Inspiração

 Já ouviram falar em Aloha Wanderwell? No auge dos seus 16 anos ela decidiu explorar o planeta e tornou-se celebridade mundial ao viajar por 80 países. E em Andrew Irvine e George Mallory? Foram os primeiros alpinistas que resolveram subir até o topo do Monte Everest pela face norte. Ah sim, tem Gertrude Ederle também, que resolveu atravessar a nado o canal da Mancha, o mais perigoso e difícil da época,  tornando-se campeã olímpica e a mais ágil nadadora do mundo.

E, o que todas essas pessoas tem em comum? Todas elas realizaram esses feitos logo após a quarentena da gripe espanhola, em 1920. Sem citar que no mesmo ano começavam as expedições de moutain bike de altas distâncias, em que ciclistas sem experiências decidiam atravessar vários países pedalando.

Mas será que teria sido assim se a década não tivesse sido sucessora desta terrível pandemia que matou milhões de pessoas? Será mesmo uma simples coicidência?

 Não acho. Naquela época, quando as pessoas começaram a sair de casa, desencadeou-se sentimentos de desprendimento e uma surpreendente alegria. Assim, o prazer marcou momentos que poderiam ser “os últimos” e modificou as atitudes diante da morte e da própria vida. Havia uma urgência em viver, em descobrir.

Acredito que o mesmo acontecerá quando pudermos sair por aí, explorando como antigamente. Quer dizer, como antigamente não será mais. Acho que aquele modelo do aventureiro que seguia a jornada de sonhar – planejar – experimentar muda e pula um degrau. O planejamento neste caso se torna mais ousado e curto, e as pessoas perdem o medo de trocar um investimento de consumo habitual de um mundo capitalista (trocar o modelo de carro todo ano, reformar a casa etc) para viver uma aventura. O inexplorado, intocado, onde nem todos conseguem chegar, longe da massa e com capacidade de partilhar experiências únicas.

Serão aventureiros mais imediatistas em busca de sentirem-se emocionalmente ligados ao destino e, neste caso, o valor para turismo de paisagem e natureza vai aumentar, óbvio.

Podemos levar como exemplo o que está rolando na China agora, que depois de cerca de 2 meses de confinamento por conta desta pandemia louca já tem o surto controlado e reabriu seus parques nacionais. O que aconteceu? Rapidamente teve que limitar a entrada em praticamente todos eles, com bilhetes vendidos para o ano todo porque as pessoas se viram enlouquecidas com aquela mesma “fome” de sair, viajar, explorar e viver. Enfim, por enquanto aguardamos a nossa vez. Para nós que vivemos o lema do “Never Stop Exploring” está sofrido todo este tempo longe da natureza, das trilhas e das montanhas. Mas vejo um futuro próximo. E nele, estaremos por aí explorando.


Escrito por

Flavia Vitorino

Turismóloga, jornalista e mãe de 2 meninas. Envolvida no meio da aventura desde 2007, Flávia escreve sobre viagens de natureza e tem como objetivo principal mostrar que aventura é algo que está ao alcance de todos.