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A temporada de ascensão ao Everest está oficialmente encerrada, mas os questionamentos ficam. As fotos de uma imensa fila para chegar ao cume do Everest levantaram muitas críticas e dúvidas. A imprensa global considerou o fato como uma das principais causas para as 11 mortes registradas na montanha neste ano, mas os sherpas e alpinistas que lá estiveram colocam outras coisas em cheque.

De acordo com a cobertura realizada por Alan Arnette em seu site, um dos principais no mundo a acompanhar o dia a dia na montanha, a última equipe a tentar o cume do Everest desistiu no dia 30 de maio. Os números não oficiais são de que 891 pessoas chegaram ao topo do mundo, entre alpinistas estrangeiros e sherpas.

Em seu instagram, a guia Dawa Yagzum Sherpa fez um post falando sobre a falta de preparo das pessoas que estavam nas expedições. Ela estava liderando uma equipe que teve que desistir do ataque ao cume devido à demora na fila e aos riscos da exposição na “zona da morte”. Nas palavras dela: “O Everest se tornou essencialmente uma zona de guerra, com escalador após escalador sendo arrastado ou salvo por Sherpas. O próprio Sherpa que estava conosco teve que resgatar um alpinista de outra expedição e nós tivemos que passar por corpos de pessoas mortas. Todos têm direito a alcançar a glória do Everest, mas, por favor, se você não está preparado e forte o suficiente e se não tem um sherpa forte com você, o mais sábio é ficar longe da montanha”.

Há anos o lado comercial do Everest tem sido debatido. A grande quantidade de empresas oferecendo expedições lucrativas acaba sobrecarregando a montanha de diversas maneiras, inclusive, por levar pessoas pouco experientes e com baixa estrutura de segurança, colocando em risco muitos outros ao redor.

Filas anormais

De fato, nesta temporada a maior parte dos que tentaram o cume do Everest se depararam com filas descomunais. Mas, isso deve-se a uma série de fatores. A falta de preparo, levantada por Dawa e por outros guias e sherpas, foi um deles. Pessoas com pouca experiência acabavam atrasando ainda mais o deslocamento entre as cordas. Mas, este não foi o único motivo.

No início do mês um ciclone atingiu o Himalaya e atrasou consideravelmente a missão dos sherpas responsáveis por colocar as cordas que levam ao cume do Everest. Além desse atraso, as condições climáticas não foram favoráveis aos escaladores e permitiram apenas três dias de janelas seguras para as tentativas de ataque ao cume. Com um prazo tão curto, centenas de pessoas se deslocavam ao mesmo tempo tentando alcançar o topo da montanha mais alta do mundo.

Vale lembrar que tanto quem está subindo, como quem está voltando do cume do Everest precisa utilizar a mesma corda. O que torna o deslocamento ainda mais lento, técnico e perigoso. Além dos riscos de congelamento devido ao longo tempo de exposição ao vento e às baixas temperaturas, a espera nas filas gera um consumo maior de oxigênio, algo escasso e totalmente limitado em alta montanha.

Para tentar driblar o problema das filas, algumas expedições partem para o ataque algumas horas mais cedo, como aconteceu com o grupo em que o brasileiro Juarez Soares estava. Eles saíram para o ataque na madrugada e chegaram ao cume às 5h30 do dia 22 de maio. Quando estavam descendo, o congestionamento estava no sentido contrário.

Outra opção é tentar a escalada pela face norte. Apesar de ser muito mais difícil, a cada ano mais e mais pessoas tentam o cume pelo lado tibetano. Neste ano, foram registrados 262 cumes (131 alpinistas e 133 sherpas) pela face norte. Na rota comum, pelo Nepal, foram 306 alpinistas, acompanhados de 321 sherpas dando suporte às expedições.

Memorial no trekking do Everest BC. – Foto: Ananya Bilimale/Unsplash

Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.