Inspiração

“Nossa, você vai viajar sozinha? Por quê?”. Se você é mulher e já decidiu viajar sozinha alguma vez na vida, certamente se deparou com essa pergunta. Se você é homem, mas conhece alguma mulher que viaja sozinha, também já deve ter feito essa pergunta. Na verdade, a resposta é muito simples: Por que não?

Esse é um diálogo que a jornalista Domitila Becker (@domibecker) teve muitas vezes na vida. Afinal, ela não decidiu apenas viajar sozinha, foi ainda mais longe: largou um emprego na TV Globo para ir desbravar o mundo SOZINHA!

Acampamento na montanha. | Foto: Domitila Becker / @domibecker

Domitila compartilhou um pouquinho dessa experiência com a gente, confira:

“Imagina a sensação de tentar andar para frente e ficar escorregando para trás, sem sair do lugar. Parecia um pesadelo. Eram duas e meia da manhã, o vento estava tão forte que meu corpo não conseguia ficar reto. O guia simplesmente foi na frente acompanhando outras pessoas e me deixou lá no escuro. Tentando vencer aquela montanha de areia eu tremia, de frio e de medo, e só conseguia pensar por que, por que inventei de subir sozinha esse vulcão na Indonésia sem nenhuma experiência?

O Rinjani é um vulcão ativo de 3.726 metros de altitude, que fica na ilha de Lombok. Tinha visto na internet umas fotos lindas de lá e pensei: se euzinha fui capaz de pedir um ano sabático na TV Globo e sair para dar uma volta ao mundo sozinha, também posso escalar um vulcão ativo! Pesquisei a empresa de trekking mais barata, preparei a menor mochila possível e fui.

Início da trilha. | Foto: Domitila Becker / @domibecker

O começo foi uma delícia, a trilha era plana e linda. Durante o almoço, que o guia preparou debaixo de uma lona para fugir do sol, deu para conhecer um pouco mais do grupo, formado por três casais, dois amigos e um rapaz da Malásia que, assim como eu, estava sozinho. Mesmo assim, todos perguntavam apenas apra mim, por que eu, mulher, tinha decidido viajar desacompanhada. Essa foi, aliás, a pergunta que mais escutei durante esse mochilão de um ano. No começo não sabia o que responder porque eu também não sabia o porquê. Mas, depois de conhecer 31 países e me transformar como pessoa, compreendi que a melhor resposta para essa pergunta é outra pergunta: por que não viajar sozinha?

Depois do almoço, caminhamos umas três horas morro acima até chegarmos na borda da cratera, a 2.670 metros de altitude. Pirei com a paisagem e com o pôr do sol e fui para a barraca suspirando: pela primeira vez eu ia dormir no céu, acima das nuvens. Pena que… não rolou pregar os olhos. O saco de dormir que a empresa fornecia era fino demais, coloquei todas as roupas que tinha levado, uma em cima da outra, gorro, cachecol, meias nas mãos e mesmo assim tive uma noite de cão, congelando dentro da barraca, que chacoalhava sem parar com o vento.

A longa noite “nas nuvens”. | Foto: Domitila Becker / @domibecker

Precisava muito descansar, sabia que o dia seguinte seria difícil. Só não sabia que ia ser quase impossível: numa pirambeira de areia e no escuro. A minha lanterna era uma daquelas de led, sem pilha, que você tem que apertar rápido várias vezes para funcionar, sabe?! É ótima para quando acaba a luz em casa, mas não serve para subir o topo de um vulcão às duas e meia da manhã. E, quando o guia partiu em disparada com o resto do grupo, chorei de raiva de mim mesma. Os dois amigos do grupo que viajavam juntos já tinham desistido de chegar ao topo e essa ideia passou pela minha cabeça, mas me deu muita vontade de provar que eu era capaz.

Comecei a contar meus passos e falar frases de apoio para mim mesma bem estilo autoajuda do tipo: ‘um, vamos lá, dois, você pode, três, acredita, quatro, bora, cinco, respira, seis, é isso aí, sete’. Vi uns dois casais do grupo descendo, eles também tinham desistido. “Quinhentos e cinquenta e nove, dá tempo, quinhentos e sessenta, o sol não saiu ainda”. Ultrapassei um outro casal, que estava sentado na areia tentando retomar o fôlego. Perdi a conta e recomecei ‘um, você já passou pelo pior, dois, não vai se entregar agora, três, você consegue’. Encontrei o rapaz da Malásia andando bem devagar e fui seguindo a lanterna dele. ‘Trinta e quatro, vai dá vai dá, trinta e cinco, respira, trinta e seis’.

Demorei duas horas para percorrer os últimos 500 metros, mas cheguei a tempo de ver o nascer do sol mais bonito da vida e chorar, dessa vez de orgulho, na Indonésia, a 3.726 metros de altitude, viajando sozinha, por que não?!” – Domitila Becker / @domibecker

Chegada ao cume. | Foto: Domitila Becker / @domibecker

Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.