Destinos Inspiração

 

Por Fernando Chevchuk

“Antes de pousar em Quito, capital do Equador, já é possível visualizar alguns vulcões cobertos de neve ao redor da cidade, precisamente 84 em todo território. Eles são divididos entre extintos, adormecidos, potencialmente ativos, ativos e em erupção. O mais impressionante é que o país tem vulcões com todas as classificações! Cada vulcão tem a sua personalidade, humor e estado de espírito. Isso torna esses gigantes de lava e gelo, formações especialmente únicas.

É também impressionante ver tantas pessoas vivendo próximo aos vulcões. A população tem como sua maior fonte de renda a agricultura e isso só é possível pois as grandes erupções fornecem cinzas ricas em minerais que fertilizam o solo. Ao longo do tempo, a terra é reabastecida com mais minerais tornando-se cada vez mais rica e produtiva.  Em minhas observações, notei que Quito é atravessada por diversas falhas geológicas. Além disso, a cidade fica em um planalto Andino e próximo a ela está o Rucu Pichincha, o primeiro vulcão da minha expedição.

Acessível e o mais visitado, Rucu possui um teleférico que leva até a parte alta da montanha (quatro mil metros de altitude), depois é só seguir por uma trilha que é bem demarcada. Nessa altitude é notável a mudança na vegetação. Lá do alto, é possível observar a caldeira que colapsou durante sua última erupção e causou a destruição de Quito, em 1859.

Ao chegar na Reserva Ecológica do Vulcão Illiniza, fui recepcionado pela formação de seus dois picos – Illiniza Sul e Norte. Antigamente os picos compunham uma única formação rochosa, mas suas erupções acabaram dividindo a grande montanha em duas partes. Moradores e guias locais contam que antes do colapso essa era a maior montanha da América, ultrapassando até mesmo o Aconcágua.

O Illiniza Sul é uma montanha técnica e exige experiência. O fato de ser 119 metros mais alto que sua irmã Norte, faz com que receba todos os ventos do Sul, mantendo seu glaciar e deixando o cume sempre nevado. O Illiniza Norte tem uma formação de rochas magmáticas com um tom amarelado, devido a quantidade de enxofre e outros produtos provenientes das erupções. O percurso leva em média oito horas entre subir e descer.

A próxima parada foi o vulcão Cayambe, terceiro maior do país. A escalada não durou muito. Devido a uma grande tempestade, tivemos que descer por conta do risco de descargas elétricas. Do alto, podia ver as inúmeras lanternas das outras expedições regressando ao refúgio. Era o último dia do ano e mesmo sem chegar ao topo, a felicidade estampava o rosto do grupo por ter vivido essa experiência incrível e poder voltar em segurança.

O Chimborazo era o próximo da lista. Com 6263 metros é o maior vulcão do país e é conhecido também como a maior montanha do mundo por ter seu cume como o ponto mais distante do centro da Terra. Não consegui chegar ao refúgio base por conta de uma nevasca e a quantidade de gelo depositada na estrada.

A expedição durou ao todo 14 dias. Conseguimos escalar com sucesso quatro dos seis vulcões que faziam parte do planejamento. Claro que isso não impediu a diversão e a vontade de explorar.

Saindo do Parque Nacional do Chimborazo, fui para Baños, uma cidadezinha aos pés do vulcão Tungurahua conhecida por oferecer diversos esportes radicais e agradáveis termas. Fizemos um trekking de 12km imersos a Amazônia Equatoriana. No final do percurso, é necessário atravessar o rio Pataza. A travessia é feita em um “tarabita” – teleférico um tanto quanto rudimentar em forma de cesto, que nos proporciona uma visão privilegiada do vale.

A escalada do dia seguinte foi a do Vulcão Antisana, assustadoramente lindo e imponente. A Reserva Ecológica do vulcão, é composta por grandes planícies chamadas de Páramo e uma vasta diversidade de animais selvagens. Pelo caminho algumas bombas vulcânicas (massa de rocha fundida de magma lançada por erupções vulcânicas que se solidifica no ar antes de tocar o solo).

Essa montanha tem uma escalada técnica que requer experiência, pois o caminho é cheio de fendas, pontes e paredes de gelo. Sabia que ali não era um lugar para dar margem para erro em hipótese alguma.

Era meia noite quando saímos para ataque ao cume. A noite estava linda e a lua cheia nos acompanhou em todo o caminho. Ao adentrar no glaciar me impressionei com a quantidade de gretas e paredes verticais logo no início da escalada, mal sabia que ia ser assim até o final! Por ser um vulcão pouco visitado, o caminho acaba sendo apagado pela neve e assim temos que subir abrindo a trilha. Pela primeira vez tive a oportunidade de escalar um vulcão sozinho, pois nesse dia não tinha outros grupos realizando a escalada. Foi um grande privilégio poder realizar essa ascensão!”


Escrito por

Rachel Magalhães

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM. Apaixonada por aventuras, ama viajar, conhecer novos lugares e estar em contato com a natureza. Faz parte do time da The North Face há nove anos.