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Foto: Felipe Ho escalando o Delírio de Vodka V13 pelas lentes de Marco Venturini

O ano promete para o escalador Felipe Ho. Pouco antes da virada, ainda no último dia de 2017, ele conseguiu encadenar pela primeira vez na vida uma via 11ABr/8CFr. A conquista, no finalzinho do segundo tempo, coroou um ano excepcional, o confirmou entre os principais escaladores sul-americanos, mesmo com apenas 18 anos de idade, e deu um gás extra para buscar sonhos ainda mais altos.

Em entrevista à The North Face Brasil, ele falou sobre os resultados de 2017 e o que espera para este ano. E, pelo que vimos, se ele continuar no ritmo que está vindo, vai ser difícil alguém parar.

Vida dividida

Como nós já contamos na primeira entrevista que fizemos com o Felipe Ho (que pode ser lida aqui), o escalador não tem apenas as rochas e agarras como desafios. Ele tem que conciliar a vida de atleta, cheia de treinos e viagens, com os estudos na faculdade de Odontologia da USP. Por causa disso, todos os projetos são meticulosamente planejados para que nenhuma das áreas seja deixada para trás.

Na segunda metade de 2017 ele fez uma escolha arriscada, mas que parece ter sido totalmente certeira: trancar a faculdade por um semestre e se dedicar exclusivamente à escalada. Ter a cabeça focada apenas no esporte e mais tempo para treinar e tentar vias diferentes lhe rendeu um crescimento enorme, trouxe títulos e também recordes pessoais.

A via

Com a mente totalmente direcionada para o preparo físico e psicológico, Felipe conseguiu passar por uma temporada de imersão na escalada na Europa, com participação em campeonatos importantes na Itália e na Áustria. Lá no Velho Mundo, ele ainda teve a oportunidade de conhecer outro grande nome da escalada brasileira, Ricardo Schen, que, além de receber o jovem de braços abertos, sem nem conhece-lo pessoalmente, como Felipe gosta de destacar, ainda proporcionou treinos intensivos em seu próprio ginásio de escalada, o Monobloc, na Espanha.

O resultado de tanto empenho veio logo que chegou ao Brasil, em novembro, quando, de cara, Ho faturou o Campeonato Brasileiro na dificuldade Lead, superando nomes importantes do esporte como Cesar Grosso e Jean Ouriques.

Quando parecia que não tinha como ficar melhor, a lista de feitos só fez crescer. “Fui campeão brasileiro, fiz a primeira ascensão de um dos boulders mais difíceis de São Paulo, o ‘Delírio de Vodka V13’ (em Iperó), fui para a Gruta de Passa 20 e fiz a primeira repetição de duas vias até então sem repetição, a ‘Outra Face (10b) e Piercing de Caveira (10b)’”, contou o atleta. Mas, ele não estava disposto a parar por aí.

Foto: Isabelle de Aguiar
Foto: Isabelle de Aguiar

Trabalhar até nas férias

Depois de uma temporada intensa, Felipe resolveu fazer uma viagem para relaxar. Mas, férias é uma palavra que costuma ter um sentido diferente para os escaladores. Ao invés de ficar relaxando na piscina ou de pernas para o ar em uma rede, eles normalmente resolvem descansar fazendo o que mais gostam: escalando.

O destino escolhido foi a Serra do Cipó. “Aproveitei para escalar tudo que queria e me afastar um pouco dos projetos, até porque eram as minhas férias (tanto como atleta como estudante)”, explicou Felipe. Como o que não falta por lá são boas vias e muitos desafios, em apenas 15 dias de viagem e sem pressão, ele colecionou mais memórias e marcou seu nome na história. Foram mais de 12 vias realizadas e um dos maiores feitos da carreira, quando conquistou a Intocáveis, uma via de dificuldade 11Abr/8CFr.

Com esta ascensão bem sucedida, Felipe Ho entrou para o grupo seleto de sul-americanos que já escalou a graduação internacional 8c. “Acho que por eu ter dado essa afastada, consegui aliviar um pouco a pressão de escalar aquela via. Para mim, foi uma realização! Ter o reconhecimento pessoal de que estou no caminho certo. Com certeza foi um dos frutos que colhi após ter abdicado da universidade e me dedicado 100% a ser atleta”, comemorou.

O que vem por aí?

Quando perguntamos o que ele sentiu ao finalizar “Intocáveis”, Felipe foi enfático: “Uma sensação de missão cumprida, me senti como se estivesse enxergando mais alto, como se a vista agora fosse diferente.”

Agora que consegue enxergar mais longe, o escalador já tem os próximos desafios bem desenhados. Neste semestre ele volta à faculdade, treina em São Paulo, para que na segunda metade do ano possa se dedicar inteiramente aos campeonatos e desafios internacionais visando o máximo de performance por uma vaga olímpica em Tóquio 2020.

Descanso é uma palavra que ele nem citou na conversa. Então, dá pra ter certeza de que muito trabalho duro vem por aí e, se tudo sair como ele planeja, este será só começo de uma trajetória que ainda promete muitas outras conquistas e vistas e vias cada vez mais altas.


Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.