Dicas Esportes

Quanto mais você ler sobre altitude, mais vai descobrir que 90% dos possíveis problemas podem ser prevenidos apenas bebendo água. Sendo assim, ter uma boa logística para obter esse precioso líquido é de extrema importância para o sucesso de uma expedição a altitude. Depois do oxigênio, a água é a segunda prioridade do seu corpo em grandes altitudes. Dou pelo menos 3 motivos para isso:

Você perde água pela expiração – Entenda que quando você ganha altitude o ar fica mais frio e perde a habilidade em acumular umidade. Isso acontece em todas as montanhas do planeta. O ar de grandes altitudes é muito seco comparado com o ar do Brasil. Em montanhas temos que acostumar a lidar com números absurdamente baixos como 5% de umidade relativa do ar – contra uma média de 85% da média do Rio de Janeiro, por exemplo. O corpo humano não responde bem a isso, especialmente se você não está acostumado. A perda de umidade através da expiração de ar pela boca e nariz é neste caso muito mais alta do que no Brasil. Uma boa prática a adotar em ambientes secos como montanhas é o uso de bandanas cobrindo totalmente ou parcialmente a boca. Dessa forma você evita a perda de tanto líquido através da expiração.

Você vai urinar mais – Outro motivo é a sua função renal que estará a 1000 se você estiver se aclimatando bem. Com o baixo O2, seu corpo naturalmente aumentará o ritmo respiratório. A hiperventilação mudará radicalmente o PH do seu corpo, portanto seus rins trabalharão entre 20 a 75% à mais para excretar mais urina (dependendo da altitude e da quantidade de exercício). Nada melhor do que água para manter a sua função renal o menos pior possível.

Você vai transpirar mais – Outra porcentagem menor de água é perdida pela pele e realmente faz diferença quando trabalhamos com números tão baixos de umidade ambiental.

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Para compensar a perda de água, temos que aumentar o nível de hidratação diária em pelo menos 30%. – Foto: Maximo Kausch

O que fazer, então?

Para compensar a perda de água, temos que aumentar o nível de hidratação diária em pelo menos 30%. Do normal de 40 ml por Kg de massa corporal, devemos aumentar para 60 ml. Ou seja, uma pessoa de 75Kg deve ingerir pelo menos 4,5 litros de água por dia, sendo que em altitudes normais essa pessoa já deveria ingerir de 2,8 a 3 litros por dia. Parece fácil, mas ingerir 4,5 litros de água por dia em grandes altitudes é uma tarefa um tanto complexa. Tenho as seguintes recomendações para obter o precioso líquido:

.1 Hidrate o dia todo: Tente distribuir essa água da forma mais uniforme possível durante o dia. Ingerindo grandes quantidades de água em pouco tempo, você se sobrecarregará e fará com que a maioria dessa água seja excretada. O ideal é você ingerir água aos poucos, bebendo alguns goles por vez, inclusive à noite.

.2 Não beba água de derretimento: A forma mais eficiente de absorver essa água é adicionando uma pequena porcentagem de sais minerais, melhorando assim a pressão osmótica intestinal – que é onde a maioria da água é absorvida pelo seu corpo. Em lugares como o Brasil, a maior parte da água é obtida de grandes rios de planalto que já contém muitos sais minerais. Em montanhas no entanto, a água é obtida de glaciares que geralmente são muito pobres em sais minerais. No caso de água obtida diretamente do derretimento de neve, a situação é ainda pior e os sais minerais são quase ausentes.

.3 Adicione sais minerais: A adição de chás, sucos, ou suplementos na água, já é o suficiente para compensar essa baixa em sais minerais. Note que água com ausência de sais minerais normalmente não é bem aceita pelo corpo humano.

.4 Só beba o que você goste: Uma das reações que normalmente temos em grandes altitudes é perder a sede e o apetite. Qualquer coisa que você não goste de tomar em altitudes normais terá um desprezo maior ainda em grandes altitudes. Utilize chás, sucos ou suplementos dos quais você já esteja acostumado.

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Uma das reações que normalmente temos em grandes altitudes é perder a sede e o apetite. – Foto: Maximo Kausch

Escrito por

Maximo Kausch

Maximo Kausch é alpinista, especialista em montanhas de altitude, guia, professor e recordista mundial por ter escalado 83 montanhas com mais de seis mil metros de altitude na região dos Andes. Além de dar cursos de montanhismo e alpinismo, uma de suas grandes missões é desbravar locais ainda inexplorados.