O Manaslu é uma das 14 montanhas com mais de 8 mil metros de altitude espalhadas pela cordilheira do Himalaia. Essa foi a primeira alta montanha da vida do Moeses Fiamoncini, mas não foi apenas a conquista do cume que marcou a experiência dele na montanha. Enquanto voltava do cume em direção aos acampamentos mais baixos, ele se deparou com um cachorrinho sozinho, passeando por entre as gretas e a neve que separa o acampamento 1 e o 2.
Moeses alimentou o animalzinho e ele foi um grande companheiro até o acampamento base. Algum tempo depois eles se encontraram novamente em um vilarejo e o montanhista teve certeza de que esse é, provavelmente, um dos cachorros mais felizes do mundo. O encontro deixou muitas lembranças e uma memória maravilhosa e totalmente inesperada do Manaslu.
Confira abaixo os detalhes desse encontro:
“Foi com grande surpresa e emoção que fiz uma amizade inesperada na oitava montanha mais alta do mundo, o Manaslu, a 8.163 metros. Depois de fazer cume com Sergi, no dia seguinte, descendo para o campo base, nós encontramos esse cachorrinho sozinho entre o campo 2 e campo 1, a 6.150 metros de altitude.
Quando encontrei-o ele estava subindo, provavelmente atrás de comida nas barracas. Esse cão montanhista, que não estava usando botas, crampons, cordas fixas e nem oxigênio, me surpreendeu com tanta energia e felicidade de estar onde estava, pensei até mesmo que poderia ser a reencarnação de um Monge Lama (risos)!
Alimentamos ele no campo 1 e descemos junto até o campo base, sempre correndo para baixo e para cima. Senti que ele era cachorro mais feliz do mundo. Chegando ao campo base, ele correu novamente até mim, fiz um carinho nele e saiu correndo feliz da vida.
Pensei que não iria vê-lo nunca mais. Mas, uma semana depois nós encontramos o mesmo cachorrinho em Samagaun, uma vila que está a 5 horas de distância do campo base do Manaslu. Ele logo me reconheceu e ficou ao nosso lado o tempo todo, jantou com a gente e depois, entre muitas portas fechadas, foi arranhar exatamente a porta onde estávamos e dormiu na cama conosco a noite toda.
No dia seguinte eu queria ficar mais tempo na cama, mas ele queria sair pois já era hora do café da manhã (risos)!
Ele saiu correndo e já não o vi mais. Sempre imagino-o correndo feliz pelas montanhas, o lugar onde ele escolheu para viver suas experiências nesta incrível jornada chamada vida. Sinto saudades e continuo pensando neste acontecimento com muito amor e carinho. Espero que ele esteja bem!
Em tempos difíceis, este é um grande lembrete de que a felicidade está nas pequenas coisas e também, mais do que nunca, dentro de nós mesmos.”