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O Brasil está cheio de travessias incríveis esperando para serem exploradas. A Serra da Mantiqueira, entre SP. RJ e MG, tem diversas opções, entre elas está a Travessia Marins x Itaguaré, considerada uma das mais técnicas do país. Este é um roteiro desafiador e recomendado aos montanhistas que já possuem experiências em trekkings e travessias.

Não contente em apenas realizar a travessia tradicional, o montanhista Caique Fiali, junto com um grupo de amigos e guias locais, decidiu fazer um “bate-volta” ou uma dupla travessia, transformando esse roteiro na travessia: Marins x Itaguaré x Marins.

O desafio foi enorme e ele contou todos os detalhes pra gente, junto com algumas dicas para quem quer desbravar essa região. Confira:

A Serra da Mantiqueira é uma cadeia de montanhas que se estende por três estados do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas gerais. | Foto: Caique Fiali

“Está aqui uma forma de aumentar a dificuldade e elevar os desafios nas montanhas brasileiras!

Eu e mais 3 amigos resolvemos fazer a travessia mais técnica do Brasil ida e volta! Conseguimos completar a façanha em 4 dias indo de estacionamento a estacionamento, percorrendo 32km em 16h30 ganhando 4.500m de elevação!

A travessia Marins x Itaguaré, que percorre um trecho da Serra da Mantiqueira entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, é realizada pela maioria das pessoas em 3 dias, exigindo um considerável nível técnico, ganhando 4 cumes principais: Pico dos Marins, Pedra Redonda, Marinzinho e Itaguaré.

Ir e voltar em 4 dias, conquistando todos esses cumes (entre outros menores) não foi uma tarefa fácil. Exigiu muito de todos nós, tanto física quanto psicologicamente e, também, dos nossos equipamentos.

A expedição contou com o ataque a 4 cumes. | Foto: Caique Fiali

Mas, terminar essa dupla travessia em consideravelmente poucos dias foi realizador.

O contato com a montanha foi absoluto, o contato com nosso corpo e mente se intensificou, descobrimos o que pode ser melhorado e o que pode ser descartado para encarar situações desse tipo, em que cada grama na mochila conta muito.

Foi exigido planejamento, boa logística, passo apertado e principalmente: parceria e trabalho em equipe.

Um grupo alinhado com o mesmo foco e objetivo, prontos para ajudar uns aos outros em qualquer situação é primordial para o sucesso de uma empreitada dessas.

Encarar uma aventura desse tipo enriquece o espírito de equipe e te faz encarar seus limites e os limites da natureza.

Nós saímos de lá conhecendo melhor a nós mesmos e carregando uma bagagem importantíssima para os próximos desafios que virão pelas montanhas brasileiras e do mundo.

O grupo que encarou a missão: @gabriel.burani, @caiquefiali, @joaopedro_sc, @eduardodelducca. | Foto: Caique Fiali

E, para quem tem vontade de fazer essa travessia, mesmo que o trajeto normal (Marins x Itaguaré), aqui vão 5 dicas fundamentais para ter sucesso nessa empreitada:

  • Condicionamento físico é primordial

A travessia exige muito, não só das pernas, mas lembre-se de que você estará carregando uma cargueira de, pelo menos 10kg (no nosso caso foram mais de 20kg para ir e voltar). Ter os ombros e a lombar bem fortalecidos é muito importante para um bom desempenho e para evitar possíveis lesões. Em alguns trechos é necessário transpor a mochila fora das costas, pois existem espaços apertados, onde passamos primeiro a cargueira e depois atravessamos. Então treine também seus braços.

  • Contrate uma agência especializada ou um guia local

Em muitos trechos a trilha não está bem demarcada, dificultando a navegação. E na neblina, o que é comum em regiões montanhosas, a orientação é extremamente comprometida. Se você não estiver com alguém que conheça muito bem o trajeto, as chances de se perder são altíssimas.

Outro detalhe também é que essa não é considerada a travessia mais técnica do Brasil à toa. A maior parte do caminho exige a famosa “escalaminhada” por rochas íngremes e degraus altos, envolvendo um trecho de corda, onde um descuido pode causar um acidente grave. Estar acompanhado com profissionais prontos para te atender em uma emergência, com meios de comunicação para solicitar um resgate, é importantíssimo.

A travessia Marins x Itaguaré é uma das mais técnicas do país. | Foto: Caique Fiali
  • Atenção aos pontos de abastecimento

Considerando que a melhor época para essa atividade é no inverno, quando chove menos, a maioria dos pontos de água estão secos ou com pouquíssima água parada. Durante um bom tempo da caminhada é interessante carregar na mochila uma capacidade de, pelo menos, 4 litros de água (lembre-se de que terá de cozinhar no acampamento). Reforço que se perde muito líquido durante essa pernada e não repor a água perdida pode comprometer sua travessia.

Alguns pontos de água estão bem escondidos (e é importante que fiquem assim) acredite ou não, algumas pessoas acham que curso d’água é banheiro, infelizmente. Por isso é importante estar acompanhado de alguém que conheça esses pontos, pois a água é o item mais importante para se ter êxito em uma travessia como essa!

Para manter sua hidratação, leve meios de purificar a água: pode ser Tintura de Iodo 2%, pastilhas de cloro ou filtros portáteis, mas NUNCA beba água direto da fonte. Você pode contrair bactérias presentes na água que causarão disenteria, te desidratando ao ponto de precisar de atendimento médico urgente.

  • Leve equipamento adequado

Aqui está um checklist de itens indispensáveis para essa travessia:

– Um bom calçado que tenha boa aderência em rocha.

– Meias de material respirável e que não acumulem umidade.

– Uma mochila cargueira de, pelo menos, 55L.

– Roupas leves e respiráveis (evite roupas de algodão).

– Casacos que sejam leves, compactos, resistentes ao frio e a abrasão (sugestão: fleeces e Themoball.

– Saco estanque para guardar itens que não podem molhar de jeito nenhum (isso envolve as roupas para dormir).

– Jaqueta impermeável para você e capa de chuva para a sua mochila.

– Uma barraca com sobreteto.

– Saco de dormir que resista a temperaturas baixas, idealmente de 0 até temperaturas negativas.

– Um isolante térmico.

– Fogareiro, cartucho de gás e um kit prático se cozinha.

– Um kit de primeiros socorros completo com itens para curativo e remédios para quaisquer eventualidades.

– Um kit de sobrevivência contendo manta térmica aluminizada e itens para produzir fogo como pederneira e uma isca com algodão e álcool em gel, por exemplo.

– Lanterna e pilhas reserva. As headlamps são as mais versáteis.

– Um canivete multifuncional.

– Chinelo ou sandalha para os acampamentos.

– Uma mochila de ataque (que seria uma mochila bem menor para carregar itens essenciais como água e lanches quando for somente atacar um cume e voltar).

– Alimentos não perecíveis e de preparo prático, como macarrão, arroz, grão de bico, ervilha, lentilha, atum enlatado e por aí vai.

– E, por último, um dos itens mais importantes: o shittube, para trazer com você todos os seus dejetos e não deixar nada na montanha!

Não se esqueça de fazer o seu próprio check list com todos os materiais que precisa levar!

Ter um checklist é essencial para a sua segurança. | Foto: Caique Fiali
  • Busque experiência em outras trilhas

Não recomendo a travessia Marins x Itaguaré como sua primeira travessia ou seu primeiro contato com a montanha. Eu acredito que em alguns casos, a primeira impressão é realmente a que fica e no trekking e montanhismo não é diferente.

Se logo de cara você fizer algo muito desafiador, que exige esforço, peso, equipamento técnico, resiliência mental e preparação, talvez você se assuste e nunca mais queria pisar na montanha de novo. Então, comece aos poucos. Faça trilhas mais curtas, depois comece a ganhar alguns cumes de acesso mais fácil (talvez acampar no Marins seja uma boa ideia!) e aos poucos vá conhecendo suas limitações e dificuldades, descobrindo as necessidades para que sua travessia seja o mais prazerosa possível. Claro que os perrengues não escolhem quem atacar, mas você já vai estar preparado(a)!

“Terminar essa dupla travessia em consideravelmente poucos dias foi realizador”. | Foto: Caique Fiali

Espero que essa publicação tenha te inspirado e te ajudado a se preparar para seu próximo desafio na montanha!

Não se esqueça: sempre entre na montanha com muito respeito e agradeça cada presente que ela proporcionar. Você vai saber quais são!” – Por Caique Fiali


Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.