Inspiração

O que acontece quando você desconecta? Foi essa a pergunta que o pesquisador norte-americano Cal Newport quis responder quando propôs um experimento a todas as pessoas que faziam parte da sua rede de contatos. O resultado da experiência foi que quando as pessoas deixam o celular de lado, elas acabam tendo mais qualidade de vida e podem dedicar muito mais tempo a outras atividades prazerosas. Por mais óbvio que isso pareça, a quantidade de tempo perdida no celular é imperceptível para muitas pessoas.

Em um artigo publicado na Revista Outside, nos EUA, o professor explicou que o estudo foi inspirado na vida de pessoas que trocam a loucura das grandes cidades por uma vida mais calma no campo ou na praia. É muito comum que pessoas que passam por essa transição relatem ter mais tempo livre para se dedicar aos esportes, passar tempo na natureza ou simplesmente fazer nada, hábitos considerados quase impossíveis por qualquer pessoa que se divide entre horas de trabalho e trânsito nas metrópoles.

Pensando em uma solução mais simples, que não implicasse troca radical de endereço ou mudanças drásticas no trabalho, o pesquisador, que também é professor de Ciência da Computação, decidiu experimentar o que aconteceria com as pessoas se elas simplesmente se desconectassem de seus dispositivos eletrônicos por um tempo.

Para realizar o experimento, ele disparou um e-mail para toda a sua base de contatos, convidando as pessoas a passarem um período de 30 dias totalmente desconectadas de suas “tecnologias pessoais opcionais”. Isso significava que os participantes deveriam deixar de acessar redes sociais, vídeo games, programas de streaming (como o Netflix), usar a internet para fins pessoais e não acompanhar as notícias on-line também. A ideia era realmente colocar essas pessoas em situação de total abstinência tecnológica.

Como a tarefa não era simples, Cal acreditava que poucas pessoas retornariam com uma resposta positiva à sua solicitação. Para sua surpresa, ele recebeu 1.600 pessoas interessadas em participar do experimento e o resultado foi muito melhor do que eles esperavam.

Segundo Cal, outro fator interessante, além da enorme adesão, foi a diversidade do grupo, com estudantes, pais, executivos que vivem sobrecarregados de trabalho e aposentados de várias partes do mundo. O fator que todos tinham em comum era a insatisfação com o tempo de vida em que passam em frente a uma tela.

O combinado foi que os participantes lhe enviariam relatórios constantemente descrevendo como estavam se sentindo com a experiência. Em geral, segundo o pesquisador, foi necessário uma semana para que as pessoas começassem a se acostumar com a ideia de não consultar o celular várias vezes ao dia. Depois desse período, os dispositivos móveis já nem pareciam mais fazer tanta falta. Em compensação, esse tempo que antes era perdido no celular, se transformou em uma coisa muito mais importante: liberdade.

Os relatos eram de que as pessoas ficavam abismadas com a quantidade de tempo que passaram a ter quando deixaram de dar atenção aos aparatos tecnológicos. De início, os participantes ficavam até perdidos com tanto tempo livre, mas depois começaram a trocar a conexão digital por conexões pessoais, passando tempo com a família, dedicando-se mais à leitura, e, principalmente, realizando atividades ao ar livre, como passeios de bicicleta, caminhadas e muito mais.

Como aplicar isso?

Cal explica que é muito importante associar essa redução tecnológica e atividades planejadas, para que a mudança tenha realmente um propósito e se torne uma transformação real de hábitos. O pesquisador sugere que a pessoa separe um período do dia em que ficará totalmente desconectado do computador ou celular, livre das distrações digitais, e já planeje alternativas mais eficientes para usar esse tempo. Uma das melhores opções é aproveitar esse tempo para alcançar objetivos de vida, como praticar mais esportes, fazer meditação, passar tempo ao ar livre, caminhar no parque, entre outras atividades que reflitam em outros aspectos da vida. Para ficar ainda melhor, ele sugere que essas ações incluam desafios pessoais, para que as novas metas funcionem como um incentivo extra para manter os novos hábitos.

Quer saber mais sobre esse assunto? Cal Newport se aprofunda neste assunto em seu livro: Minimalismo Digital – Escolhendo uma vida focada em um mundo barulhento.  


Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.