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Para quem não está acostumado com expedições de alta montanha, pode soar muito estranho ouvir o relato de alguém dizendo que passou a noite abrigado apenas em uma cova na neve. A Luciana Nogueira teve essa experiência recentemente e foi surpreendida pelo fato de que, com os equipamentos corretos, é possível passar uma noite muito confortável mesmo em temperaturas extremas.

Ela nos mandou o relato dessa aventura e nós compartilhamos essa história na íntegra:

“No final de julho/2019, fui convidada pelo amigo Carlos Moura, da Mantiqueira Expedições, a fazer um curso de Montanhismo Invernal nas montanhas geladas do sul do Chile, pela Rutas Australes, uma empresa do instrutor e guia UIAGM, o chileno Nicolás Palma. Como cereja do bolo e da aventura chilena subiríamos o vulcão Llaima, lindíssimo, com 3200m, no Parque Nacional de Conguillo. Como estou iniciando na alta montanha e já com agenda certa para fazer o Cotopaxi e o Chimborazzo em alguns meses, super topei. 

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Vulcão Llaima. | Foto: Luciana Nogueira/Arquivo Pessoal

Aprender técnicas de como caminhar no gelo, pernoitar em covas de neve, usar equipamentos específicos e que não me são comuns no montanhismo sem neve e abaixo dos 3 mil metros, descobrir como fazer uma ancoragem na neve, entender de nivologia e não me desesperar se for pega por uma tempestade que me impeça de seguir os planos por algumas horas me pareceram ideias incríveis. Levei equipamentos meus e aluguei outros mais específicos, como grampões, raquetas de neve e uma boa bota dupla. Tenho pavor de ter os pés gelados e no início de julho havia passado uma experiência de muito frio na travessia do Rancho Caído, no Parque Nacional de Itatiaia. Pernoite de temperatura negativa, um saco de dormir meia bomba (temperatura extrema -2°C ) e meias pouco adequadas tornaram a minha noite bem ruim. .

As montanhas do Chile são perfeitas para cursos de montanhismo em locais nevados. | Foto: Luciana Nogueira/Arquivo Pessoal

E aí veio a preocupação hard mega power: eu não havia alugado um saco de dormir e o meu, definitivamente, não me serviria. A informação era de tempo bem gelado, muito vento e neve full time, com temperatura em torno de -10°C no local de pernoite. Recorri ao amigo Marcelo Crux, super experiente e que certamente iria me salvar. Ele me emprestou um saco de dormir, descobri depois, perfeito! Era o Thundra, da The North Face. Lembro do Marcelo brincar comigo “você vai sentir calor dentro dele”. No dia em que dormimos na cova de neve, acima dos 2.000m, o tempo estava bem ruim. Havia chovido muito no dia anterior e nevava muito na hora. Cavamos a cova em neve muito fofa, com vento gelado e forte e eu estava meio descrente de que dormir dentro de um buraco que cavei na neve seria algo fácil. Dentro da cova, a temperatura era bem menos ruim por não haver vento e estarmos protegidos da neve, que não deu trégua. Mas estava bastante frio. Isolantes duplos ajeitados, saco estendido e fui para a minha primeira noite em alta montanha, dormindo de um jeito bem raiz. E me surpreendi por passar uma noite confortavelmente aquecida dentro do Thundra. Eu, aliás, senti calor e cheguei a tirar as luvas durante a noite. Pés aquecidos o tempo todo nas meias de lã merino. 

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Primeira noite dormindo em uma cova na neve. | Foto: Luciana Nogueira/Arquivo Pessoal

Pela manhã, soube que alguns colegas tiveram pequenas dificuldades por causa da noite gelada e do mau aquecimento. Nevou tanto, que a entrada da cova ficou completamente fechada, só não obstruindo tudo pq havíamos deixado os bastões cruzados para gerar uma entrada de ar. E ali percebi a importância crucial de estar bem equipada para não permitir que a diversão se transforme em pesadelo. Todas as demais noites foram tranquilas, com pés e mãos aquecidos e sono garantido. O tempo melhorou apenas no último dia e nos brindou com uma subida ao cume cercados pelo céu azul, neve branquinha e sol, que nasceu de forma espetacular. A primeira coisa que fiz quando voltei ao Brasil foi falar pro Marcelo ‘estou apaixonada pelo seu saco de dormir!’.  Que venha o Chimborazzo e o Cotapaxi! Com o Thundra, claro.”

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Integrantes da expedição cavando o refúgio na neve. | Foto: Luciana Nogueira/Divulgação

Ps: O saco de dormir Thundra não é mais comercializado pela The North Face. No entanto, modelos similares como o Inferno, Aleutian e Green Kazoo também foram desenvolvidos para suportarem temperaturas extremas e oferecerem o máximo de conforto térmico em aventuras de alta montanha.


Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.