Moeses Fiamoncini continua em sua busca pela conquista das 14 montanhas com mais de oito mil metros de altitude. Na última semana, no entanto, o montanhista sofreu um acidente quando estava prestes a conquistar o cume do Dhaulagiri, a sétima montanha mais alta do mundo. Ele passa bem, mas teve que desistir da montanha para não correr o risco de morte expondo-se a condições climáticas extremas com o corpo debilitado.
Segundo Moeses, essa foi uma das escaladas mais difíceis da sua vida, em uma montanha muito perigosa. Ele explicou os detalhes da expedição e também nos contou o que provocou o acidente e como foi a decisão de desistir do cume, mesmo estando a apenas 47 metros de alcançar o topo do Dhaulagiri.
Assim como fez em outras escaladas pelo Himalaia, Moeses optou por um ciclo de aclimatação curto e uma tentativa rápida de ascensão sem a utilização de oxigênio suplementar. O processo estava seguindo os padrões de suas experiências anteriores. Por ter vindo de outras escaladas recentes em grande altitude (com a conquista do Everest, K2 e Nanga Parbat) ele precisou de pouco tempo na montanha para se aclimatar ao ar rarefeito. Logo que chegou ao campo base, Moeses e seus companheiros já passaram ao Campo 1, onde dormiram uma noite, e depois ao Campo 2, por mais duas noites. Com isso, ele explica que já estava confortável para tentar o ataque ao cume.
Quando perguntamos a ele qual foi a maior dificuldade da expedição, ele explicou que foi a quantidade de neve e umidade durante todos os dias em que estiveram na montanha. “O Dhaulagiri é conhecido por ser um monte com muita neve. Nessa temporada não foi diferente. E o que realmente foi diferente nessa montanha em relação às demais, foi o clima. Mesmo quando estávamos no Campo Base, a 4.600 metros, sempre estava nublado. Os equipamentos ficavam sempre molhados. Tivemos pouquíssimos momentos de sol e assim foi também no dia de cume, com muito vento e muita neve”, explicou.
Mesmo com todas as dificuldades, tudo estava indo conforme o planejado, até que a poucos metros do cume, enquanto escalava uma parede de rocha coberta por deve em uma altitude média de 8.100 metros. “Eu caí quando estava tentando escalar essa parede de rocha, que neste momento está carregada de neve. Algumas partes estavam bem profundas, então, eu consegui escalar com o ‘piolet, mas chegou uma parte que eu tive que fazer uma travessia e nessa travessia tinha pouca neve cobrindo a rocha. Eu acabei deslizando nessa parede, devido à falta de neve e gelo, e caí por aproximadamente 20 metros”, lembra.
“Esse momento chegou de surpresa e só quando eu parei de cair, que eu fui tomar consciência do que tinha acontecido. Quando eu tomei consciência de que tinha caído, a única coisa que eu pensava era em esquentar as minhas mãos, porque elas quase congelaram e eu estava com uma dor insuportável.” Durante a queda, Moeses destaca que acabou entrando neve em seu down suit, luvas e botas. Estar molhado no alto da montanha, a -27ºC é como assinar a sentença de morte. Por isso, mesmo tão perto do cume, Moeses acabou tendo que tomar a difícil decisão de voltar ao acampamento 3, para se aquecer e evitar problemas maiores de congelamento.
O montanhista informou que foram necessárias 9 horas de caminhada desde o local do acidente até que ele chegasse ao campo 3. No caminho ele se perdeu e somente três dias depois conseguiu chegar ao campo base, onde foi resgatado de helicóptero e levado ao hospital em Khatmandu. Apesar de ter tido “frost bite” nível um nos pés e nas mãos, Moeses já está se recuperando bem e, inclusive, pretende embarcar em mais uma escalada nas próximas semanas. A ideia é subir o Ama Dablam, com 6.812 metros de altitude, junto com a Karina Oliani.