem oxigênio acima dos 8 mil metros, que foi essa tentativa do Lhotse, quando eu cheguei a um pouco mais de 8.300, muito perto do cume, tomando decisões conscientes e estando bem fisicamente, dentro da zona da morte. Para mim, realmente, foi uma grande surpresa. Porque foi a primeira vez que eu estive acima dos 8 mil metros de altitude sem o uso de oxigênio.

Outra grande surpresa foi que quando nós subimos para fazer o ataque ao cume [do Lhotse], nós não descemos mais para o Campo Base. Então, nós passamos 12 noites, acima de 6.500m. Isso para mim foi a maior surpresa, passar tanto tempo assim acima de 6.500m estando bem. Não tive dor de cabeça ou um extremo cansaço. Eu acho que realmente isso foi muito bom para me auto conhecer e saber o meu potencial.

Moeses_fiamoncini_everest1
Retorno após ataque ao cume do Everest. – Foto: Moeses Fiamoncini/Arquivo Pessoal

The North Face Brasil: Apesar de planejar fazer o cume sem o uso de oxigênio, você acabou tendo que usar o recurso quando já estava bem próximo do final. Como foi essa decisão? Existia algum risco real de exaustão?

Moeses Fiamoncini: O projeto era fazer o Lhotse e o Everest sem o uso de oxigênio e sem sherpas. Como eu acabei não chegando ao cume do Lhotse, eu comecei a pensar duas vezes antes de colocar o cume do Everest em risco. Foi aí que eu acabei decidindo contratar um sherpa e levar oxigênio de emergência. Quando nós partimos do Campo 4 rumo ao cume do Everest, eu carreguei uma garrafa de oxigênio comigo e o sherpa carregou uma outra. Já estava muito perto do Balcony, a 8.300 e estava ventando muito, começou a nevar muito forte e eu sempre pensei que eu não poderia chegar perto de um risco de exaustão para começar a usar o oxigênio. Se eu já estivesse exausto e começasse a usar o oxigênio não seria uma boa decisão. Porque, na verdade, se a pessoa já está com exaustão, eu acho que deveria descer e não continuar. Então, antes de eu começar a me sentir cansado, para não colocar o cume em risco, eu decidi usar oxigênio. Eu acho que foi uma boa decisão.

The North Face Brasil: As filas e os congestionamentos no Everest deram muito o que falar nesse ano. Qual é a sua percepção do assunto?

Moeses Fiamoncini: Eu acho que a mídia esse ano fez aparecer como um assunto novo e uma coisa inédita no Everest, mas todos nós sabemos que isso já vem acontecendo há muitos anos, esse tráfego gigantesco no Everest, todos os anos batendo recordes e mais recordes no cume. Eu acho que isso não vai parar, a tendência é aumentar. E todas essas questões que a mídia colocou das mortes pelo congestionamento e tudo, eu acho que não é verdade. Para mim, o que realmente mata no Everest é a falta de experiência e pessoas que não estão capacitadas a um desafio com situações extremas. Muita gente que eu conheci não estava preparada e depois acabam sofrendo as consequências em situações extremas e culpam as filas, culpam outras coisas. Mas, realmente, é a falta de experiência que mata no Everest.

Moeses_fiamoncini_everest6
Acampamento 1 – Foto: Moeses Fiamoncini/Arquivo Pessoal

The North Face Brasil: Como ficou a sua condição física pós-Everest?

Moeses Fiamoncini: Apesar de ter perdido 7kg, eu acho que eu estava bem fisicamente. Porque tudo o que nós enfrentamos no dia do cume, descer em condições extremas, dormir no campo 4, descer do campo 4 para o 2 e depois para o Campo Base e só dois dias depois chegar a Lukla, são dias longos de caminhadas e nós caminhamos tranquilamente. Então, eu acho que eu estava bem fisicamente, mesmo depois de ter tentado o Lhotse e o Everest e ter passado 12 noites acima de 6.500m. No total foram 14 noites do campo 2 para cima. São realmente muitos dias em alta altitude.

The North Face Brasil: O que você tem feito para se recuperar? Quanto tempo você tem até começar a expedição K2?

Moeses Fiamoncini: Eu cheguei em Khatmandu no dia 28 de maio e eu acho que vai dar um total de mais de duas semanas aqui, me recuperando. Eu tenho me alimentado bem, dormido bem e feito algumas massagens, que ajudam bastante. Tenho tentado não fazer muito exercício físico. Faço algumas caminhadas, mas a maior parte do tempo é mesmo repousando.

The North Face Brasil: Como será o roteiro dessa montanha?

Moeses Fiamoncini: O total são 52 dias. Começa no dia 15 de junho e termina no dia 5 de agosto. Nós pretendemos fazer cume entre o dia 20 e 30 de julho. Mais uma vez eu estou indo apenas com o serviço de Campo Base. Isso significa que todos os campos altos serei eu que vou fixar e carregar todas as minhas coisas.

The North Face Brasil: O K2 é considerado uma das montanhas mais técnicas e difíceis do mundo. Você tem algum preparo especial para ela? Qual deve ser a sua estratégia?

Moeses Fiamoncini: Eu acho que a parte mais importante é um bom condicionamento físico e um bom preparo psicológico também. Isso nós acabamos adquirindo com experiência em montanha. Quanto à parte técnica, eu acho que isso é o básico. É quase que impossível ir para uma montanha dessas sem ter conhecimento em escalada mista, rocha e gelo. Eu acho que isso é fundamental em uma montanha como essa. Essa é a grande diferença entre o Everest e o K2. O Everest pode ser considerado bem mais fácil que o K2 justamente por não ter essas partes difíceis e técnicas de escalada em rocha e gelo que o K2 tem.

Minha estratégia para o K2 é provavelmente fazer uma tentativa de ataque ao cume junto com o pessoal que fixa as cordas antes de os clientes fazerem uma tentativa de cume. A minha estratégia, realmente, vai ser escalar junto com eles.

The North Face Brasil: Qual você espera ser o maior desafio do K2?

Moeses Fiamoncini: O maior desafio que nós teremos no K2 será o clima. Isso, com certeza, fará toda a diferença, entre fazer cume ou não fazer cume. Também tem algumas partes técnicas pelo caminho, como o Chamine House e o Black Pyramid, que são partes técnicas, mas isso não me preocupa muito, apesar da toda a dificuldade técnica. Então, o maior desafio seria o clima. O dia de cume também é sempre um grande desafio. O processo de aclimatação também será desafiador. Pelas dificuldades técnicas, eu não sei se farei duas rotações de aclimatação. Provavelmente eu faça uma só e espere pelo dia de cume.

The North Face Brasil: O que vem depois dele? Qual será o 3º desafio e quando ele deve acontecer?

Moeses Fiamoncini: No momento a minha cabeça está focada 100% no K2 e ainda vamos ver como as coisas vão suceder. Mas, talvez em setembro, nós estamos organizando junto com Juan Pablo Murh e Sergi Mingote, uma expedição ao Nanga Parbat

Moeses_fiamoncini_everest3
Parada entre os acampamentos 2 e 3. – Foto: Moeses Fiamoncini/Arquivo Pessoal

 

Neste final de semana São Paulo receberá a 1ª etapa do Campeonato Brasileiro de Escalada de Dificuldade e Velocidade. As disputas serão realizadas no sábado (15) e domingo (16) na Casa de Pedra de Perdizes e contará com competidores nas categorias Pró, amador e paraclimbing.

O evento é organizado pela Associação Brasileira de Escalada Esportiva (ABEE) e o resultado é válido para o Ranking Paulista de Dificuldade. Os principais nomes da escalada nacional estão inscritos para o campeonato, que servirá também como um termômetro do que deve vir por aí na disputa por uma vaga nos jogos olímpicos.

A modalidade Dificuldade acontecerá no sábado (15), a partir das 9h da manhã, quando começam as qualificatórias do Pró. A competição segue durante todo o dia e as finais vão das 19h às 22h. Já no domingo, a programação é mais curta. Como as disputas de Velocidade contam apenas com a categoria pró, o início das classificatórias será às 11h e as finais já começam às 12h30.

Serviço:

Local: Casa de Pedra Perdizes – Rua Venâncio Aires 31, São Paulo

Horário: Sábado – 15/06 das 9h às 22h

Domingo – 16/06 das 11h às 15h30

Acesse o site da ABEE para mais informações.

campeonato_brasileiro_escalada
Etapa de Boulder em 2018. | Foto: Carol Coelho/ABEE

A temporada de ascensão ao Everest está oficialmente encerrada, mas os questionamentos ficam. As fotos de uma imensa fila para chegar ao cume do Everest levantaram muitas críticas e dúvidas. A imprensa global considerou o fato como uma das principais causas para as 11 mortes registradas na montanha neste ano, mas os sherpas e alpinistas que lá estiveram colocam outras coisas em cheque.

De acordo com a cobertura realizada por Alan Arnette em seu site, um dos principais no mundo a acompanhar o dia a dia na montanha, a última equipe a tentar o cume do Everest desistiu no dia 30 de maio. Os números não oficiais são de que 891 pessoas chegaram ao topo do mundo, entre alpinistas estrangeiros e sherpas.

Em seu instagram, a guia Dawa Yagzum Sherpa fez um post falando sobre a falta de preparo das pessoas que estavam nas expedições. Ela estava liderando uma equipe que teve que desistir do ataque ao cume devido à demora na fila e aos riscos da exposição na “zona da morte”. Nas palavras dela: “O Everest se tornou essencialmente uma zona de guerra, com escalador após escalador sendo arrastado ou salvo por Sherpas. O próprio Sherpa que estava conosco teve que resgatar um alpinista de outra expedição e nós tivemos que passar por corpos de pessoas mortas. Todos têm direito a alcançar a glória do Everest, mas, por favor, se você não está preparado e forte o suficiente e se não tem um sherpa forte com você, o mais sábio é ficar longe da montanha”.

View this post on Instagram

Everest has essentially become a war zone with climber after climber getting dragged down or carried to safety by Sherpas. Our own Sherpa group had to rescue climber from another group, and we had to step over dead bodies. Everyone has the right to seek glory of Everest Summit, but please, if you are not prepared and strong enough and if you don’t have strong Sherpas to help you, it’s wise to stay off that mountain.#khumbuclimbingcenter #neverstopexploring #thenorthface

A post shared by Dawa Yangzum Sherpa (@dawayangzum) on

Há anos o lado comercial do Everest tem sido debatido. A grande quantidade de empresas oferecendo expedições lucrativas acaba sobrecarregando a montanha de diversas maneiras, inclusive, por levar pessoas pouco experientes e com baixa estrutura de segurança, colocando em risco muitos outros ao redor.

Filas anormais

De fato, nesta temporada a maior parte dos que tentaram o cume do Everest se depararam com filas descomunais. Mas, isso deve-se a uma série de fatores. A falta de preparo, levantada por Dawa e por outros guias e sherpas, foi um deles. Pessoas com pouca experiência acabavam atrasando ainda mais o deslocamento entre as cordas. Mas, este não foi o único motivo.

No início do mês um ciclone atingiu o Himalaya e atrasou consideravelmente a missão dos sherpas responsáveis por colocar as cordas que levam ao cume do Everest. Além desse atraso, as condições climáticas não foram favoráveis aos escaladores e permitiram apenas três dias de janelas seguras para as tentativas de ataque ao cume. Com um prazo tão curto, centenas de pessoas se deslocavam ao mesmo tempo tentando alcançar o topo da montanha mais alta do mundo.

Vale lembrar que tanto quem está subindo, como quem está voltando do cume do Everest precisa utilizar a mesma corda. O que torna o deslocamento ainda mais lento, técnico e perigoso. Além dos riscos de congelamento devido ao longo tempo de exposição ao vento e às baixas temperaturas, a espera nas filas gera um consumo maior de oxigênio, algo escasso e totalmente limitado em alta montanha.

Para tentar driblar o problema das filas, algumas expedições partem para o ataque algumas horas mais cedo, como aconteceu com o grupo em que o brasileiro Juarez Soares estava. Eles saíram para o ataque na madrugada e chegaram ao cume às 5h30 do dia 22 de maio. Quando estavam descendo, o congestionamento estava no sentido contrário.

Outra opção é tentar a escalada pela face norte. Apesar de ser muito mais difícil, a cada ano mais e mais pessoas tentam o cume pelo lado tibetano. Neste ano, foram registrados 262 cumes (131 alpinistas e 133 sherpas) pela face norte. Na rota comum, pelo Nepal, foram 306 alpinistas, acompanhados de 321 sherpas dando suporte às expedições.

Memorial no trekking do Everest BC. – Foto: Ananya Bilimale/Unsplash

Existem muitos destinos excelentes para esquiar a poucas horas do Brasil

Se você ainda não decidiu qual vai ser o destino desse ano, não se preocupe! Ainda dá tempo de escolher a montanha e também de preparar a mala para aproveitar o melhor da neve.

Nós separamos 4 opções de destinos aqui na América do Sul que combinam tanto com uma viagem rápida como para os passeios mais longos.

  1. Ushuaia – Argentina

Ushuaia é última cidade ao sul do continente. É lá também que está a estação de Cerro Castor, com 31 pistas para todos os níveis de dificuldade. Sua principal vantagem é a qualidade da neve, caracterizada como “powder”, além de estar em um ponto tão extremo da América que a temporada de neve é mais longa. Outro ponto interessante para quem vai viajar em família é a possibilidade de ter espaços próprios para crianças e um Snowpark fora da pista para fazer a diversão dos mais experientes e super aventureiros.

Foto: Ana Elise Ferrari/Flickr - Creative Commons
Foto: Ana Elise Ferrari/Flickr – Creative Commons
  1. Villa La Angostura – Argentina

Localizada a apenas 80 quilômetros de Bariloche, um destino de neve muito mais famoso, a Villa La Angostura oferece um ambiente aconchegante e bem mais tranquilo do que a cidade vizinha. A estação local, Cerro Bayo, tem 25 pistas para todos os níveis e é reconhecida pela ótima infraestrutura e pela vantagem de ter poucas filas.

Foto: Claudius Prößer/Flickr - Creative Commons
Foto: Claudius Prößer/Flickr – Creative Commons
  1. Chillán – Chile

Este é um dos destinos de esqui mais procurado pelas celebridades brasileira na América do Sul. Mas, isso não afeta a tranquilidade do local. Com vista para a Cordilheira dos Andes, Chillán tem a pista mais longe de toda a América do Sul, Las Tres Marias, que conta com 13 quilômetros de extensão. Os hotéis e atrações termais dão um charme extra à viagem. Após se aventurar nas descidas de esqui, é possível fechar o dia com jantares maravilhosos e banhos relaxantes em piscinas quentes cobertas ou ao ar livre.

Foto: Unofficial Squaw/Flickr - Creative Commons
Foto: Unofficial Squaw/Flickr – Creative Commons
  1. Portillo – Chile

Portillo é um complexo de esqui localizado na região do Valparaíso, no Chile. O tradicional hotel Portillo foi construído há, aproximadamente, 60 anos e ainda mantém o estilo clássico. As opções de esqui são para todos os níveis e gostos, além disso, os visitantes têm a opção de praticar também o heliski, uma modalidade extremamente radical, em que um helicóptero leva a pessoa até o topo da montanha, para uma descida fora das pistas convencionais. O hotel também conta com piscinas termais, restaurantes e até uma “balada”.

Foto: Senor Jerome/Flickr - Creative Commons
Foto: Senor Jerome/Flickr – Creative Commons

 

Ela já subiu o Everest duas vezes, já passou por cima de um vulcão em atividade, caçou tornados e aurora boreal, mas acaba de embarcar para o maior desafio da sua vida. No último final de semana, Karina Oliani saiu do Brasil rumo ao Paquistão para escalar uma das montanhas mais difíceis do mundo: O K2.

Para quem não conhece, o K2 é a segunda montanha mais alta do mundo, com 8.614 metros de altitude. Mesmo perdendo para o Everest em termos de altura, o K2 é considerado muito mais difícil de ser escalado. Tanto é que a quantidade média de pessoas que chegam ao cume do Everest todos os anos é praticamente igual à quantidade de pessoas que chegaram ao topo do K2 em toda a história, aproximadamente 300 pessoas.

Até hoje, o único alpinista brasileiro a finalizar o K2 foi Waldemar Niclevicz, que também foi o primeiro brasileiro a completar os 7 cumes. Agora, Karina Oliani também quer ter o seu nome marcado na história ao lado dessa montanha tão respeitada.

Às vésperas de iniciar a expedição, Karina conversou com a gente e contou um pouco do que espera encontrar no K2 e como foi a preparação para essa aventura.

The North Face Brasil: Como surgiu a ideia de escalar o K2, que é conhecido por ser uma das montanhas mais perigosas do mundo?

Eu sempre fui fascinada pelo K2 por vários motivos. O formato do K2 me instiga desde a primeira vez que eu olhei pra ele. Aquela montanha tão íngreme com o formato de uma montanha tão imponente no meio da cordilheira sempre me instigou, sempre me provocou. Eu sempre quis escalar o K2. Além disso, tem a reputação do K2 ser extremamente complicado, a montanha mais difícil do mundo. E eu sempre fui atraída por grandes desafios na minha vida. Eu gosto do que é difícil, do que é complicado. O K2 começa com a letra do meu nome, ela é uma montanha que tem muitas histórias.

The North Face Brasil: Você já enfrentou muitos desafios e tem um histórico de recordes importantes no montanhismo. Você considera essa expedição a mais difícil que você já fez? Por quê?

Eu já enfrentei muitos desafios, não só no montanhismo, só que eu acho que essa vai ser, sem dúvida, a expedição mais difícil da minha vida. Eu esperei até agora, eu estou com 37 anos, e eu acho que agora eu consegui acumular, com 19 anos de montanhismo, a experiência que eu precisava para escalar essa, que é a montanha mais difícil do mundo.

The North Face Brasil: Como você está se preparando fisicamente para essa “missão”? E mentalmente?

Eu acho que o jeito que você melhor se prepara mentalmente para uma montanha é sabendo que você é uma pessoa experiente. É já tendo passado por muitas dificuldades, já tendo passado por muitas situações na montanha e já tendo escalado muito. E aí você sente que você está pronto. Eu senti que eu estou pronta, então eu estou indo. Eu queria ter ido no ano passado, eu estava treinando muito forte, mas aí eu peguei Doença de Lyme, fiquei muito doente e tive que adiar a minha expedição em um ano. Fisicamente, eu estou treinando como eu sempre treinei. Sempre fui uma pessoa muito ativa, sempre fiz um pouco de tudo e eu escalo muito. Eu acho que pra você ser um bom escalador, você tem que treinar escalada. É um treino bem específico. E claro, estar forte muscularmente, estar com os músculos bem alongados e fortalecidos.

k2_
Foto: Qazi Ikram Ul Haq/Pexel – Creative Commons

The North Face Brasil: Como será o cronograma e a rotina da expedição?

Basicamente os primeiros 15 dias eu vou fazer um trekking e a aproximação entre Islamabad, que é a capital do Paquistão, e Concordia, onde fica o acampamento base do K2. Aí, eu chego no acampamento base, descanso e me aclimato, porque já é uma altitude bem razoável, e faço o meu puja, que é a cerimônia de pedir permissão para começar a escalar a montanha. Aí eu começo a fazer um ou dois ciclos de aclimatação e o terceiro ciclo já vai ser o ataque ao cume, que eu pretendo fazer a partir do dia 16 de julho.

The North Face Brasil: Qual é o ponto que você considera o maior desafio dessa expedição?

O que eu considero o maior desafio é, sem dúvida, o K2 ser uma montanha que está em uma cordilheira em que o tempo muda a qualquer minuto e sem qualquer aviso prévio. Então, lá as tempestades e os ventos são muito agressivos. A gente sabe disso. Eu li muito sobre o K2, eu estudei muito a montanha. Eu faço isso com qualquer desafio que eu tiver. E eu sei que é conhecido como uma montanha selvagem por conta disso. Então, a gente tem que estar muito ligado com isso e realmente respeitar os sinais da natureza.

The North Face Brasil: Qual deve ser a maior diferença entre escalar o K2 e o Everest?

A maior diferença entre escalar o K2 e o Everest vai ser a parte técnica. As duas são montanhas de altitude muito extrema, mas a gente sabe que o lado técnico de escalada do K2 é muito mais difícil. Mas, eu gosto de montanhas que eu preciso usar mais técnica e menos força, porque eu posso me beneficiar disso.

K2_KhRizwani_creativecommons
Foto: KhRizwani/Creative Commons

The North Face Brasil: Quantas pessoas fazem parte de uma equipe para esse tipo de expedição?

Eu não curto escalar em grupos grandes. A escalada, por si só, é um esporte que você precisa ter um parceiro, não é recomendado você escalar sozinho, mas eu também gosto que o grupo seja o menor possível.  O meu grupo para essa expedição será de apenas 3 pessoas. Então, a gente vai ter um Sherpa escalando com a gente, que já fez cume de K2 e conhece muito bem a montanha. E aí eu convidei uma pessoa que eu acho que tem bastante capacidade técnica no montanhismo e que é um dos melhores montanhistas que o Brasil tem, o Maximo Kausch. Eu convidei o Pemba Sherpa, que é o meu parceiro oficial, mas ele não quis escalar o K2, porque achava muito arriscado. Ele tem filhos e não achou que vale a pena.

The North Face Brasil: Poucas mulheres já realizaram essa escalada. Isso é algo que te incomoda ou te motiva? Por quê?

Poucas mulheres conseguiram escalar o K2 e voltar com vida. Isso nem me assusta e nem me motiva. Essa coisa de gênero não funciona muito pra mim, eu acho que isso é mais de indivíduo. Tem homens extremamente fortes e técnicos e tem mulheres extremamente fortes e técnicas. Então, não vejo isso muito relacionado ao gênero. Mas, o fato de que pouquíssimos escaladores, comparado com outras montanhas, terem escalado o K2, e até hoje o K2 é a única montanha do mundo que nunca foi escalada no inverno, é algo que me motiva. Eu gosto de desafios complexos e grandes.

The North Face Brasil: Quais produtos The North Face serão essenciais no K2?

90% dos equipamentos que eu estou usando são The North Face. São equipamentos extremamente técnicos, leves, bons e que eu confio. Já usei em outras montanhas e todos eles são fundamentais na minha expedição, desde o meu saco de dormir, que é um Inferno -40C, até o meu macacão de cume, que é um Suit (Himalayan Suit) extremamente quente, muito bom, tem vários bolsos estratégicos para serem usados durante o dia de cume. A minha bota de trekking The North Face é super confortável e não machuca o pé. Eu posso andar mais de 10h por dia, que eu chego com o pé descansado, sem bolhas. As Duffels são extremamente práticas, aguentam neve, chuva. Então, os equipamentos The North Face, sem dúvida, são parte fundamental da minha expedição e eu recomendo para todo mundo que vai fazer uma montanha mais técnica e precisa de bons equipamentos.

The North Face Brasil: Como a galera vai poder acompanhar a sua evolução na montanha?

Dentro do meu site oficial karinaoliani.com.br vai ter uma página dedicada exclusivamente a essa expedição, chama: Expedição K2K. Lá as pessoas podem acompanhar exatamente a posição que eu estou na montanha, ao vivo, conforme eu for apertando o botão do meu Spot e for demarcando a minha posição por GPS.

The North Face Brasil: Qual mensagem você deixaria para as pessoas que acompanham os seus desafios, mas ainda têm medo de sair da zona de conforto?

A mensagem que eu quero deixar pra galera é uma frase conhecida, mas muito real: “Se você acha a aventura perigosa, experimente a rotina. Essa, sim, é mortal”.

Quando você decide fazer uma trilha de longa distância, existem vários cuidados que devem ser tomados antes e durante o trekking. Se preparar fisicamente, escolher exatamente quais roupas e equipamentos levar para que a bagagem não fique pesada e planejar as refeições e hidratação da viagem são alguns dos itens mais essenciais para que a trilha seja bem-sucedida. Nós já demos as dicas de como trabalhar o corpo e a mente (clique aqui para ler o post completo) e hoje nós vamos focar na alimentação!

O norte-americano Lee Welton é personal trainer e também o responsável pelo site Trailside Fitness, que compartilha dicas de saúde especificamente para quem faz trilhas. Recentemente, Welton deu uma entrevista à REI com sugestões de refeições para quem pretende fazer uma trilha de longa distância. As dicas foram realmente testadas por ele e por sua esposa enquanto percorriam a clássica PCT. Alguns dos principais pontos abordados por ele foram os seguintes:

  1. Evite as besteiras

É muito comum e aparentemente mais fácil encher a mochila com doces e alimentos super industrializados. Muitos trilheiros acham que o açúcar refinado contido nesses doces é uma fonte rápida de energia e, de fato, é. O problema é com a mesma rapidez que a energia chega ela também vai embora. Para resolver esse problema, invista em alimentos altamente nutritivos, carboidratos complexos, grãos integrais etc. Além disso, ter uma alimentação pobre em nutrientes vai deixar a sua mente confusa e desejando mais alimentos deste tipo e a recuperação do corpo durante os dias na trilha e pós trilha também será muito mais lenta devido ao déficit de vitaminas e minerais.

  1. Foque no simples

Comer na trilha não é algo tão complexo quanto parece. Na verdade, é justamente o contrário. Quanto mais simples e naturais forem os alimentos, mais nutritivos eles tendem a ser. Algumas sugestões versáteis para ter sempre na mochila são: frutas e legumes desidratados, grãos integrais (ex. granola), pasta de amendoim, chocolate amargo, óleo de coco, entre outras coisas.

trilha_chamonix
Quando você decide fazer uma trilha de longa distância, existem vários cuidados que devem ser tomados antes e durante o trekking.
  1. Aproveite bem as cidades por onde passar

Antes de se entregar a um hambúrguer gigante ou a um prato enorme de comida acompanhados de um refrigerante ou cerveja nas paradas, tente fazer uma refeição de alto valor nutricional com alimentos que dificilmente você consegue na trilha. Iogurtes, queijos, bebidas fermentadas e probióticas são algumas opções. Esse também é o momento exato para consumir vegetais e frutas frescas. Eles vão ajudar o seu organismo a funcionar melhor durante os dias que seguirão e também lhe trarão mais saciedade antes de você iniciar uma refeição mais pesada.

  1. Mantenha o ritmo nos passos e nas refeições

Segundo Welton, o ideal é comer a cada 90 minutos, mesmo que você não esteja com fome. Faça as principais refeições (café, almoço e jantar) com mais valor calórico e nutricional e separe pequenos lanches para ir comendo durante o decorrer do dia. A hidratação também precisa ser constante. Não espere até ter sede para beber água, pois esse já é um sinal de desidratação.

  1. O que comer nas principais refeições?

Welton faz uma lista do que ele costuma comer nas principais refeições:

– Café da Manhã: É o momento de comer mais carboidratos complexos, que serão digeridos lentamente e vão proporcionar energia pelo decorrer do dia. Ele sugere: granola, aveia e/ou pão integral. É possível acrescentar frutas desidratadas e leite em pó, para garantir um pouco mais de gordura e carboidrato à refeição.

– Almoço: Neste momento, a dica é buscar alimentos que garantam proteína e gordura. É possível preparar uma refeição usando alimentos desidratados, principalmente carnes ou cogumelos, que podem ser combinadas com diversos tipos de carboidratos e gordura boa, como azeite ou óleo de coco.

– Jantar: No fim do dia é hora de focar em alimentos que ajudem na recuperação muscular. Algumas sugestões são: feijão, algum tipo de carne ou outra proteína, couve, alho, curry etc. Além de ajudar na fadiga, o alho e o carry, por exemplo, têm capacidade anti-inflamatória e colaboram também para aumentar a imunidade.

 

 

O inverno ainda não chegou, mas as temperaturas já começaram a cair e o Parque Nacional de Itatiaia teve recorde de frio. De acordo com o monitoramento feito pela estação meteorológica instalada no Massena, no último domingo (26), às 7h, os termômetros marcaram -5,2ºC. A temperatura mais baixa até então havia sido registrada no dia 20 de abril, com -4,1ºC.

O Parque Nacional de Itatiaia é o mais antigo do Brasil. Criado em 1937, ele abriga alguns dos pontos mais altos do país, como o Pico das Agulhas Negras, a 2.791 metros de altitude. Por esse e outros diferenciais, Itatiaia foi escolhido para receber duas centrais meteorológicas automáticas, que monitoram todas as características climáticas locais.

As estações estão localizadas em dois pontos: Marcão, a 2.469 de altitude, e Massena, a 2.584. Devido à altitude, é muito comum que o parque registre temperaturas negativas, principalmente durante a madrugada e no início da manhã. O registro deste final de semana foi o menor entre os monitorados em todo o Brasil. A segunda temperatura mais baixa do país foi registrada em Urupema, Santa Catarina.

Dicas para sobreviver ao frio em Itatiaia

O outono e o inverno são ótimas estações para trekking e camping. Apesar de estar mais frio, esse período do ano tende a ser mais seco, e, quem acampa sabe que dormir na barraca em dia de chuva pode dar muito trabalho. No entanto, para que a aventura seja bem-sucedida durante os meses frios do ano, alguns cuidados são essenciais.

Atentar às camadas de aquecimento, usar sempre um isolante térmico adequado embaixo do saco de dormir, ter a barraca certa, evitar a umidade dentro da barraca e nas próprias roupas são apenas alguns dos conselhos que nós damos. Nós já demos todos os detalhes dessas dicas nos posts abaixo, confira tudo e evite problemas durante a sua aventura:

parque nacional de itatiaia
Pico das Prateleiras – Parque Nacional de Itatiaia. Foto: João Paulo Vasconcelos/Flickr – Creative Commons

 

Já teve cume brasileiro no Everest esse ano. Conforme informado pelo Portal Extremos, o capizabaJuarez Soares foi o primeiro brasileiro a alcançar o topo do mundo na temporada de 2019. A chegada de Juarez ao cume da montanha mais alta do planeta aconteceu na manhã do dia 22 de maio. Com isso, ele se tornou o 24º brasileiro a realizar este feito.

O montanhista chegou ao Colo sul, a aproximadamente 8 mil metros de altitude, no final do dia 20 de maio e o ataque ao cume aconteceu praticamente um dia depois, chegando ao topo às 5h30 da manhã do dia 22. De acordo com a agência CTSS, responsável pela expedição em que Juarez está, 100% dos 14 alpinistas que fazem parte do grupo conseguiram subir e descer em segurança. Juarez soares já está de volta em segurança no acampamento 2.

A expectativa agora é pela confirmação do cume do segundo brasileiro no Everest, Moeses Fiamoncini, que escala junto com o chileno Juan Pablo Mohr e como catalão Sergi Mingote. O trio planejava fazer a ascensão completa sem o uso de oxigênio complementar. Mas, em contato com o Portal Extremos, Moeses informou que Sergi Mingote havia desistido e iria subir usando oxigênio, enquanto ele e Juan manteriam a tentativa de finalizar a escalada sem oxigênio.

Durante a madrugada desta quinta-feira o Portal Extremos acompanhou Moeses através do GPS de seu companheiro, Juan Pablo Mohr, e identificou que o grupo estava subindo muito lentamente. O mesmo trecho que Juarez fez em pouco mais de quatro horas, o trio levou oito horas. Nesta manhã, o Portal recebeu a informação, através da agência Seven Summit Trek, que Moeses e Juan Pablo tinham chegou ao cume. Mas, como a agência já passou uma informação errônea sobre a expedição, o site está aguardando o contato do próprio Moeses para confirmar o feito e saber se foi possível realizar a escalada realmente sem o uso de oxigênio suplementar, como eles planejavam.

Outros brasileiros

Inicialmente quatro brasileiros estavam tentando o cume do Everest. Além de Juarez e Moeses, Mauro Chies e Rodrigo Rainieri estavam no Nepal, mas tiveram que abandonar suas expedições por complicações de saúde. Ambos passam bem, mas desistiram de tentar novamente a subida nesta temporada.

Memorial no trekking do Everest BC. – Foto: Ananya Bilimale/Unsplash

 

Correr uma ultra maratona já algo desafiador. Imagine, então, sair do calor do interior de São Paulo, para correr 150 quilômetros em um local inóspito e com temperaturas extremas? Após se aventurar em uma das corridas de montanha mais desafiadoras da América do Sul, o engenheiro e atleta amador, André Arand decidiu ir ainda mais longe e colocar seus próprios limites à prova.

Após algumas pesquisas, ele descobriu a Rovaniemi, uma prova incrível que acontece na Finlândia. Apesar de praticar montanhismo há 20 anos e correr desde 2011, essa foi, realmente, uma experiência diferente de tudo. Os detalhes dos 150 km no frio congelante do Ártico estão no depoimento que ele compartilhou com a gente e que nós trazemos aqui na íntegra. Já adiantamos que os desafios dessa prova não foram o bastante para limitar os sonhos de André, que já planeja voos mais altos e tem como próxima meta encarar 550km no inverno da Islândia sem nenhum tipo de apoio!

Confira os detalhes dessa história:

“Eu estava sozinho, em fase inicial de hipotermia, desidratado e sem conseguir mexer as mãos há 2 horas. Só conseguia pensar em chegar ao único ponto de apoio aquecido, localizado na metade da prova da prova. Já tinham se passado 18 horas e quase 80km, mas eu queria desistir de tudo – o mais rápido possível.”

Foto: André Arand/Arquivo Pessoal

Para compreender melhor a minha jornada, é preciso voltar a 2016, quando concluí os 100km da Ultra Fiord. A prova é considerada uma das mais duras e selvagens do trail run da América do Sul. Uma das grandes dificuldades é o clima instável e imprevisível, justamente o que me encanta na Patagônia. Atravessei a linha de chegada em êxtase e resolvi, a partir daquele momento, buscar um novo projeto, mais desafiador, ousado e difícil.

Após uma intensa pesquisa de provas pelo mundo, analisando pré-requisitos e custos envolvidos, escolhi a Rovaniemi 150km de 2018, na Finlândia. Relatei para a organização meu desempenho na Ultra Fiord e os anos de experiência em alta montanha. Acabei aceito! Ali comecei um extenso período de treinamento. Entre 2016 e 2017, completei provas como os 160km da The North Face Endurance Challenge, no Chile, com altimetria de 9.000m, e também os 214km da Swiss Alpine, na Suíça, com altimetria de 11.500m. E assim, me senti preparado para o desafio – fisicamente e mentalmente.

Embarquei na noite de 14 de fevereiro de 2018 para a Finlândia. Foram mais de 20 horas de viagem até pousar em Rovaniemi. Mas uma surpresa mudou todo planejamento. A companhia aérea havia perdido minhas malas. Na bagagem de mão, eu tinha alguns itens pessoais e um casaco de pluma de ganso Nuptse da The North Face – que comprei em 2002 para a escalada do Huayna Potosí, na Bolívia. Desde então, a peça passou a ser companhia obrigatória nas minhas aventuras. Mas como eu faria para participar da prova? Estava sem equipamentos, roupas, alimentação e primeiros socorros.

No congresso técnico, o diretor da prova Àlex conseguiu emprestado para mim um saco de dormir para 40 graus negativos, um dos itens obrigatórios. À tarde, fui às compras. Após contar minha triste história, recebi apoio de muita gente e ganhei bons descontos. Apesar das peças não serem as ideais, reuni o básico para largar. 

Foto: Javier Guevara/Divulgação – Rovaniemi150

Minutos antes da prova, organizei o trenó, que eu levaria ao longo dos 150km. Tudo ficou improvisado. Porém, estava animado. Já tinha esquecido tudo que havia passado. E assim, com temperatura de -10 graus e um pouco de neve, largamos pontualmente às 9 horas. No início, consegui manter um ritmo bom, considerando a quantidade de neve pelo caminho. Passei por 5 pontos de apoio, muitos simples, que possuíam apenas um caldeirão sobre o fogo. Ao longo da corrida, conversei com muitos atletas, como o sueco Henrik Fredriksson, que tentava completar a prova pela segunda vez, agora na distância de 300km. 

Foto: Andre Arand/Arquivo Pessoal

No fim da tarde, enfrentei o trecho mais difícil: a travessia de uma pequena ponte de madeira sobre um córrego e um longo percurso em meio à floresta, com subidas e descidas íngremes. Este sobe e desce com neve virou várias vezes o trenó, o que derrubou uma sacola pelo caminho – justamente onde estavam minhas luvas grossas e garrafas térmicas com água. À noite, a temperatura chegou a -20 graus. As mãos começaram a congelar. Ao procurar as luvas, percebi o que tinha acontecido. Preocupado, só pensava em avançar o mais rápido possível para me aquecer.

Foto: Andre Arand/Arquivo Pessoal

Mas, em meio à escuridão, avistei uma das imagens mais lindas do universo: a famosa aurora boreal. Por mais de 1 hora, corri acompanhado por essa maravilha. Senti uma energia muito grande, que me garantiu a força necessária para chegar, às 3h da manhã, à metade da prova. Neste ponto, finalmente, encontrei duas cabanas pequenas aquecidas. Eu estava decidido a desistir. Vesti meu casaco, bebi água e me alimentei. Fiquei ali me aquecendo em frente ao fogo durante 2 horas e meia. Até que parei de tremer. As mãos voltaram a ter sensibilidade. Mas sabia que o próximo trecho seria o mais longo sem apoio. Era impossível seguir em segurança sem água e luvas grossas. Foi então que apareceu à minha frente o sueco Henrik. Ele tinha em mãos a minha sacola perdida. Quase não acreditei.

Foto: Virginie Meigné/Divulgação – Rovaniemi150

A animação estava de volta. E após 3h30 parado, resolvi me apressar e prosseguir. Eu precisava completar a distância dentro do tempo limite. A temperatura caiu ainda mais na madrugada, batendo os 25 graus negativos. O casaco de pluma de ganso manteve meu corpo aquecido. Porém os pés e o nariz congelaram, e o cansaço de virar a noite piorava a situação. Eu não podia ficar parado por mais de 5 minutos para não deixar a temperatura corporal baixar.

Nos últimos 20 quilômetros, tive que acelerar o máximo possível, alternando trote e caminhada forte, para completar o percurso em menos de 42h. O trenó parecia pesar o dobro. Faltando 5km para a linha de chegada, de repente, as dificuldades sumiram e passei a curtir a experiência. Corri ao lado de Ahmad Fathium, atleta de Brunei Darussalam, e conversamos sobre curiosidades dos nossos países. Estávamos orgulhosos no nosso pioneirismo em representar países tropicais no frio extremo.

Foto: Julian Amorrich/Divulgação – Rovaniemi150

Nos 150km, 58 atletas largaram em diferentes modalidades, apenas 26 completaram – 15 eram corredores. Cheguei em 13º após 41 horas e 37 minutos, apenas 23 minutos antes do corte. A alegria daquele momento era como se eu tivesse vencido a prova. 

Ao voltar para o hotel, uma surpresa: lá estava a minha mala, recém entregue pela companhia aérea. Meu voo de volta ao Brasil saía em menos de 10 horas. Estava exausto, porém feliz em ter superado as dificuldades. E aquele pensamento…. qual o próximo desafio?”

As bolhas nos pés podem acabar com qualquer aventura. Seja em uma caminhada, trekking ou corrida, ninguém quer passar horas sentindo dor e desconforto por causa de algo tão pequeno, mas tão incômodo ao mesmo tempo. Portanto, existem alguns cuidados que podem ser tomados para prevenir o aparecimento de bolhas e proporcionar maior conforto durante as longas horas nas trilhas.

  1. Use calçados no tamanho correto

É muito comum as pessoas acharem que as botas ou tênis de corrida precisam ser um número maior do que o pé. É verdade que um calçado apertado é totalmente contra-indicado. Mas, usar tênis ou botas grandes demais pode ser igualmente complicado. Enquanto os calçados pequenos apertam os pés e têm, consequentemente, mais atrito entre a pele e as costuras, uma bota grande demais deixa o pé muito solto. Isso lhe obrigará a fazer muito mais esforço muscular, pode sobrecarregar os dedos e as articulações, prejudicar a estabilidade nas passadas e também causar bolhas devido ao movimento dos pés dentro dos calçados. O melhor é comprar tênis e botas no seu número correto. Para ter certeza disso, prove-o junto com uma meia apropriada para corrida ou trekking (pois a gramatura delas também pode variar e prejudicar o conforto) e faça o teste de subir e descer algum local inclinado. Dessa forma é possível perceber como será a reação e conforto dos pés em situações semelhantes à que você encontrará durante a sua aventura.

  1. Atente-se às meias

Quando falamos anteriormente sobre testar o calçado com uma meia apropriada para a atividade física, estávamos falando de modelos desenvolvidos especialmente para os esportes. Na hora de escolher as meias, veja para quais usos ela é indicada e, acima de tudo, observe qual material é o principal em sua composição. As meias de algodão, por exemplo, são proibidas. Elas absorvem muito a umidade do corpo, mas levam tempo demais para evaporar. Caminhar com meias molhadas é a receita certa para o desenvolvimento de bolhas. O mais indicado são as meias de materiais sintéticos de rápida evaporação ou, melhor ainda, as meias técnicas feitas em lã merino. Nós já explicamos todos os detalhes sobre elas e você pode ver tudo aqui. Mas, para resumir, a lã de merino é uma fibra naturalmente eficiente para se adaptar a todos os climas. Ela absorve muito bem a umidade do corpo e também faz com que a evaporação seja muito rápida. Assim, seus pés ficam sempre secos e confortáveis.

meia_trekking
Usar a meia certa faz toda a diferença.
  1. Use proteção nas áreas de mais atrito

Se você observar o seu pé com bastante atenção perceberá que existem regiões mais ásperas ou com a pele mais grossa do que as outras. Isso acontece como forma de proteção do próprio corpo para garantir mais resistência nos locais que costumam ter mais atritos e estão mais vulneráveis. Se o seu trekking ou corrida for muito longo, uma sugestão é proteger essas áreas com um esparadrapo ou micropore. Isso ajudará a reduzir o atrito dos pés com as costuras, prevenindo as bolhas.

  1. Comece a se cuidar antes mesmo da trilha começar

A prevenção é sempre o melhor remédio. Portanto, nos dias que antecedem a trilha, evite usar no dia a dia os calçados que já tendem a deixar os pés mais sensíveis, a fazer calos ou até a fazer bolhas. Hidrate os pés e cuide deles como uma ferramenta essencial para o seu bem-estar em todas as aventuras, seja na cidade ou na montanha.

Nossa missão é inovar e sempre proporcionar o melhor em tecnologia e produtos para que você possa superar limites e aproveitar cada segundo ao máximo. Nós ficamos felizes demais quando vemos que o nosso objetivo foi alcançado e receber o feedback de quem coloca as nossas roupas, calçados e equipamentos à prova é a nossa melhor recompensa!

Recentemente nós recebemos um depoimento muito interessante. O relato chegou até nós através do Denni Morais, que atua como alpinista no Programa Antártico Brasileiro, cujo objetivo é levar cientistas para desenvolverem as mais diversas pesquisas na Antártica. Durante boa parte do ano os pesquisadores ficam acampados nessa região selvagem e nesse período a casa deles é um de nossos clássicos: as barracas VE25.

Confira abaixo, nas palavras do Denni Morais, um pouquinho desse trabalho e da experiência de acampar na Antártica:

“Desde 1982 o Brasil promove expedições ao continente gelado através do Programa Antártico Brasileiro, um programa de Estado Brasileiro onde o foco é a realização de pesquisas científicas que são revertidas para a sociedade brasileira em inúmeras áreas! As pesquisas desenvolvidas abrangem desde temas relacionados à mudança climática até a produção de fármacos contra variadas doenças.

Desde 2014 venho participando das expedições antárticas como alpinista do programa, desenvolvendo atividades que giram em torno da segurança dos cientistas durante as pesquisas, e isso envolve desde a manutenção de grandes acampamentos de longa duração, condução segura em deslocamentos em terreno técnico, até o gerenciamento de recursos garantindo a nossa permanência evitando imprevistos.

Entre dezembro de 2018 a fevereiro de 2019 estive na Ilha de James Ross, a região mais ao sul onde o Brasil atua, e tive a oportunidade de trabalhar com Paleontólogos brasileiros em busca de fósseis na Antártica. Sim, a Antártica tem fósseis do período Cretáceo e são encontradas desde pequenas conchas, até ossos de Dinossauros de 60 milhões de anos.  Muitas pessoas pensam que a Antártica é só gelo. Não! A Antártica tem grandes regiões livres de gelo, e a Ilha James Ross é uma delas! Durante nossa permanência de 50 dias acampados nesta ilha em muitas oportunidades nos aproximamos de grandes glaciares e tivemos a oportunidade de apreciar grandes calotas de gelo com centenas de metros de altitude ao arredor. Sem dúvida um cenário único e tocante.

Foto: Denni Morais/Arquivo Pessoal

Mas onde a The North Face entra nessa história? A clássica barraca de 4 estações VE25, usada pelas montanhas mundo afora, desde a travessia da Serra Fina até o acampamento 4 do Everest a 8000 metros de altitude, também é usada pelo Programa Antártico Brasileiro, pelo menos desde 1995. E neste ano estreamos a última versão deste clássico relançado em 2017 com algumas pequenas melhorias, como por exemplo, a substituição do velcro pelo zíper no acesso superior da barraca, mantendo o desenho que consagrou a barraca por tantos anos.

Mas, usar um material tão técnico na Antártica é necessário? Sim, sem dúvida! Apesar dos acampamentos ficarem geralmente entre os 100 e 400 metros em relação ao nível do mar e muitas vezes próximo do oceano, essas regiões se assemelham muito a uma altitude de 4000 metros, devido ao frio polar e principalmente pelos ventos. E os ventos são a marca registrada da Antártica, sendo muito comum enfrentar ventos de 120 km/h durante as tempestades. O desenho geodésico da VE25 com ótimo desempenho aos ventos e suas cinco varetas de alumínio nos trazem muito conforto e tranquilidade devido à grande segurança proporcionada.

Foto: Denni Morais/Arquivo Pessoal

Ao longo dos anos, algumas técnicas foram adotadas pelo Programa Antártico, para um melhor resultado no uso das barracas num ambiente tão inóspito, como por exemplo, o uso de grandes estacas de aço com 40 centímetros para garantir uma boa ancoragem em solos muitas vezes arenoso e a utilização de sacos de ráfia carregados com areia para a proteção de ventos fortes e grandes nevascas, além de sustentar suas “saias” em substituição a pedras que poderiam danificar a barraca.

Com isso, espero ter trazido um assunto tão pouco divulgado entre os brasileiros, que é a atuação do nosso país no continente gelado, onde contamos com produtos feitos com muita qualidade e tecnologia para sustentar nossa permanência num clima tão diferente de nossas terras tropicais.

Boas Aventuras!”

Foto: Denni Morais/Arquivo Pessoal