Há pessoas que nascem para fazer história, Jaqueline Mourão é uma delas. A atleta, com 43 anos de idade, acumula marcos em sua trajetória esportiva. São seis participações em Olímpiadas: Atenas 2004 (ciclismo), Turim 2006 (ski cross country), Pequim 2008 (ciclismo), Vancouver 2010 (ski cross country), Sochi 2014 (ski cross country e biathlon) e PyeongChang 2018 (ski cross country).
Nos períodos fora da neve, Jaqueline brilha no Mountain Bike – modalidade na qual conquistou a sua primeira medalha de bronze em Jogos Pan Americanos, neste ano, em Lima, Peru.
Já no universo dos esportes de neve, Jaque Mourão não apenas acumula recordes, como também é a melhor atleta que o Brasil já teve no Ski Cross Country. A atleta conta que seu primeiro contato com a modalidade foi totalmente inesperado, durante uma tempestade de neve em Quebec em maio de 2005.
“Eu estava competindo Mountain Bike na América do Norte, cheguei em Quebec e caiu uma tempestade de neve. Ficou tudo branco, não podia pedalar. Fiquei meio desesperada porque tinha que treinar na bike e finalmente meu marido falou: ‘olha, essa neve vai embora daqui dois dias, mas se você quiser treinar eu posso te levar para fazer Cross Country Ski’”, relembra.
Logo de cara, Jaque se apaixonou pela modalidade. Para ela, todo o contato com a natureza que ocorre durante a prática esportiva foi o que mais a encantou. “O silêncio, a paisagem… Aquilo tudo mexeu comigo e eu achei muito interessante. E a partir daí eu fui descobrir que existe a CBDN – Confederação Brasileira de Desportos na Neve. Mandei um e-mail e o Stefano [então presidente da Confederação] me respondeu. E foi assim que tudo começou”, conta.
A trajetória de Jaque nos esportes de inverno
Desde a tempestade de neve que encarou em 2005, muita coisa mudou na relação de Jaque com o Ski Cross Country. Dona de todos os recordes brasileiros na modalidade, a atleta acumula resultados históricos. Neste ano, por exemplo, ela conquistou uma medalha de prata em prova qualificatória do Mundial de Seefeld.
Além dos resultados expressivos, Jaqueline acumula histórias das suas quatro participações em Jogos de Inverno. “Me sinto muito honrada em poder defender a bandeira brasileira. Claro que cada Olimpíada teve sua história. Eu falo que eu tenho muita história para contar, mas que tudo valeu a pena. Às vezes, as pessoas veem só os resultados finais, as conquistas. Mas tem muita luta, muita dedicação, 100% foco nisso, muitos anos de treinamento”, diz.
Segundo a atleta, foram muitas as dificuldades ao longo do processo de ser uma “atleta esquiadora em um país que não tem neve”. Porém, ela conclui que “valeu a pena seguir os sonhos, correr atrás e conquistar cada resultado. É isso, vale a pena sonhar, independente das barreiras que vêm pela frente”.
A vocação para o esporte: vida de poliatleta
Desde 2008, o esporte de neve é a prioridade na carreira de Jaque Mourão. Entretanto, como mostra o resultado dos Jogos Pan Americanos, ela transita muito bem entre os seus esportes. A atleta ressalva a importância de fazer bem o período de transição para conciliar diferentes modalidades em alto rendimento.
Além do MTB e Cross Country, a atleta possui passagens pela Natação, Ginástica Artística, Atletismo e Biathlon de Inverno. Vale ressaltar que, no Biathlon, Jaque também fez história, sendo a primeira e única atleta a representar o Brasil em Jogos de Inverno.
Profissão: mãe-atleta!
Além de ser a atleta mais olímpica do Brasil, Jaque Mourão é mãe de dois filhos, Ian e Jade. Conciliar a maternidade com a sua carreira esportiva já é parte da rotina e ela afirma que é preciso ter muito jogo de cintura e planejamento para dar conta. Entretanto, ao contrário do que o senso comum pode esperar, para ela, o nascimento dos seus filhos colaborou ainda mais em sua trajetória como atleta:
“Eles me apoiam e eu fico muito feliz de chegar em casa e poder também focar em outra coisa. Eles preencheram minha vida com muita alegria. Preencher a minha vida de uma maneira geral foi muito bom até mesmo para a minha carreira, porque eu era uma atleta muito focada, muito bitolada. Eles trouxeram essa alegria, essa leveza, esse outro lado que me faz esquecer de tudo e agradecer a Deus que eles estão na minha vida”, conclui.
Texto escrito por Shayene Metri para a Confederação Brasileira de Desportos na Neve.