Destinos

As Américas oferecem aventuras para todos os gostos e estilos. Desde os roteiros mais famosos, até países pouco conhecidos, não faltam opções para quem quer se jogar em viagens com experiências únicas. O fotógrafo Fayson Merege já compartilhou algumas histórias de suas viagens com a gente. Nós publicamos aqui o relato dele pelo Caminho de Santiago, saindo da Espanha, e também os detalhes da trilha de Salkantay. Dessa vez, ele dividiu um pouco da sua saga pelos vulcões da Guatemala. O depoimento na íntegra traz dicas e fotos que vão te fazer colocar esse pequeno país na sua lista de viagens.

Confira abaixo:

Antígua é o HUB de todos os viajantes e onde a maioria das viagens pela Guatemala têm início. A cidade colonial e colorida é considerada Patrimônio Nacional da Unesco. Antígua era a capital do país até que uma grande tempestade atingiu a Guatemala e fez com o que a cratera do Vulcão de Água, um dos mais próximos à cidade, transbordasse e causasse um enorme alagamento no ano de 1773.

O governo, então, decidiu transferir a capital para uma nova cidade, que passou a se chamar “Cidade da Guatemala”, um lugar mais seguro e protegido dos vulcões. A título de curiosidade, a América Central surgiu há milhares de anos por conta do movimento de placas tectônicas, por causa disso, milhares de vulcões surgiram ao seu redor. A Guatemala é a maior prova disso, nos país são 37 vulcões, sendo que 3 deles ainda permanecem ativos e em alerta: Vulcão Fuego, Vulcão Pacaya e Vulcão Santiaguito.

A Guatemala é mais desenvolvida do que os seus vizinhos Honduras e El Salvador – e mais barato de se visitar do que os famosos Panamá e Costa Rica. Para os amantes da natureza e aventureiros, com certeza é um país que não pode faltar no roteiro.

“Guatemala? Que país é esse?”-Essa pergunta foi a que mais respondi quando publiquei sobre minha vinda a esse país cheio de beleza, mistérios e cultura Maia.

A Guatemala hoje possui 3 atrativos principais: As águas cristalinas de Semuc Champey, o místico lago Atitlán e a atração principal: Trilha ao Vulcão Acatenango.

A trilha até o topo do Acatenango não é fácil e leva de 6 a 8 horas (dependendo do seu ritmo e condições físicas), sendo: aproximadamente 4 a 5 horas até o campo base e mais 1 a 2 horas até o cume. Esse percurso totaliza uma subida de 3976m acima do nível do mar. Várias agências locais oferecem serviços de guia, que variam entre 30 a 60 dólares. Uma opção para quem gosta de mais liberdade é fazer por conta própria. É um pouco mais trabalhoso sair de Antígua e chegar até ao povoado próximo do início da trilha, mas, se estiver em grupo, podem compartilhar um táxi, uma vez que andar nos “chicken bus” é apertado e com muita gente.

Entrada do Parque Nacional = 50 Qtz / R$33 | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

OBS: O parque é monitorado por guias e pela polícia local. TODOS precisam, além de fazer o pagamento, assinar o livro de registro (para caso de emergências e regaste). A polícia faz ronda e caso precise de algo durante à noite, os turistas podem solicitá-los.

Eu, particularmente, não gosto muito de fazer esse tipo de aventura com agências. Faço quando é necessário ou quando não encontro parceiros de aventuras (90% das vezes estou viajando sozinho). Gosto da sensação de liberdade, de aproveitar o momento e ‘sentir’ o lugar. Acabei encontrando, no mesmo hostel onde eu estava, outros viajantes que toparam se aventurar por conta própria. Pedimos algumas informações básicas, planejamos e fomos em um sábado.

O dia iniciara bonito. Do terraço do nosso hostel, era possível ver os 3 vulcões aos arredores de Antígua: Água, Acatenango e Fuego. Seguimos para nossa aventura às 9h da manhã e iniciamos nosso hikking por volta das 10h30. Nas primeiras horas, estava muito sol e calor. Bastou 2 horas subindo para o tempo mudar completamente. Chuva. Neblina. Frio. Estávamos em 6 pessoas e nos dividimos em duplas. Estávamos em um ritmo bom, ora avançando e ora esperando a todos. Atingimos o campo base por volta das 15h15 – já passadas 4 horas e 15 minutos de ascensão. Queríamos ter feito até a base mais próxima do Vulcão Fuego, porém, com o clima instável e sem visibilidade, nós decidimos não arriscar.

Além de carregarmos todo o nosso staff com barraca, saco de dormir, comida e água (MUITA ÁGUA), nós tivemos que ir atrás de lenha para nossa fogueira. Montamos acampamento e iniciamos a fogueira para nos aquecer da noite gélida que se iniciava. Fizemos nossa janta com macarrão (pré cozido), queijo e vinho. Em volta da fogueira, conversávamos sobre nossas aventuras de viagens, enquanto, apreensivos, ficávamos na expectativa de ver as erupções do Vulcão Fuego. Eu e Raymond permanecemos na espreita, enquanto os outros foram dormir por volta das 21h. A neblina trazia pequenas gotículas de água, deixando a sensação térmica ainda mais baixa.

Na missão de fazer centenas de fotos e montar um timelapse, permaneci acordado até 1h da manhã. Levantei em alguns períodos para novas tentativas de fotos enquanto a temperatura caia drasticamente durante à noite. O momento mágico da aventura é chegar aos 3976m, no topo do Acatenango para o nascer do sol acima das nuvens e ter uma vista ainda mais privilegiada do Vulcão Fuego.

Primeira boa janela, às 8h. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

A jornada começa às 4h e, como nós estávamos sem guia, esperamos os outros grupos para então seguí-los. Sem a ajuda de guias profissionais nesse trecho, fazer por conta própria é muito arriscado (se fizer por conta, você pode optar por subir em outro horário), pois somente quem conhece os ‘atalhos’, sabe por qual caminho seguir.

Devido ao frio e aos ventos muito fortes, permanecemos cerca de 20 minutos neste local e então voltamos ao campo base. Com um café tropeiro quentinho e sem açúcar, compartilhamos nossos últimos momentos juntos antes de voltarmos à Antígua.

Vulcão Pacaya. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

Vulcão Pacaya

Embora não tão conhecido pelos viajantes, o Vulcão Pacaya é uma aventura interessante a ser feita estando na Guatemala. Sendo um dos 3 vulcões ativos do país e podendo caminhar próximo à cratera e até mesmo na base do mesmo, a visita precisa ser guiada com guias credenciados, para garantir que o turista esteja em segurança (houve mortes de aventureiros solos).

Minha aventura por esse vulcão aconteceu em dois momentos diferentes. Uma visita durante o dia e outra durante a madrugada. Enquanto no Vulcão Fuego a lava e as explosões são mais frequentes, o Pacaya joga rochas vulcânicas em alguns momentos. A ascensão até a base leva aproximadamente 1h30 e, quanto mais perto, mais se ouve as explosões e o avistamento das rochas rolando vulcão abaixo. A trilha é de dificuldade média e há um mirante no qual se pode avistar o Vulcão de Água, Acatenango e o Vulcão Fuego.

A trilha que leva ao Pacaya é de dificuldade média. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

Pacaya teve sua última erupção há seis meses, sendo que em 2010 teve uma de suas maiores erupções, deixando mortos e desabrigados por um raio de 50 km. A maior parte da lava se transformou em rochas afiadas, negras e escorregadias. Neste caminho, parece que você está andando em outro planeta. Incrível mesmo é poder comer marshmallows aquecidos apenas pelo calor da lava solidificada bem ao lado da imponente cratera em plena atividade.

A aventura durante a madrugada para ver o nascer do sol desde a cratera é a mais emocionante e envolve um pouco mais de adrenalina. Junto ao guia em um tour privado (os tours não acontecem com frequência pois há poucos turistas interessados), iniciamos nossa ascensão às 3h. A caminhada exige cautela, principalmente na última parte, que caminhamos entre pedras e rochas que chegam à até 3 metros de altura. Ao caminhar na cratera é possível sentir o mormaço da lava e um pouco do cheiro de enxofre. Enquanto esperávamos o sol nascer, fizemos nosso café esquentando água diretamente no chão, usando os pontos mais quentes. Infelizmente não conseguimos ver uma quantia considerável de lava, porém, em total escuridão, vimos pequenos focos.

Noite no Vulcão Pacaya. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

Onde esquentamos a água, o guia disse ter por volta dos 100ºC enquanto nos pontos de lava a temperatura chegava a 200ºC. A água ferveu em menos de 2 minutos, tempo em que colocávamos nosso marshmallows no ‘fogo’. Durante a subida, pouco se nota o cenário em que estamos caminhando. O único ponto de foco e luz é a nossa lanterna na cabeça. São necessários passos curtos e com muito cuidado para não pisar em alguma pedra ‘falsa’ ou desbaliza.

Apenas se tem noção do local quando começa o descenso e podemos ver todo o trajeto feito.

Foto feita às 6h em longa exposição de 30”. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

É difícil descrever a sensação de estar literalmente na cratera de um vulcão ativo e poder ‘senti-lo’. A emoção foi completamente diferente do Acatenango e com certeza uma das mais ‘loucas’ aventuras que já fiz em toda minha vida.

Lago Atitlán e a Trilogia de Vulcões

Outro lugar a ser visitado no país é o Lago Atitlán. Rodeado por três vulcões (San Pedro 3020m, Toliman 3158m e Atitlán 3535), o imenso lago, provavelmente, oferece as melhores vistas da Guatemala. Ao todo são 12 vilarejos diferentes que podem ser visitados. Os mais conhecidos são Panahajel, San Pedro de La Laguna e Santa Cruz. Todos eles são conectados por frequentes lanchas e barcos que oferecem propostas diferentes. Os barcos públicos têm preço tabelado por cada vilarejo.

Lago Atitlán. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

O lago está a 1562m acima do nível do mar e oferece diversas opções de aventura: caiaque, stand up, paragliding, mergulho e diferentes hikkings entre os vulcões e arredores. Para realizar qualquer aventura que envolva visitas aos vulcões, também é preciso fazer o registro nos livros e ir acompanhado de guias, além de pagar as taxas municipais. Durante minha minha jornada pela região, me aventurei ao vulcão San Pedro e Atitlán. O Hikking ao Vulcão San Pedro, o grau de dificuldade é médio, embora a trilha exija bastante dos joelhos. A ascensão ao Atitlán possui grau de dificuldade difícil e em algumas partes, achei mais dificultoso que o próprio Acatenango.

Vista do topo da “Trilha Indian Nose”, de onde é possível avistar o Lago de Atitlán e os 3 vulcões. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

Guatemala é um país barato de se viajar e não exigirá muito do seu budget. É um país incrível e que com certeza irá te surpreender. Coloque na mochila seus equipamentos e roupas de camping, trilha e aventure-se, principalmente, pelos vulcões guatemaltecos. Certifique-se de contratar sempre guias/agências credenciados e que lhe ofereçam segurança. Não coloque sua vida em risco. 

Lembre-se de fazer aclimatação e deixar o seu corpo apto à altitude para subir os vulcões. Todos estão acima de 2500m de altitude e exigem um esforço médio/difícil de sua capacidade de oxigenação. Hidrate-se muito com água ou isotônicos.

No mais, aventure-se e desfrute de sua viagem pela Guatemala!

Topo do Acatenango com vista para o sol nascendo atrás do Vulcão de Água. | Foto: Fayson Merege/Arquivo Pessoal

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Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.