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Nesta semana acontece uma das provas de montanha mais populares e desejadas da América do Sul: o El Cruce. São 100 km de trilhas cortando a Cordilheira dos Andes, entre o Chile e a Argentina, passando por cenários incríveis que parecer ter sido desenhados à mão. A edição de 2018 começa nesta quinta-feira (6) e se estende até segunda-feira (10), com disputas nas categorias: iniciante, avançado, grupos e individual.

Essa é a 17ª edição da prova e em cada ano os participantes se depararam com um cenário diferente, principalmente por causa dos desafios climáticos. Correr nos Andes é uma verdadeira “roleta russa”. Teve ano em que os corredores fizeram a prova com temperatura média de 20ºC, enquanto em outros eventos o El Cruce foi marcado por muita neve ou chuva. Para dar conta do que pode acontecer, os participantes têm que ir preparados para tudo.

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Vista da prova. – Foto: Cicero Barreto/@cicao_paunocat

Diferente do que acontece no UTMB, por exemplo, os 100 km do El Cruce não são percorridos de forma “non-stop”. A corrida é dividida em três dias e em cada um deles o percurso varia de 30 a 33,5 km de distância, com muita variação na altimetria.

Ao fim de cada dia, os participantes precisam alcançar os pontos de corte dentro dos limites de tempo pré-estipulados. Todos os dias são finalizados em um acampamento, em que os corredores dormem em barracas. A ultramaratonista de montanha, Rosalia Camargo, uma das vencedoras do El Cruce na edição de 2012, explica quais são os pontos mais difíceis dessa prova: “A maior dificuldade é o fato de serem três dias de prova. Tem que saber dosar a força para aguentar todos os dias. Outra dificuldade, para alguns, é dormir na barraca”. O também corredor e treinador Marcelo Sinoca prepara diversos atletas para essa prova e reforça os pontos destacados por Rosalia. Segundo ele, se o atleta não souber dosar o esforço, ele pode comprometer todo o resultado. “Se o corredor acabar forçando demais no primeiro dia, com certeza ele terá problemas no último dia”, explicou. Saber controlar o desgaste é um grande desafio, principalmente, para os corredores menos experientes.

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José Virginio disputou o El Cruce em 2012, 2013 e 2014. – Foto: Arquivo Pessoal

Se o acampamento por um lado é desgastante, por outro é também um dos momentos mais legais e de confraternização. “A prova leva os atletas a três dias de imersão na natureza. O contato entre os competidores no acampamento também é muito bacana, principalmente na hora das refeições”, relembra Rosalia. Sinoca concorda com ela. “O ponto mais legal dessa prova, sem dúvidas, é o fato de que quando você faz a inscrição, você está comprando três dias de aventuras. Porque o evento envolve trilhas maravilhosas, cada ano em um lugar diferente e tudo isso dormindo em barracas no meio da montanha. Essa é a cereja do bolo do Cruce de Los Andes.”

Em geral, Rosalia avalia que o maior desafio da prova é conseguir trabalhar o corpo e a mente para aguentar os três dias e “se adaptar às condições diferentes da prova em relação à alimentação, conforto e logística”.

José Virginio também figura entre os atletas brasileiros que já participaram do El Cruce e conseguiram resultados importantes. Ele competiu em 2012, 2013 e 2014 e foi vice-campeão em todas as oportunidades. Pra ele, a prova é uma grande festa: “Trata-se de um evento em que os corredores de trilhas se encontram e se reúnem para uma grande festa. Mesmo com a diferença das línguas, lá todos falam a língua das montanhas”.

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Atletas seguindo para um dos acampamentos do El Cruce. – Foto: Rosalia Camargo

Perda de espaço para outras provas

O El Cruce já foi um ícone em trail run na América do Sul. Apesar de ainda ser uma prova desejada por muitos atletas, ela não tem mais tanto espaço no cenário internacional. Outras provas semelhantes são realizadas no Chile e na Argentina e, por causa disso, muitos corredores acabaram migrando para desafios diferentes.

Rosalia disputou as edições de 2012 e 2013 e diz que hoje tem preferência por outras provas, como o Endurance Challenge do Chile e a Patagônia Run. Para o ano que vem ela já visualiza uma terceira opção, que, aliás, se tornou o seu próximo sonho: UTMB Ushuaia. Essa será a primeira edição do evento, que traz o já consagrado formato UTMB para o “fim do mundo”. A prova acontecerá entre os dias 5 e 7 de abril e deve atrair corredores de todo o mundo.

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Escrito por

Thaís Teisen

Jornalista, formada pela FIAM-FAAM, com especialização em Mídias Digitais pela Universidade Metodista de São Paulo. É apaixonada por esportes, natureza, música e faz parte do time The North Face de Conteúdo Digital.