Dicas Inspiração

Cânions do Brasil – Piauí & Alagoas

O Brasil tem uma diversidade imensa de cânions, embora a maioria sejam desconhecidos como atração turística dos destino nacionais. É bem provável que tu tenhas ouvido falar ou conhece os Cânions do Sul (será nosso próximo post sobre esse projeto), mas para esse destino, vamos para o Nordeste; especificamente para o Piauí e Alagoas.

Sabe aquele ditado: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”? – Então, ele define bem a “tradução” quando falamos sobre Cânions. De forma resumida, a formação deles envolve erosão fluvial, ação de calor, vento, chuva e desmoronamentos. As modificações tem suas feições ao longo do tempo e obviamente estamos falando de milhões de anos para que hoje fosse possível vê-los dessa forma.

O Nordeste possui “tesouros escondidos” entre a Caatinga e o Sertão. Paisagens que se modificam conforme a transição das estações  mostram como a natureza é adaptável e sabe o que faz.

Eu e mais dois amigos fotógrafos (@cassio.aranovich e @rodrigobarretophoto) viajamos por 20 dias explorando cenários e paisagens deslumbrantes ‘redescobrindo o Brasil’. Então se liga nas dicas e já salva esses lugares para sua próxima aventura.

Cânion do Rio Poti

Localizado no município de Buriti dos Montes, a 230km de Teresina; encontra-se o Cânion do Rio Poti. Acredita-se que a paisagem tenha se formado através de uma falha geológica provocada por um terremoto há 400 milhões de anos.

Em sua extensão de 8km de leito do rio, é possível fazer canoagem, navegação de barco (voadeira como eles chamam), trilhas na parte superior até rapel. Há alguns pontos onde o barco para e é possível fazer uma escalaminhada chegando à parte superior e assim seguir as trilhas que levam a uma cachoeira. Há a possibilidade de acampar na fazenda do Enjeitado, que é o ponto de acesso ao Cânion.

Como a época de chuvas no Piauí deixa o acesso ao cânion um pouco mais difícil e a água mais “barrosa”, o melhor período para visitar a região é depois desse período (mais precisamente entre julho à dezembro). Nossa visita foi em abril, e na noite que acampamos na fazenda, o mundo desabou em água (risos de nervoso). Na manhã seguinte, o dia amanheceu nublado com alguns resquícios de sol durante o dia. Para qualquer atividade, é preciso contratar guias e pagamos o valor de R$300 no aluguel do barco para o dia todo (R$100 por pessoa).

A pequena cidade que abriga os Cânions possui pouca infra estrutura, mas é possível comer um PF por R$15 e hospedar-se em um quarto individual por R$80 no Canyon Poty Hotel.

O barco chega ao ‘ponto final’ onde tem várias rochas caídas entre os paredões com mais de 60 metros de altura. A cachoeira fica 3km desde esse ponto e só é acessível via trilha. Nós acabamos não fazendo devido ao volume grande de água e pedras bem escorregadias pela umidade.

Em 2016, a UNESCO já havia sinalizado em transformar o cânion do rio Poti e a natureza ao redor em um Geoparque, que, de acordo com informações do CPRM, é uma marca atribuída pela Rede Global de Geoparques, por meio da UNESCO, onde sítios do patrimônio geológico representam parte de um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável.

Em 2017, o governo estadual publicou um decreto em que criou o Parque Estadual do Cânion do Rio Poti, compreendendo uma área de mais de 24 hectares de superfície e de 118 de perímetro.

O parque é uma unidade de preservação ambiental que, além do cânion, protege cerca de 1.400 espécies de animais que o espaço abriga e áreas com vegetação de caatinga e de arte rupestre.

Dentro do Parque Nacional Serra da Capivara e o Sítio João Pimenta (propriedade particular anexo ao parque) temos vários desfiladeiros. Para alguns, pode-se considerar Cânions por suas formações rochosas; embora chamem o lugar de “Baixão das Andorinhas”, pois na hora do pôr do sol milhares visitam o lugar.

Há trilhas acessíveis na parte de baixo para visitação de grutas e cavernas. Para ter acesso ao parque, é necessário guia, então atente-se a isso. São diversas trilhas e circuitos possíveis de fazer e cá entre nós, 3 dias de visitação é pouco para conhecer tudo o que a região oferece.

Cânions do Viana

 

Localizado em Bom Jesus ao sul do Piauí, encontramos os Cânions do Viana, 600km da capital Teresina. O maior encanto desse passeio é, sem dúvida, a imensidão do local e a paisagem que mais parece cenário de filme. O ideal é ir sem pressa, observar todos os lados e se encantar com os paredões formados há milhões de anos graças às ações da água e dos ventos.

A estrada até os cânions é uma grande aventura. Feita em zigue-zague para acompanhar a formação das falésias, em diversos pontos do caminho a impressão que se tem é a de que ela chegou ao fim, mas é só seguir adiante para perceber que ainda tem muita coisa pela frente. O percurso total dos cânions é de 30 km, acessível apenas por veículos 4×4 e o ideal é começar bem cedo para aproveitar.

Dica valiosa: geralmente, quando a manhã está acabando, as muralhas fazem sombras imensas, que diminuem o calor. A região dos cânions é conhecida também por ser fresca, devido aos ventos constantes, então não precisa se preocupar: o calor estará presente, mas haverá sombra e vento para melhorar a situação (ou não rs).

Só é possível ter noção da dimensão desse lugar, fazendo um sobrevoo ou voando drone. Obviamente ao passar entre os paredões pela estrada de chão com bancadas de areia, fica-se maravilhado ao vê-los com seus mais de 100m de altura e uma estrada que parece não ter fim.

Ainda não há nada ‘exploratório’ dentro dos cânions como trilhas, apenas uma “caverna” em um determinado ponto da estrada perto de algumas fazendas.

Outra característica do local é o fato de que, em cima das formações rochosas, a vegetação não é muito alta, e o contraste de cores deixa a paisagem ainda mais bonita – e se é de beleza que você gosta, a região dos Cânions do Viana tem muitas palmeiras aos pés das formações rochosas, garantindo um cenário cinematográfico.

Em alguns pontos acredito ter um potencial imenso de escalada e rapel. Acho que em breve, esse tipo de turismo será feito na região.

Como fotógrafo, meu trabalho se baseia na busca por novos lugares, novas experiências e novas histórias. E fico feliz em poder documentar essas paisagens ajudando na divulgação e promovendo turismo para região.

E aí, impressiona ou não esse lugar?

Cânion do Xingó

 

Os Cânions do Rio São Francisco (mas conhecido popularmente como Xingó, é devido a região ter esse nome). Porém, a formação aconteceu devido a usina hidroelétrica da região, concluída 1988 e, a partir disso, a paisagem nos cânions começou a mudar drasticamente.

De pouco a pouco, a represa foi enchendo e inundando os cânions, criando uma impressionante paisagem dominada pelo verde da água e pelo alaranjado dos paredões.

Em 2009, o governo brasileiro criou o Monumento Natural do Rio São Francisco para proteger uma área de, aproximadamente, 26.700 hectares entre os estados de Sergipe, Bahia e Alagoas.

Esta área de proteção ambiental abrange quatro cidades: Canindé de São Francisco, em Sergipe, Delmiro Gouveia, Olho d’Água do Casado e Piranhas, em Alagoas, e Paulo Afonso, na Bahia.

Nessa região, a Caatinga rasteira é abundante e a fauna é rica e variada, incluindo inúmeras espécies de répteis, insetos e aves.

O cânion formado pelo lago da usina de Xingó tem 65 quilômetros de extensão e uma profundidade média de 50 metros. Em alguns pontos, a distância de um paredão a outro pode chegar a 300 metros.

Devo dizer que esse destino é muito turístico e gourmetizado. Hospedagens e passeios (Catamarãs e lanchas) bem caros. Entretanto, nós aventureiros sempre achamos alternativas para curtir a natureza.

Sem querer, através do google maps (em modo satélite), achamos umas “trilha” por cima dos Cânions e fomos em busca dela. Chegando, havia uma porteira de uma propriedade particular e a dona junto a outros turistas estavam saindo. Acabamos descobrindo que ali era um mirante para assistir ao pôr do sol, inclusive com essa proprietária conduzindo as pessoas.

Após alguns minutos de conversa, perguntamos se poderíamos acampar por ali. Ela liberou e como estava uma noite quente, acabamos fazendo bivaque.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Escrito por

Fayson Merege

Fayson Merege Fotógrafo, filmmaker, montanhista Por meio de ângulos peculiares, apresenta um enfoque específico em elementos que trazem uma narrativa conceitual e minimalista. Elementos naturais, contrastes, composições únicas e inesperadas fazem parte de sua obra, a qual busca captar histórias que inspirem as pessoas a refletir sobre sua relação com a natureza.