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A cafeína é um dos suplementos alimentares mais consumidos por atletas em todo o mundo. Dos amadores aos profissionais, é muito comum ingerir algum percentual de cafeína em alimentos pré-treino ou termogênicos. Mas, um estudo publicado recentemente na revista científica Medicine and Science in Sports and Exercise, avaliou a forma como diferentes perfis genéticos reagem a este componente e concluiu que nem todos são beneficiados pelos tradicionais efeitos da cafeína.

O senso comum é de que alimentos ricos em cafeína possibilitam um aumento na performance e tendem a deixar os atletas mais acelerados e até mesmo mais rápidos. Porém, o que os cientistas da Universidade de Toronto, liderados pelo especialista em ciência da nutrição, professor Ahmed El-Sohemy, descobriram é que os efeitos deste componente variam de acordo com a carga genética.

O estudo foi feito com 101 atletas de diferentes modalidades, avaliados em uma série de três treinos de ciclismo, com a distância de 10 km. Em cada uma das avaliações, os atletas receberam diferentes doses de cafeína, sendo que na primeira experiência a dose foi zero (placebo), no segundo treino a dose foi média (2 mg/kg corporal) e na terceira bateria a dose foi a mais alta: 4mg/kg.

Se apenas o resultado médio fosse considerado, os pesquisadores diriam que a cafeína ajuda, sim, a elevar a performance. Já que na média global, os atletas foram 3% mais rápidos com a alta dose de cafeína, comparado ao placebo.

Mas, o estudo não acabava aí. Como o intuito era entender como a cafeína age em diferentes organismos, eles focaram as análises em avaliações mais detalhadas, baseadas no DNA de cada participante. A avaliação se concentrou em um gene chamado de CYP1A2, pois mais de 95% da cafeína que nós ingerimos é metabolizada por uma enzima codificada por este gene.

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Alex Honnold acampando em Green River, Utah. – Foto: Celin Serbo.

As pessoas que possuem o gene na versão AA são consideradas rápidas metabolizadoras, absorvendo a cafeína rapidamente. Os indivíduos na versão AC ou CC permanecem com a cafeína no corpo por muito mais tempo, sendo os CC os mais lentos neste processo.

Diante dessas informações, os cientistas descobriram que os atletas do grupo AA são os que obtém melhores resultados após a ingestão de cafeína, tendo o rendimento melhorado em 4,8% com a dose menor de cafeína e em 6,8% com a maior dosagem. Na outra ponta, com os atletas cujo gene se encaixa no perfil CC (apenas 8% dos integrantes), o efeito foi totalmente o inverso. De acordo com os cientistas, quanto mais cafeína esse grupo recebeu, pior foi a performance. Ao tomarem a dose mais alta de cafeína, eles chegaram a ser 13,7% mais lentos. No grupo intermediário as diferenças na performance não foram significativas.

O resultado gerou uma série de questionamentos, para os quais os cientistas ainda não têm uma resposta definitiva. O que se sabe, por enquanto, é que a cafeína exerce efeitos positivos e negativos em qualquer pessoa. Pelo lado positivo, ela ajuda a modificar a forma como o cérebro percebe a dor. Mas, a hipótese de El-Sohemy para a influência negativa é de que que a cafeína resulta em uma contrição das veias sanguíneas, o que pode prejudicar a circulação do sangue durante a prática de exercícios.

Vale lembrar, que os estudos foram feitos com atividades físicas de alta intensidade, mas em um período curto de apenas 18 minutos. Os pesquisadores ainda não avaliaram quais seriam os efeitos da cafeína em períodos mais longos nos atletas com diferentes perfis genéticos.

Clique aqui para ler o estudo.

 

 


Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.