A Ultra Trail du Mont-Blanc é uma das corridas de montanha mais desejadas do mundo. Correr na fronteira entre a França, Itália e Suíça, em paisagens que parecem ser pintadas à mão e com uma energia que só essa prova tem é realmente o sonho de quase todos os corredores de trail. Mas, poucos têm o índice ou a oportunidade de viver essa experiência incrível.
Na edição deste ano, a nossa atleta Rosalia Camargo pôde voltar à essa prova e viver pela segunda vez todos os encantos e desafios dos 170 km do UTMB. Dessa vez, além de aproveitar a corrida, ela ainda pôde contar com a companhia da família, que não foi até lá apenas para torcer por ela. O marido, André Guarischi e a filha Maria, no auge de seus 3 anos de idade, também correram em outras provas, deram muito apoio à mamãe atleta e tiveram as suas próprias conquistas.
Pouco mais de uma semana após a prova e de volta ao Brasil, Rosalia fez um depoimento muito legal contando os detalhes dessa experiência. Confira o relato dela na íntegra:
“Eu poderia dizer que completei mais um UTMB, mas a verdade é que essa viagem foi muito mais do que a minha corrida. Foi a realização de um sonho, que era estar em Chamonix com a minha família. Era mostrar para a minha filha o espírito mágico das montanhas e a energia que envolve esse esporte incrível chamado trail run.
E eu consegui quando vi a Maria em Argentière gritando ‘Allez Allez’ enquanto os atletas passavam do MCC. ‘Cadê papai?’ Ela não tirava os olhos da montanha, esperando ansiosamente o papai aparecer.
A Maria curtiu cada instante. Correu com André e vibrou ao cruzar a linha de chegada em Chamonix de mãos dadas com seu ‘papai herói’.
E chegou o grande dia! Não… não é o UTMB. É o mini YCC. Lá estava a dinda Carol e o tio Dave para verem a Maria correr sua prova de 400m. A corrida reservada para crianças de 3 anos foi uma festa e, quando deu a partida, lá foi Maria disparada. O terreno era de grama com um suave aclive, em um percurso semi-circular. Com 300m ela parou – ‘Tô cansada, mamãe’ – E, com cara de choro disse: ‘vou parar’. Eu segurei a mão dela e mostrei a linha de chegada. ‘Falta pouco! Vamos juntas!’, eu disse. Ela sorriu e acelerou. Passou pelo pórtico e festejamos com a família toda e muito sorvete!
À noite eu perguntei o que ela mais gostou no dia dela. A resposta foi: ‘passar a linha de chegada’. Eu sorri feliz.
Só faltava eu correr… E admito que tinha esquecido como era difícil esse tal de Ultra Trail Mont Blanc. Talvez a prova fosse até mais fácil mesmo em 2014, já que ocorreram algumas mudanças no percurso, que atualmente chega a mais de 170km, ao invés dos 160km que havia corrido.
Enfim, eu poderia escrever horas e horas sobre a minha saga nesse UTMB frio e chuvoso, mas de forma resumida posso dizer que fiz o meu melhor. Corri feliz e me sentindo plena. Nesse ano eu curti cada segundo nesse ambiente incrível. Infelizmente, torci o pé na descida já a caminho de Trient, quando pisei em uma pequena raiz e, a partir desse ponto, reduzi muito a velocidade para descer.
Perdi firmeza na perna esquerda. Continuei alegre, mas ciente de que o sonho das 30 horas estava morto. Segui, então, com o plano B que era chegar. E assim foi. Com 35 horas eu estava de volta à Chamonix, com uma sensação de felicidade plena e a certeza de que definitivamente correr ultras é algo que me encanta com todos seus desafios, dificuldades e surpresas.
Essa corrida me lembrou que é preciso nunca desistir, é preciso ter paciência com as subidas intermináveis, resistência ao frio incomum, cuidado com a alimentação e o mais importante: saber aproveitar cada instante e agradecer pela saúde e oportunidade de estar ali vivendo tudo isso.