Desde o início da nossa viagem não víamos a hora de acampar. Na verdade não somos pessoas que gostam de acampar por acampar, nós gostamos da experiência que envolve o acampamento: fazer uma trilha para um lugar tão longe que você tem que acampar para voltar só no dia seguinte ou viajar para um lugar remoto onde não tem outra opção para passar a noite a não ser na barraca, por exemplo.
Na semana anterior nós tínhamos ido conhecer um sítio arqueológico que conserva parte de um legado espiritual dos povos antigos que viviam nessa região da Patagônia Argentina. Foi uma experiência muito especial conhecer as artes rupestres conservadas no local e conhecer um pouco mais da cultura dos povos antigos através histórias contadas pela proprietária do lugar, a Adriana, uma mulher com uma energia especial.
Ficamos encantados com o local e um dia depois vimos que ali ficava uma caverna, com umas falésias com vista para o Lago Argentino e a Cordilheira dos Andes. Não perdemos a oportunidade e perguntamos se poderíamos passar uma noite por lá. Caminhamos por aproximadamente 4km uns dias depois para chegar na caverna, onde passaríamos a noite. Armamos a barraca, fizemos fogo para o jantar e passamos a noite por lá, em uma noite com o céu muito estrelado. Foi uma experiência bem diferente: acordar com a vista para o Lago Argentino, em um dia perfeito e naquele lugar, com tanta história, foi mágico.
Alguns dias depois, caiu muita neve aqui na cidade. Segundo os locais, não havia nevado tanto assim há uns bons anos. Claro que o Ale não poderia perder a oportunidade: pegou o equipamento dele de esqui e foi para a pracinha no centro da cidade andar de esqui. Sim, é isso mesmo, ele foi em uma rua com inclinação que havia sido fechada por causa da neve para andar de esqui.
Pouco depois disso, descobrimos que tem um pequeno centro de esqui em El Calafate, que sempre estava fechado por conta das condições meteorológicas, mas que, nesses dias, abriu em razão da quantidade de neve que caiu. Fomos todos esquiar por lá. Embora seja um centro de esqui bem pequeno, foi uma experiência bem legal poder conhecer melhor as pessoas da região e tomar uma cerveja no bar depois de esquiar o dia todo.
Para fechar as últimas semanas com chave de ouro, o Ale foi convidado por um guia de montanha da região para subir o Cerro Moyano e descer esquiando. Foram o Ale e outros dois amigos para um dia perfeito de ski backcountry, com sol e muita neve virgem para eles esquiarem. Foram 4 horas de uma subida bem cansativa para descer esquiando por apenas alguns minutos, um esforço que certamente valeu à pena.
Poder viver tudo isso nos faz estarmos cada dia mais felizes com a escolha que tomamos. Tivemos que abrir mão de muitas coisas, mas estando na estrada, definitivamente, não são essas coisas que fazem falta. Damos cada vez mais valor às experiências que estamos vivendo do que às coisas que temos ou tínhamos.
Não acredito que viver de forma minimalista seja fazer voto de pobreza ou deixar de lado as coisas materiais. Inclusive, na sociedade em que estamos isso seria praticamente impossível. Nós acreditamos que viver de forma minimalista é ter bens materiais que são importantes e fazem sentido para a nossa vida. Para nós, é mais sobre viver experiências do que sobre ter coisas. Afinal, no fim da vida, não vamos lembrar do modelo do carro que tínhamos, mas sim daquele dia que acampamos em uma caverna onde viveram os nossos antepassados.