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Às vezes as coisas estão à nossa frente, mas nós não a enxergamos muito bem, ou até enxergamos, mas não vivemos. Essa era a realidade do Gabriel Tarso. Hoje, ele atua como fotógrafo e cinegrafista, especializado em montanhismo, mas teve um tempo em que a visão das montanhas era apenas o plano de fundo da sua vida.

Ele morava muito próximo à Serra Mantiqueira, na cidade de Cruzeiro, perto da divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Quando criança, a paisagem da Serra era a sua primeira visão ao abrir a janela do quarto. Mas, a experiência ficava ali. Até o dia em que ele subiu o Itaguaré. Aí tudo mudou.

Essa Memória de Montanha foi um divisor de águas na vida do Gabriel Tarso. Confira o que ele sentiu e como foi transformado por essa experiência na Mantiqueira:

“Falar de memórias da montanha é um assunto que se mistura com a minha essência mesmo, com a pessoa que eu me tornei desde que a montanha entrou na minha vida. Eu cresci em uma região muito privilegiada, cercada de montanhas, mas foi na minha juventude que eu tive o primeiro contato físico com a montanha. Antes disso eu tinha uma admiração muito grande. Eu cresci em Cruzeiro, uma cidade em São Paulo, perto da divisa com MG, vendo a Serra da Mantiqueira da janela do meu quarto.

A partir da minha primeira ascensão, que foi no Itaguaré, quando eu era bem mais novo, eu precisei re-significar todos os valores que até então eu tinha pra mim. Porque essa experiência foi tão intensa, tão forte, que eu me senti muito pequeno diante de toda aquela grandeza.

Enquanto registrava a corredora Fernanda Maciel no Aconcagua. | Foto: Gustavo Cherro / @gcherro

O Itaguaré tem a visão da cidade de Cruzeiro, que é onde eu vivia, e eu conseguia ver a cidade inteira lá de cima. Esse momento foi de mudança de valor, teve um significado na minha vida muito grande. A partir daí eu não tive muita alternativa a não ser continuar e sempre buscar mais. Hoje eu vivo disso, tenho a minha profissão totalmente ligada a esse espaço. Todo o tempo que eu tenho, eu volto pra Mantiqueira. Tenho sempre essa disposição de voltar ao que me fez mudar, que me fez uma nova pessoa.

Gabriel Tarso escalando a Pedra Baiana. | Foto: Edson Vandeira / @edsonvandeira

Eu tive a oportunidade de viver essa mesma sensação em outros lugares. Eu viajei o mundo inteiro através, principalmente, dessa exposição ao montanhismo. Eu conheci montanhas no Alasca, Antártica, Argentina, Chile, Europa, África, Ásia e muitas no Brasil também. Mas, quando eu falo de memória de montanha, eu penso nos momentos que eu precisei olhar para a minha própria vida. Ter uma condição em que você pode não estar presente mais no instante. São aqueles momentos em que você fala: Puts, se eu pisar errado aqui, pode ser que dê muito errado (risos), pode ser que não tenha volta. Esses momentos, principalmente, me proporcionam reflexões sobre a minha vida. São nessas horas que você relembra tudo o que passou, quais são as condições para você estar ali, as chances de voltar pra casa. Então, estar em perigo, estar em um ambiente hostil, provoca reflexões muito profundas, funcionam como uma meditação intensa e eu gosto muito, porque eu sou muito intenso nas minhas decisões, na minha forma de viver, então, estar na montanha me faz muito bem.” – Gabriel Tarso

Gabriel Tarso em mais um dos 7 Cumes. Registro feio no monte Elbrus, Rússia. | Foto: Arquio Pessoal

Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.